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Como tudo que é bom dura pouco, o amanhecer chegou rápido e com ele a realidade e as obrigações que teria.

Um desejo absurdo de permanecer naquela residência estava no peito, tinha passado horas maravilhosas nela, mesmo que quase tenha estragado as coisas no decorrer com o incidente automático que iria ser feito no banheiro.

Tirando aquilo, era como se a antiga Enid, a que habitava em meu interior antes de todas as desgraças com Alivia e os assassinatos que ocorreram a minha volta, passasse as horas comigo. Uma versão perdida da felicidade.

Os pensamentos não paravam um minuto se quer, principalmente sobre o que aconteceu com o rádio em plena madrugada, tinha pensando em puxar Wednesday para dançar antes daquilo acontecer.

Teve quase certeza que viu um vislumbre de um reflexo na janela quando caminhou até o aparelho, mas quando fitou o vidro de relance, nada estava ali.

Não quis ficar pensando muito para não enlouquecer, mas a realidade é que tinha visto a sombra daquele sorriso envergonhado na qual cuidou durante oito meses.

Pensamentos que me cercaram por toda madrugada e não conseguiu pregar o olho, apenas se aconchegou no corpo de Wednesday e sentiu seu perfume. Segurou ela firme para ver a realidade, porque Alivia queria me levar a insanidade, mesmo que eu soubesse que ela não era real.

Wednesday estava certa, já tinha passado dos limites, e antes que ficasse louca sem fazer nada, preferia enlouquecer tentando mudar aquela visão. Mas era difícil, estava tão fundo em meu ser que já era parte de mim.

Se questionou como conseguiu fazer ela ficar em silêncio por horas depois da regeneração, se perguntava, mas não achava uma resposta. Mas o que quer que tenha sido, queria fazer novamente.

Era uns bons quilômetros até a cidade, David não mentiu quando disse que aquela residência era no meio da floresta. A paisagem de dia era deslumbrante, mas aterrorizante ao anoitecer, o privilégio se você quer paz.

— Você está bem?

Tirou a atenção por míseros segundos da estrada e encarou Wednesday, não tínhamos trocado nenhuma palavra desde do café.

— Só estou preocupada com tudo, apenas isso.

— É só isso mesmo?

Deu um sorriso e novamente a olhou, seus olhos não mentiam.

— Sabe, antes você era mais confiante — Ela revirou os olhos e eu, coloquei a mão na sua perna e dei um aperto, demonstrando confiança com aquele ato — Já te disse que não me arrependi de nada, não precisa ficar abitolada em relação a isso.

— É mais forte do que eu — Escutou a fragilidade em sua fala — É tanta coisa acontecendo e ainda, sim, isso parece ser o mais irreal.

E ela tinha um ponto, entre tantas coisas acontecendo ao nosso redor, nosso casamento voltar aos eixos parecia a coisa mais irreal do mundo.

— Você se arrepende?

— O quê? — Ela estava indignada com minha pergunta — É claro que não.

— Então está resolvido, queimamos os papeis do divórcio e seguimos em frente...

Lhe deu uma piscadinha e viu seu sorriso brotar, sua mão repousou em cima da minha, que a peguei e trouxe até meus lábios, depositando um beijo no dorso enquanto tinha a atenção na estrada.

— Como ela é?

— Ela quem?

Suspirei e tentei tirar uma das minhas temidas dúvidas, não se achava preparada para contar a pior parte de si para alguém.

SilenceOnde histórias criam vida. Descubra agora