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A tormenta das dores era o mesmo que o mar violento, na verdade, tormenta tem o significado de tudo que é tempestuoso.
Eu sempre tive a mania de comparar os sentimentos com o mar, rios e cachoeiras. O famoso seguir a correnteza, porque ela não para.
A correnteza, como já disse muitas vezes e narrei na minha história, não para um segundo. As vezes é mais intensa ou mais fraca, mas sempre está lá. Nos lembrando que o dilúvio pode acontecer de uma hora para outra.
Talvez quando nossa alma está lúcida, ou quando estamos em sonolência. A recordação de que um dilúvio aconteceu é as poças da água que se formam, ou no caso de um tsunami, o estrago na cidade.
A água é uma benção para a natureza, mas também pode ser o terror dela. Assim é os sentimentos no peito de um ser humano, uma dádiva, mas também um terror.
Sentimentos que mesmo que tentamos mudar a rota, prevalecem nos mostrando a verdadeira realidade que nos cerca. Assim como as nuvens no céu indicam o vendaval que caíra sobre a terra, causando estragos pelas matas e cidades.
A dor está com a correnteza da água, onde em um tsunami nos faz perder familiares, onde em uma floresta o deslizamento tira as raízes das árvores do solo. A dor está em todo lugar, dia, noite, madrugada. Escondida nas profundezas como o bicho-papão.
Se perguntava agora se o bicho-papão tanto narrado nas histórias era apenas um amigo futuro, talvez nossa versão futura olhando para nossa versão passada, tentando avisar que ser adulto não era uma maravilha. Que crescer nos acarretaria problemas, problemas tão sérios que nem mesmo a água e o sabão são capazes de limpar.
Porque a alma não se limpa, a consciência é uma virtude para aqueles que a tem como amiga. Agora para aqueles que a tem como inimigo, é um martírio.
A consciência é nossa própria cadeia, onde não alcançamos a chave porque ela mesma fez o favor de esconder. O que nos deixa aprisionados nas grades do nosso próprio corpo.
E se a prisão for uma embarcação pirata, onde nós somos os comandantes, corremos o risco de furar o casco do navio e fazer com que a água inunde o convés. Nos afogando, nos matando lentamente até que nenhum suspiro seja capaz de ser dado no final. Nos fazendo morrer em silêncio, sozinhos, tentando, mas não conseguindo pedir ajuda.
A dor do último suspiro seria a única coisa que nos mostraria a verdadeira realidade, e foi ela que me levou a abrir os olhos e resmungar.
O nimbo entre dia e noite adentrava as persianas, como a água adentraria a cela da embarcação. Piscou com dificuldade tentando adequar os pensamentos e os sentidos do próprio corpo.
Olhou para o tronco e percebeu uma nova muda de roupa, sendo elas um conjunto de moletom. Não se lembrava de ter colocado aquelas roupas.
A fisgada na barriga foi conhecida, a dor era da regeneração fazendo efeito, porque parecia rasgar mais a pele do que curar. Levantou o moletom parcialmente para ver o estrago que tinha feito no próprio corpo e se surpreendeu por ter um belo curativo feito, sendo a faixa me passando as costas.
Flexionou os braços no colchão para se sentar e apoiar as costas na cabeceira, não tinha a mínima ideia de que horas eram, mas chutava ser quase seis da tarde. Estava controlando a respiração pela tontura que estava sentindo.
— Finalmente voltou do mundo dos mortos — Olhou assustada para a presença sentada na mesinha de estudos do quarto.
A menina me fitava com preocupação, em suas mãos estavam um caderno de desenho, seu fiel chapéu não se encontrava na sua cabeça, o que deixou seus belos fios soltos.

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Silence
FanfictionATENÇÃO⚠️⚠️⚠️: Abordará assuntos como, depressão, automutilação, bullying, suicídio, psicose, psicopatia e até mesmo abuso sexual. A gatilhos em todos os capítulos, repito, em todos. Essa fanfic terá assuntos delicados sendo abordados do início ao...