CAPÍTULO 23

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MARIANA

Não estava acreditando no que eu tinha feito. Não estou falando do beijo, o beijo eu queria muito, só não esperava que fosse acontecer, e que ele também queria. Me surpreendeu ele ter me beijado, tinha tanta paz nesse beijo, enquanto nossas bocas estavam unidas eu só consegui pensar em como ele é uma pessoa incrível e que eu sinto muito que nossas vidas sejam tão diferentes.

Estou falando de ter afastado o Pietro dele, ou melhor, ele do Pietro. Agora vou ter que lidar com o menino perguntando por ele todo tempo. Tenho que começar a pensar nas desculpas para não irmos mais ao Morumbi.

Sinto muito pelo meu pequeno, mas assim vai ser melhor pra ele. Sinto também pelo Jonathan, ele não merece isso, mas no futuro, quando ele tiver os filhos dele, vai me agradecer e principalmente, vai me entender. Entender que por um filho a gente faz coisas que muitas vezes outras pessoas julgam erradas.

Entrei no quarto pra dormir, acabou que ninguém jantou. Eu não senti fome, sentia apenas um embrulho no estômago provocado por uma mistura de sensações. Mesmo que minha razão estivesse dizendo que isso era o certo a se fazer, eu não podia deixar de sentir tristeza.

O sono demorou muito pra chegar, fiquei lembrando da conversa com o jogador, do que ele disse, que nossos caminhos não se cruzaram a toa. Será? Mas eu sou muito pé no chão e não vou me iludir com isso. Quando a gente tem um trauma grande na vida, começamos a prestar atenção em tudo, todos os sinais... E começamos a desconfiar de tudo e todos, é como se o sinal de alerta estivesse sempre ligado.

Depois de muitas tentativas de pegar no sono, finalmente consegui dormir. Ainda bem que amanhã é sábado, e eu vou me ocupar o dia todo fazendo faxina.

SÁBADO

Acordei bem tarde, ainda bem, sinal que tinha dormido muito. Levantei e tomei café, como tinha muita coisa que eu comprei e o Calleri trouxe outras, não precisei fazer nada. As compras dele me fizeram lembrar de tudo que eu queria esquecer.

A gentileza dele em trazer as compras para jantar com a gente, mostra o que ele sempre foi desde o início: um verdadeiro cavalheiro.

Saí dos meus pensamentos e fui me ocupar com a bagunça da casa.
Limpei a cozinha, para mim a parte mais chata. Ter que tirar coisa por coisa, lavar e depois devolver para o local.

Umas 2 horas depois o Pietro acordou e eu me preparei para os comentários e perguntas sobre o Calleri.

– Mamãe, o Calleri vem hoje de novo? – ele pergunta enquanto toma café.

– Não, meu amor. – respondo.

– Por quê? – ele questiona.

– Porque ele trabalha. – falo.

– Mas hoje não tem jogo do São Paulo. – Pietro argumenta.

– Mas amanhã tem e ele precisa se preparar para isso. – respondo.

– Gostei muito dele ter vindo. – ele diz e eu fico em silêncio.

Ele termina o café sem fazer mais perguntas e vai assistir TV enquanto eu limpo o nosso quarto. Ao tirar as cobertas, eu me lembro do Calleri ter entrado aqui para colocar o Pietro para dormir, e sorrio involuntariamente imaginando a cena. Eu tento me desfazer desses sentimentos para não sentir mais culpa. Culpa por fazer o que é certo.

Limpei o quarto todo, abri a janela para entrar um sol, troquei o lençol da cama e aproveitei para colocar a roupa suja para bater na máquina.
Depois, fui para os outros cômodos do apartamento e repeti o mesmo processo.

A faxina terminou já na parte da tarde, pois eu precisei parar para fazer o almoço do Pietro, e isso me atrasou um pouco.

Depois do almoço, ele brincou um pouco e acabou dormindo no sofá. Eu não quis acordá-lo, então o deixei dormir lá mesmo.

UM CERTO ALGUÉM - Jonathan Calleri Onde histórias criam vida. Descubra agora