Silence

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— Como eu ia dizendo — John Pigarreou voltando a atenção para o verdadeiro centro das atenções, as noivas — A lua é confidente dos nossos anseios e dos nossos segredos.

Se antes não tinha ânimo para estar naquela cerimônia, com a chegada inesperada de Enid, era que minha vontade de sair pela saída mais próxima aumentou.

Poderia ser impressão, mas sentia o olhar dela sobre minhas costas. Ou era a mente pregando uma peça, como das outras vezes.

O peito estava angustiado, angustiado pela imaginação dos momentos vividos entre Enid e aquela garota ao seu lado. Não era cega e muito menos ingênua, por qual motivo ela traria alguém para o casamento da sobrinha, se não estivesse em um interesse amoroso.

Oito meses, foi isso que durou para ela deletar quatorze anos. Não estava pensando direito, a traição que sentiu com aquilo machucava a alma.

— Querem dizer os votos?— Cheryl e Chloe concordaram — Virem se diante uma da outra e abram o coração.

Um casamento, um casamento, ela trouxe aquela garota para um casamento. Algo tão simplório para um casal.

Se perguntou se ela estava se lembrando dos nossos próprios votos ao ouvir todo discurso da cabeça de fósforo.

Um discurso que só ouviu a última parte de tão absorta que estava. De tão doloroso estava sendo segurar as lágrimas.

No final, não escutou uma única palavra dos votos, só voltou para a realidade assombrosa quando sentiu a movimentação de Williams.

— Você está bem?

Pugsley se debruçou na minha direção quando o lugar onde o filho estava ficou vago. Ele estava levando a aliança ao altar naquele exato momento, recebendo sorrisos de Chloe e Cheryl.

A garota fez com ele, o que eu e Enid fizemos com ela no nosso próprio casamento. Depositou um beijo suave em sua bochecha.

— Estou ótima.

Pugsley soube que era mentira, meu tom áspero entregava que aquele assunto não queria ser retratado por minha pessoa.

Ele arrumou a postura e ficou quieto, a visão periférica entregava que a mãe estava com o olhar atento a minha pessoa. Quieta como um fantasma, sondando para em algum momento propício que só ela sabia qual era, dar o bote.

Assim como uma víbora peçonhenta dá, ou uma jiboia, que enrosca no nosso pescoço, quebrando nossos ossos e nos deixando sem respirar.

Mas a jiboia que prendia minha respiração e me fazia querer chorar de dor, estava sentada a alguns metros de distância com outra pessoa. Provavelmente de mãos dadas e trocando carícias.

Palmas e assobios foram dados quando o fim da cerimônia se fez presente. Uma parte da tormenta havia se dado fim, mas a outra ainda continuava presente.

Agora uma fila estava sendo feita para cumprimentar as noivas. Viu em meio ao tumulto Enid e a tal garota indo para outro lugar, um lugar afastado de toda aquela agitação.

E não foi só eu a notar aquilo, as irmãs, Ortega e os sogros, ou melhor, ex sogros. Também perceberam.

— Você estava deslumbrante, querida — A mãe abraçou Chloe quando a mesma veio até o local em que nos encontrávamos — Magnífica.

— Obrigada!

— Desejo toda a felicidade do mundo para vocês.

Chloe sorriu, assim como Cheryl, que deu um aceno em agradecimento. Seus olhos encontraram os meus, mantive o contato até que a alma caridosa de Ortega impedisse que uma de nós duas causasse a queima dos corpos uma da outra.