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Sentir na pele o tremor de Enid sobressaindo nas minhas próprias veias, era como estar se afogando. Onde estava no fundo de um lago e tentava nadar, mas algo preso nos meus pés impedia tal ato.

Era apenas esperar o momento certo para morrer, e vendo ela naquele estado, trêmula e vomitando. Causava a sensação de morte no meu ser.

E junto daquela sensação, estava a sensação de ódio, ódio por imaginar o que havia acontecido para ela estar daquele jeito. Ódio por não conseguir fazer nada naquele momento para saber de fato o que estava acontecendo, mas já imaginando diversas possibilidades do que aconteceu.

Ela respirou fundo e cuspiu, Enid já sofria com falta de vitamina D por toda uma vida, e estar pálida, a fazia quase sumir em meio as roupas. Era quase um fantasma da sua alma a estar na minha frente.

Lhe segurou o braço, na qual sua mão buscou a minha em apoio para se colocar de pé. Segurou sua cintura quando viu seu corpo mole como uma gelatina. Não estava gostando nada daquilo.

Lilith abriu espaço para a mesma se sentar no banco do passageiro quando nos aproximamos do carro. A menina estava semelhante a mim mesma, mas sua expressividade conseguia ser muito maior.

— Vou passar em algum lugar para comprar uma água para você.

— Não temos tempo para isso, precisamos ir logo até Celline — Enid fechou os olhos com força, para talvez reter a tontura que estava sentindo — Eu só quero mesmo é algo para tirar esse gosto de vômito da minha boca.

— Eu acho que posso ajudar nisso — A adolescente do meu lado caçou algo na própria bolsa, nos fazendo encará-la quando retirou um chiclete de menta de um dos bolsos e o estendeu a Enid — Aqui.

— Obrigada, meu amor.

— Aconteceu alguma coisa?

Enid a encarou e sorriu, negando sutilmente enquanto colocava o chiclete na boca, apreciando seu gosto. Anos de convivência para identificar gestos falsos, anos de convivência para saber quando era a psicóloga Langford falando e não a verdadeira Enid.

— Não, eu só tive um pico de estresse — Ela estava poupando Lilith, o que só me deixava mais preocupada ainda com minhas suspeitas — Acontece com todos.

— Tem certeza?

— Claro, meu amor, não precisa se preocupar.

Lilith era desconfiada, assim como eu, e por mais que quisesse acreditar em Enid, ela sabia que tinha coisa acontecendo. Sua preocupação com a loba era tremenda e isso resplandecia no seu olhar.

Respirei fundo e tentei controlar meus nervos, escutar o conselho de Ortega nunca foi tão difícil na vida.

— Melhor irmos logo — Abriu a porta traseira para a garota — Deixe os vidros fechados.

Ela concordou e adentrou o carro, fechou ambas as portas e voltou para o lado do motorista.

Sentiu a atmosfera tensa o caminho todo, o relógio no painel estava prestes a dar sete horas quando começou a se aproximar da residência da garçonete.

— Estaciona na outra rua — Enid quebrou aquele silêncio maçante — Eles conhecem seu carro.

Concordei e segui o seu direcionamento, estacionando entre dois carros embaixo de uma árvore.

O pico de adrenalina por não saber o que esperar era algo que a antiga Wednesday amava, mas que a atual estava odiando.

Acionou o alarme quando as duas figuras se portaram do meu lado, Enid abraçava Lilith pelos ombros em uma proteção absurda. E a menina não parecia se incomodar com aquilo, já que tinha a cabeça repousada em seu ombro enquanto andávamos.

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