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O coração sempre seria o maior traidor dos traidores no mundo. Porque quanto mais desejávamos a calma, mais ele necessitava da velocidade.

Quando mais queríamos distâncias, mais desejávamos a proximidade. E isso se enquadrava em tudo na vida, principalmente no amor.

Em um ano e oito meses longe, o coração clamou com toda força por Wednesday. E ele continuava clamando, mas a racionalidade era quem andava no comando agora.

E a racionalidade, assim como a irracionalidade, machuca. Porque atos pensados e impensados causavam tormenta, cabe a nós ver as consequências.

Nossa distância e proximidade era o show que um músico mostrava no público. Onde as músicas tocadas era pura reflexão sobre o caminho que não seguir em um relacionamento.

Tinha medo, muito medo de cair e levá-la junto. Por isso, quando escutou seus dizeres "Me casarei com você novamente", a alma caiu em um buraco negro e quis chorar.

Porque amava Wednesday, mais do que tudo na vida. Mas sempre se achava indigna de ter aquele amor.

Um mal fragmentado no meu interior, um que sempre voltava quando escutava suas declarações.

A queria de volta, estavam caminhando para o retorno, mas tinha medo da velocidade. Se estava muito rápido, muito lento.

Sem contar que a mente estava um turbilhão, ainda mais com a aparição repentina de Bella. Seu sinal foi claro, e aceito.

Por mais que tenha tido um leve piripaque em revê-la. Achou que era mais uma pegadinha da mente, mas Wednesday também visualizou sua presença.

Ginger era o passarinho da sorte, o belo pássaro do bem que estava tentando me alertar sobre algo. Algo que somente ela poderia saber, e confiava em Bella para seguir suas instruções.

Duas e quarenta da manhã era o que o relógio marcava quando adentraram no apartamento. O caminho da volta tinha sido tranquilo, sem movimento, sem pessoas, sem ameaça.

Mas nunca deixaria a guarda baixa, sabia dos perigos que a escuridão escondia. Do mal que vivia nas sombras e também do outro lado da rua.

Depositou os bichos de pelúcia no sofá, três para três filhos. Chloe poderia ser uma mulher casada, mas ainda tinha sua alma infantil.

Se jogou na poltrona, estava trocando o dia pela noite mais uma vez, e isso não era bom. Pois significava que os remédios não estavam com efeito.

Batucou os dedos no sofá e varreu a sala com os olhos, Wednesday surgiu da cozinha com um copo de água. Curiosa na mesma intensidade que confusa.

Ela passou quatorze anos comigo, me conhecia como qualquer outra pessoa. E meu descontentamento pela falta de sono era nítido para ela.

— Quer assistir televisão? — Neguei — Quer um chá de camomila?

— Nenhuma das opções vai adiantar, não dá para adiar o inevitável — Me coloquei de pé — Deitar na cama e olhar para o teto até capotar.

— Acho que você deve parar com as medicações.

— É, creio que está certa — Sentia os ombros pesados, se perguntava se Alivia não estava de alguma forma sentada  sobre eles — Acho que vou começar a fumar maconha, talvez assim eu relaxe.

Ela me olhou dos pés a cabeça, um olhar tão sério que me deu arrepios.

— É brincadeira, não é?

— Sendo sincera, não é de hoje que venho pensando em virar uma hippie — A realidade é que estava cansada demais para qualquer coisa — Tecnicamente já estou tendo alucinações, a maconha só ia me ajudar a ficar mais alta.

SilenceOnde histórias criam vida. Descubra agora