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🌻

Já passou noites em claras em Montclair, noites tão perturbadoras que o sono não vinha por conta da angústia. Mas parece que não havia comparação com a que estava vivendo.

Desde a ida da esposa, precisou se controlar para não usar o dom para ver se ela estava bem. Confiava nela, mas o lobo alvoroçado me recordava que ela era o amor da minha vida e que sempre poderia precisar da minha proteção, mesmo quando não necessitava.

Se mexeu tanto na cama que não duvidava de um buraco se abrir no colchão. Tentou agarrar o seu travesseiro, fechando os olhos e fingindo que ela estava ali, mas a angústia pareceu piorar cada vez mais.

Foi por isso que saiu do quarto, onde seu cheiro estava por toda parte e foi até o quarto do filho. Uma certa calma passou pelo peito ao vê-lo dormindo abraçado com o pequeno urso de pelúcia que era seu favorito desde bebê.

Fechou a porta e foi com cautela até a cama dele, onde Simba tinha a mesma mania que Brutus de ficar como um verdadeiro cão de guarda.

O cachorro levantou as orelhas na minha direção, que pedi silencio ao colocar o dedo indicador sobre os lábios. Não queria acordar o filho, mas ele abriu os olhos quando sentiu minha presença ao seu lado.

— Mãe? — Seus olhos bêbados de sono me olharam.

— Oi, meu amor — Acariciou seu rosto — Está tudo bem, pode voltar a dormir.

— Certeza?

Sua preocupação fez um sorriso sincero brotar em meus lábios. Era como se ele quisesse fazer o papel do homem da casa e me proteger de qualquer mal, mesmo que só fosse uma criança.

— Absoluta.

E ele se permitiu deitar, mas dessa vez abraçado ao meu corpo, e era somente daquilo que necessitava para acalmar um pouco o coração que batia rápido.

O contato com o filho, que tinha muito de Wednesday, tanto quanto Lilith. Mas a diferença de ambos, era que eu não poderia esconder minha preocupação da adolescente.

Não foi até seu quarto porque a sobrinha já estava mal e Lilith era seu consolo no momento. Não invadiria aquela dinâmica pura para lhe trazer angústia em pleno seu aniversário.

Colocou o nariz no cabelo do filho e inspirou seu perfume, xampu de camomila, um truque para acalmar um bebê que aprendeu com a sogra. O engraçado é que o filho tinha oito anos, mas ainda usava o mesmo xampu.

Se pegou pensando se aquele não era o motivo dele ser tão calmo, a essência de camomila que colocou no seu xampu a vida toda. Não soube a resposta exata, só soube que acabou pegando no sono abraçada a ele, porque acabou se acalmando e se permitiu descansar ao menos um pouco.

Sentiu uma leve carícia no rosto, tão suave como uma pena, por um momento achou que era o filho. Mas quando respirou fundo e sentiu o perfume que estava fugindo no meio da madrugada, abriu os olhos no mesmo instante.

O tom escuro das suas íris pareciam mais intensos do que o normal, diria que mais brilhantes ainda. E algo resplandecia deles ao me olhar, a verdadeira bondade e amor.

— Wed! — Nem sabia que estava prendendo a respiração, só foi perceber ao sentir o alívio com sua presença.

— Estou aqui.

Ela me deu um sorriso, percebeu que ela já tinha tomado banho e estava com vestimentas novas, onde seu cabelo voltou a cair sobre os ombros.

— Que horas são?

Estava sussurrando, por mais que Williams estivesse no décimo quinto sono.

— Ainda é cedo — Ela ressaltou — Bem cedo.

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