MARIANA
DIAS DEPOIS
Nos últimos dias o Pietro me encheu de perguntas sobre o sumiço do Calleri, e eu fui dizendo as mesmas desculpas de sempre.
Percebi que ele está cabisbaixo, deve estar sentindo falta do jogador.
Eu já não tinha mais criatividade para justificar o fato do Calleri nunca mais ter falado com ele.
Não tivemos mais nenhum contato, nem mesmo em rede social. Ele realmente está cumprindo com o que prometeu, se afastou de nós.
Mesmo preocupada com meu filho, eu tenho que trabalhar. Estou no hospital fazendo relatórios e mais relatórios. É uma demanda enorme e eu só quero férias. Preciso de uns dias de descanso, preciso dar um pouco mais de atenção ao Pietro, principalmente agora, para ver se ele começa a esquecer o argentino.
Pedi a Luiza que me mandasse mensagem assim que ela o pegasse na escola, não sei, mas meu sexto sentido de mãe está dando um sinal de alerta, sinal de que algo de errado está acontecendo.
Quando deu meio-dia, eu fui direto para o restaurante almoçar. Não esperei a mensagem da Luiza, já liguei pra saber se estava tudo bem.
É o horário que ela está saindo da escola com ele.– Lu, aconteceu alguma coisa? Está tudo bem? – perguntei assim que ela atendeu.
– Estou indo pra casa, não posso falar agora. – ela diz e ouço barulhos da rua.
Sim, aconteceu alguma coisa. Eu já fiquei preocupada. Se não tivesse acontecido, ela diria logo.
Fiquei esperando ela retornar, comecei a bater os dedos na mesa, a olhar toda hora para a tela do celular, sinais de nervosismo.
Assim que ela chegou em casa me ligou para contar o que aconteceu.
– Pietro estava chorando muito na saída. Quando me viu, correu para me abraçar e começou a chorar mais ainda. – ela diz.
– O que aconteceu, Luíza? – pergunto.
– Ele disse que os coleguinhas falaram que o Calleri nunca mais foi buscá-lo e não foi porque não gosta mais dele. Você sabe, tem criança que mesmo com pouca idade, é terrível. – ela fala.
– Meu Deus, imagino como ele está. Cuida dele, por favor. De noite eu vou tentar conversar com ele. – falo e encerro a ligação.
Não sei o que acontece com os colegas do Pietro, por que eles fazem isso... Não é a primeira vez que ele escuta esses comentários, e o agravante é que são crianças da idade do meu filho. Como podem fazer comentários tão ácidos assim?
Vai ser o jeito eu ir na escola ter uma conversa com a diretora.
Almoço, quer dizer, tento. A comida não desce, não tenho apetite. Voltei para o segundo turno do trabalho e tentei focar nas coisas que eu tenho para fazer, mas meu filho não saiu da minha mente.
Quando deu 16h eu respirei aliviada pois é hora de voltar para casa. Enfrentei o trânsito caótico de São Paulo, mas logo estou no prédio onde moro. Entrei em casa e ele estava assistindo TV.
– Oi, mamãe. Que bom que você chegou. Eu senti muito a sua falta. - ele diz.
– Oi, meu príncipe. Também senti muito a sua falta. Como foi na escola? – falo me sentando próxima dele.
– Ruim. – ele diz na lata.
Pietro sempre foi muito transparente, não consegue esconder nada, nem quando apronta.
– Por quê? – pergunto.
– Meus coleguinhas falaram que o Calleri não vai mais me buscar e é porque ele não gosta mais de mim. – ele fala com tristeza.
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UM CERTO ALGUÉM - Jonathan Calleri
FanfictionQuando um certo alguém desperta o sentimento, é melhor não resistir e se entregar.