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Olhou em volta e checou os minutos no relógio de parede que ficava pendurado próximo ao balcão, Enid estava demorando mais do que o previsto, muito mais. E não fui a única a perceber, já que a mulher na minha frente também insistia em olhar para a entrada do banheiro a espera da figura loira.

Esperou mais cinco minutos, o que totalizou vinte, e quando isso aconteceu o íntimo alertou que algo tinha acontecido.

— Quanto é o café?

— Não precisa se preocupar com isso, considere uma regalia pela ajuda que estão dando a minha menina.

Ela não parecia arrependida daquele feito, então não se sentiu mal por apenas acenar e se levantar da mesa agradecendo seus serviços e ir em direção ao banheiro. Abriu a porta e só encontrou uma das atendentes retocando o coque em seu cabelo, mas nenhuma outra presença estava ali.

Seu olhar curioso me encarava através do espelho, foi então que percebeu que a sua idade não devia passar dos vinte. Cidade pequena, oportunidades quase mínimas, não que ser garçonete fosse uma profissão ruim, não era, mas as pessoas deviam ter a oportunidade de crescer no mercado, estudar e ter um futuro descente. Não trabalhar igual a um condenado para ganhar cinco dólares a hora.

— Está procurando por alguém?

Ela parecia receosa, digamos que eu não tinha uma boa experiência em ser sociável e quase todos corriam de medo com meu olhar. Era quase isso que a pobre menina estava fazendo no pequeno cubículo entre a parede e a pia.

— Sim, uma moça loira, estava comigo nas últimas mesas.

— Ah, Enid? — Afirmei, pelo que aparentava todos a conheciam naquele café — Ela saiu faz um tempo.

— Saiu?

— Sim, trombei com ela na hora de servir uma mesa.

— Saberia me dizer para que lado ela foi? — Estava se praguejando por não notar seu desaparecimento antes.

— Virou à esquerda na calçada, rumo a esquina.

— Agradeço!.

Ela confirmou, e eu, virei as costas saindo daquele café e seguindo suas orientações. O problema é que até assimilar para onde ela poderia ter seguido, demorou um tempo.

Zanzou por aquelas ruas com as vistas atenta aos arredores, estava preocupada e estava irritada, e também tinha uma leve vontade de esganar Enid naquele momento. Pelo andar da carruagem, sabia que se tentasse contato pelo dom, a chance de não ser respondida era enorme. O mesmo era com o celular, na qual a mesma deixou em casa sem bateria, o resumo de tudo era Enid incomunicável.

— Que droga, Enid! — Estava a minutos andando e nada de achá-la, se não tivesse uma boa memória, teria se perdido a um bom tempo em meio aquelas ruas idênticas — Cadê você.

E a luz não foi branca, mas um pássaro negro, um corvo que estava na árvore me fitando. E que de repente levantou voo e pousou em uma placa, uma placa com o direcionamento bem específico.

Cemitério local, siga em frente.

Continuou encarando o pássaro por alguns minutos antes dos pés voltarem a andar e o mesmo levantar voo, sumindo no céu.

Colocou as mãos no bolso do sobretudo e continuou com o olhar atento, tinha que admitir que aquela cidade era extremamente acolhedora e pacifica, mas o mal vivia ao lado, ao lado de Enid. Seu vizinho, aquilo mostrava que até os lugares mais simplistas escondiam pessoas maquiavélicas.

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