CAPÍTULO 4

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MARIANA

Chegou o dia do evento do Passaporte FC, e eu acho que o Pietro não dormiu direito. Digo isso porque pela primeira vez ele acordou sozinho, sem eu precisar chamá-lo.

É raro, raríssimo. A única explicação é o fato dele amar o argentino.

– Mamãe, posso ir com a camisa do São Paulo pra escola hoje? – ele pergunta.

– Não, meu amor. Para a escola você vai com o uniforme. Camisa do São Paulo só a noite. – eu falo enquanto dou banho nele.

– E por favor, não fique conversando na aula, se você conversar eu vou cancelar o evento. – falo séria.

– Eu vou ficar calado, prometo. – ele fala e eu seguro o riso.

– Muito bem. – falo.

Deus me perdoe por estar chantageando meu filho. Tadinho. Enquanto existir esse "encontro com o ídolo", vou conseguir qualquer coisa com meu Pietro.

Fomos tomar café e ele só falava de encontrar o Calleri. Quero ver se ele vai ficar comportado na escola com essa empolgação toda.

– Mamãe, eu vou dá um abraço bem forte no Calleri. – ele diz.

– E vai, amor? – eu digo admirada.

– Sim. – ele responde.

– Tudo bem, filho. – digo.

Terminamos o café e seguimos para a escola.

Deixei o Pietro na escola, e ao nos despedirmos ele disse:

– Obrigada, mamãe, você é minha heroína.

E é nessas horas que meu coração erra até as batidas. Sei que hoje ele é a criança mais feliz do mundo.

– Boa aula, meu são paulino. Te amo. – falo dando um beijo nele.

Vou para o hospital enfrentar mais um dia de trabalho. A Tereza me passa os prontuários das mulheres que terei de atender hoje. Todos os dias aparecem casos que ainda me surpreendem.

Hoje mesmo tem uma jovem de 16 anos. Quando é com adolescente, eu procuro ser mais sensível ainda.

Ela me conta como tudo aconteceu e me diz que a gravidez é de risco, e está com medo de não resistir ou o bebê morrer.

Ainda bem que hoje não estou só, a psicóloga está fazendo atendimento também, então eu estou mais para acompanhar e ver que medidas devem ser tomadas para que ela sinta segurança ao dar a luz e garantir que tanto ela quanto o bebê fiquem bem.

O dia todo é assim, uma correria. Eu só tenho um tempinho de paz na hora do almoço. Enquanto almoço, Luíza me liga.

– Oi, Lu. Tudo bem? – pergunto.

– Sim. É porque tem um mocinho aqui ansioso, perguntando se você demora muito pra chegar. – ela fala.

– Diga a ele que eu vou chegar no horário de sempre. – falo.

–E você não vai nem arrumar os cabelos e tal? – minha irmã pergunta.

– Não, vou só tomar banho e vestir a camisa do São Paulo. Sem dinheiro pra salão. – falo.

– Eu faço seu cabelo e make. Vai que você encontra um são paulino solteiro, bonitão, nunca se sabe. – ela fala.

– Luiza, eu estou indo levar meu filho pra conhecer o ídolo dele, e não para um encontro romântico. Não viaja. – falo.

– Nunca se sabe, maninha, quando vamos encontrar “um certo alguém”. – ela diz.

– Eu preciso almoçar, e acho que você também. Esse delírio deve ser fome. – falo e desligo.

UM CERTO ALGUÉM - Jonathan Calleri Onde histórias criam vida. Descubra agora