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Ao redor estamos cercados de pessoas, a todo momento, a todo minuto. Cada um com suas vidas, com seus sonhos e seus desejos.

E também com seu vazio, com sua dor no peito que se torna invisível para terceiros. Porque nós somos invisíveis para terceiros.

Nossa dor é apenas nossa, e muitas vezes ela é funda, tão funda que se torna parte nossa de maneira completa. Você vê os sorrisos e sorri também, fingindo estar tudo bem, quando, no fundo, só quer se sentar em posição fetal e chorar.

Porque está cansado, está exausto de sempre sorrir quando está mal. Cansa ser a nossa versão que a sociedade impõe ser, o tempo desbota essa máscara. Máscara que todos carregamos, mas que mesmo assim, quando ela cai, alguém nos julga por ser quem somos verdadeiramente.

Pessoas quebradas, pessoas cansadas e que só querem que a dor no peito acabe de algum modo. Mas ela só se torna mais profunda, e quando vemos já é tarde demais.

A noite já tinha caído a um bom tempo, a tarde foi regada de provocações entre Violet e Wednesday. O que me fazia rir diante das trocas de farpas que carregava carinho entre elas.

Estava dividindo a cama com a garota, que até tentou usar a artimanha para dormir no colchão, apenas para que Wednesday ficasse na cama comigo. Tinha escutado com a audição apurada seus conselhos para a Addams, e não conseguiu impedir o sorriso com aquilo.

Uma adolescente de dezesseis anos estava aconselhando uma adulta sobre relacionamentos. Seria cômico se não tivesse uma pitada de tragédia no meio.

Violet dormia serena, nem tinha notado, mas no meio da noite tinha abraçado a menina de maneira protetora. E a mesma segurava minha mão como se fosse um urso de pelúcia que fazia falta na sua vida.

Três e meia da manhã, era esse o horário que marcava no relógio. Tinha começado a acordar muito de madrugada, talvez devesse tomar os remédios assim que fosse dormir, assim poderia capotar até o dia seguinte e não ficar acordando igual um espírito às três da manhã.

Agradecia Celline por concordar com o plano, principalmente por já colocar o mesmo em prática ao falar que Violet iria ficar com ela naquela noite.

Segundo a mesma, a mãe da menina sequer respondeu. Ato tão insalubre que dava repulsa.

Mas logo, logo ela mesma iria recorrer a Celline, a intuição pedia para fazer Violet ir até Celline logo pela manhã, porque sua mãe iria aparecer na porta da mulher para saber se a menina estava de fato lá.

Iria acordar a menina por volta das seis e levá-la até lá. A intuição poucas vezes desapontava, ainda mais quando se tratava de pessoas sórdidas.

Se levantou da cama com cautela para não acordar a garota, lhe cobriu os ombros com a coberta e depositou um beijo na sua testa antes de sair do quarto.

Foi até o banheiro principal e abriu o armário, pegando o frasco de remédio que Wednesday supostamente achou que tinha escondido. Apenas uma boa ação, mas que de nada iria adiantar, sendo que precisava tomá-los para conseguir dormir.

Pegou um comprimido e saiu do banheiro, indo até a geladeira e pegando uma garrafa de água para tomá-lo. Não tomava ele a seco, caso contrário ficaria entalado na garganta.

Sentiu-se sendo observada e quando se virou na direção do balcão, se assustou com a presença sentada em cima dele desfrutando de uma taça de morango coberta de chocolate. Wednesday me fitou querendo rir, desta vez ela não teve culpa, pois já devia estar ali e eu quem não vi sua presença.

— Assustada, Enid?

— Você tem esse dom, Addams.

Respirou aliviada enquanto ia em sua direção, intercalando o olhar para sua comida da madrugada. Ela odiava doce, mas estava devorando os morangos com uma vontade absurda, não precisava ser gênio para assimilar que seu período estava próximo.

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