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Era quase irreal acreditar que o fim estava próximo, na vida as coisas nunca foram tão fáceis. Mas talvez pudesse se permitir a sensação de felicidade naquele momento.

Tinham de fato impedido uma tragédia de acontecer, ou melhor, Enid havia impedido. Quando a viu correndo e deixando todos para trás, o medo foi gritante, todo tipo de coisa passou na cabeça com ela indo sozinha enfrentar aquele desgraçado, sequestro, morte. Tudo do mais absurdo.

E só agora com ela no carro em segurança, conseguiu respirar tranquilamente, mas também só agora conseguiu sentir raiva do perigo que ela havia corrido. Perigo esse que acabou lhe afetando, já que sua calça estava machada de sangue.

Quando estacionou em frente a mansão, deixou com que todas as visitas fossem na frente. A luz da cozinha nos indicava que a mãe estava a espera, e pelo seu olhar encontrando o meu pela janela, soube... Ela sabia que aquela situação iria acontecer.

Enid me olhou e entendeu através do meu olhar, minha fúria. Dando uma ordem para Ortega de entrar com os outros, o que a cópia não desobedeceu.

— Hora da zona de segurança? — Ela citou nosso acordo.

— Não tenha dúvidas disso — Sua careta não foi de dor, mas de preocupação.

— Vamos para o cemitério, assim você já separa uma cova para me enterrar.

Subimos a pequena colina que dava para o cemitério familiar. E quando notamos estar longe o suficiente de qualquer olhar curioso, conseguimos em fim nos permitir um momento a sós.

— Vai, pode me bater — Ela ergueu as mãos e fechou os olhos — Eu mereço.

De fato, a raiva me fazia ter aquela pequena vontade, a vontade avassaladora de lhe estapear até não sobrar mais nada.

Mas não conseguiu fazer aquilo, o que fez foi puxar ela para perto e lhe agarrar, beijando seus lábios como se aquele fosse o último contato que teria na vida.

Enid não se importou se sua perna estava ferida, não se importou se iria se machucar ao me levantar e me abraçar o corpo, onde minhas pernas enlaçaram sua cintura.

Ela não se importou com nada, fazendo com que eu também não me importasse. Beijou seus lábios demoradamente antes de lhe abraçar e esconder o rosto no seu pescoço, sentindo sua pele quente e seu perfume que me levava aos céus.

— Eu odeio você — Falou com pesar — Odeio sua teimosia e a forma como sempre faz meu coração entrar em parada cardíaca.

Ela me apertou mais em seus braços, e amou sua atitude de não me largar.

— Eu te odeio com todas as minhas forças, Enid, odeio tanto que amo você — Tomou coragem de lhe encarar o rosto, onde seus olhos azuis estavam marejados — Eu te amo com cada oxigênio do meu corpo, e senti eles faltarem quando você correu em direção ao perigo hoje.

— Perdoe minha atitude, Wed — Seus lábios tocaram minha testa — Foi a adrenalina do momento.

— Eu sei que queria dar um fim nisso, mas tudo poderia ter terminado diferente se o Hoffman não aparecesse a tempo — Ela afirmou e minha voz embargou — Você poderia ter sofrido muito mais do que um simples corte na perna.

— Eu sei, eu sei disso — A olhou com seriedade — Mas se não fosse isso, ele teria escapado.

Teria que concordar com ela, mas uma dúvida cruel ainda pairava.

— Foi tudo muito fácil, não estou acostumada com isso — Sempre teria a pulga atrás da orelha — Ele é inteligente, como cometeria um vacilo desses?

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