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— Eu não quis te assustar, só fiquei curiosa com som — Apontei os arredores — Quando vi mais uma alma nesse lugar fiquei curiosa e acabei vendo você. E como começamos com o pé esquerdo outro dia...

— Você continua ressentida por quase ter me feito cair?

— Talvez.

Ela riu e fechou a capa do violão, fazendo o fecho fazer o típico barulho de tranca. Ela era cuidadosa com os movimentos.

— Eu te disse que não teve problema, eu sou desastrada e sempre esbarro nas pessoas — Ela pegou o instrumento na mão, percebeu um pouco de dificuldade em seu ato, já que a capa pesava mais do que o próprio instrumento — Você foi apenas a primeira do dia.

Ela era simpática e isso me fez simpatizar com sua pessoa. Tanto que meu bendito olhar avaliativo apareceu novamente e ela notou.

— Está me avaliando novamente — Fechei os olhos me praguejando mentalmente — Você é psicóloga, não é?

Ela fez uma cara semelhante a de um cachorro confuso, assim como Williams fazia quando não entendia alguma explicação.

— Sou.

— Enid Langford?

— Me conhece?

— Tem notícias suas em várias páginas, é difícil não conhecer — Ela deu de ombros e equilibrou o vilão de uma forma mais agradável na mão — E também li seu livro há alguns anos, você é boa no que faz.

— Por que não me disse isso assim que falei meu nome? Ou quando eu esbarrei em você na clínica?

— Não gosto de deixar ninguém desconfortável, e talvez você ficasse se eu falasse alguma coisa — Sentiu empatia por aquele ato — E se você estava na doutora Green, isso significa que não estava muito bem. Ninguém vai ao psicólogo se está bem.

— Você tem um ponto.

Seus lábios se curvaram quase imperceptivelmente, teve muita vontade de ler sua mente para ver o que se passava nela. Aquela garota tinha algo que instiga conhecimento, algo tão profundo que chegava a assustar. Mas era algo onde o dom não poderia alcançar.

Ela fingir que não me conhecia, mesmo me conhecendo, mostrava seu caráter. E seria falta de caráter da minha parte invadir sua privacidade quando ela privou a minha própria.

— Vai à doutora Green ha muito tempo?

— Faz cinco anos — Ela ficou levemente cabisbaixa — Digamos que não tive muita opção.

— Vai por mim, a maioria que nos procura não tem.

Tentou amenizar o clima de velório que se instaurou, os grilos cantavam a todo vapor. Com o silêncio, a garota ruiva olhava vez ou outra para trás, analisando, assim como eu, as árvores e a praça a luz escassa.

— Você aceita companhia?

— Companhia? — Ela franziu as sobrancelhas para minha pergunta.

— É, para voltar para casa — E lá viu novamente ela juntando os pontos na cabeça — Está tarde e mesmo em uma cidade segura, não é bom ficar andando sozinha por aí.

— Você estava andando sozinha por aí.

— Eu sou uma loba e sei defesa pessoal, saberia me defender se necessário.

— Loba? Tipo lobo, lobo?

Sua curiosidade foi tanta a ponto dela sorrir como uma criança.

— Sim, lobo — Tentou explicar a ela de uma maneira mais simples — Tipo um cachorro gigante com presas enormes.

SilenceOnde histórias criam vida. Descubra agora