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🌻

O sol jazia em terrenos conhecidos, onde surgia por entre as árvores ao amanhecer e se punha ao anoitecer.

O pequeno girassol ainda estava ali, tão belo como no dia em que o plantou, olhou ao entorno para ver se encontrava a casa onde tinha morado durante dezesseis anos, mas ela não estava ali. Tudo o que se encontrava na minha frente era o descampado com sua bela paisagem verde.

Irradiando feixes avermelhados do sol que preenchia até as lacunas mais sombrias da tempestade. Se sentou embaixo da árvore e observou o horizonte, era tão bonito, tinha tanta paz que teve certeza que era sonho.

— Às vezes fico horas olhando a paisagem também.

A voz conhecida surgiu ao lado, a figura com olhar gentil e sorriso pontiagudo ainda parecia o mesmo. Seus cabelos desgrenhados nunca teria jeito.

O avaliou, sorrindo em meio as lágrimas que surgiram por admitir a falta que sentia dele. Um que teve a morte tão brutal para uma pessoa tão boa.

— Posso me sentar com você?

Afirmou de prontidão, o fazendo se apossar do lugar ao lado na grama, tomando cuidado com o pequeno girassol que estava no meio de nós dois. Observou bem seu perfil, o fazendo perceber e me olhar, também analisando minha fisionomia.

— Como estão as coisas, Nid?

— Não muito boas para ser sincera — O lobo reprimiu os lábios, ficando tristonho — Por que eu sempre me meto em problemas, Jack?

— Eu diria que é porque você tem algo dentro de você com sede de justiça — Sua mão veio até meu ombro, apertando em conforto — Você sempre foi assim, Nid, desde que era pequena.

Ele riu ao vento, meus olhos pousaram nas minhas mãos, onde meus dedos brincavam uns com os outros.

— Eu ainda me lembro que por mais que tivesse medo do escuro e chorasse quando nossos irmãos trancavam você no armário, que você não desistia de tentar abrir a porta, mesmo que só saísse quando eu desse sua falta e fosse ao seu socorro.

Ele cruzou as pernas e encostou a cabeça no tronco da árvore, fitando bem o sol acima de nós.

— Você não entendia tanto desprezo, mas mesmo assim, entendia eles — Tinha um pouco de dor em sua fala — E mesmo depois tudo o que Charlotte fez com você, você foi a única que veio tomar um pouco de sopa com ela.

Sentiu o nó na garganta por se lembrar daquele fatídico dia, o fim dele e o que ele levou de mim.

— Você, mesmo não sendo meu sangue, Nid, sempre foi minha irmã...

— Você morreu por minha causa, Charlotte morreu por minha causa.

— Era o nosso dia, pense dessa maneira... E sabe de uma coisa, isso ter acontecido foi bom — Ele não tardou de explicar — Charlotte deixou de ter Alzheimer, eu, ela e o papai voltamos a ser uma família unida. Ela se tornou uma pessoa boa.

— Isso não apaga o passado, Jack.

— Não, não apaga, mas você saber disso vai te ajudar a ter uma mentalidade diferente do que aconteceu — Seus ombros se moveram em descrença — Todos vemos o quanto você se martiriza por coisas que não estão ao seu controle.

Suas mãos acariciaram as pétalas do girassol, atraindo minha atenção para seu ato.

— Um pequeno pássaro pediu para te avisar que quando estiver muito cansada, é porque você precisa dormir — Tentou assimilar seus dizeres — O sono é o milagre da cura.

SilenceOnde histórias criam vida. Descubra agora