capítulo 49

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Luna

Tudo estava diferente em mim. O mundo ao meu redor, antes tão comum e tedioso, agora parecia ter mudado completamente. Claro que isso me assustava. As habilidades que eu tinha iam muito além do que eu imaginava. Mas abri mão dos conselhos e da companhia das minhas ancestrais. Deixei minha avó para trás. Sei que devo me concentrar no presente, nas pessoas vivas ao meu redor e no meu objetivo, mas a saudade é inevitável. A quem recorrerei quando tudo der errado? Quando eu não souber o que fazer?

Não sei tudo. Mas lembro-me de ter acessado uma versão de mim em outro universo. Será que ainda posso fazer isso e pedir conselhos? A última vez, disseram que eu tinha todas as respostas, mas agora, deitada na cama, olhando para o teto, parece que não tenho resposta alguma.

Respiro fundo, fecho os olhos e penso em Adrian. Sempre que penso nele, uma calma repentina me invade. Claro, junto vêm lembranças de lobos, maldição, bruxa. Mas, imaginando nós dois juntos, encontro paz.

Quando estamos juntos, mesmo enfrentando problemas, tudo parece mais fácil. Eu sabia o que fazer. Era natural. Eu dizia e fazia. E me sentia protegida por ele. Talvez seja a ligação. Mas, já que abandonei minha conexão com os ancestrais, será que isso também se quebrou?

Não sei. No momento, só penso em Adrian e desejo que ele estivesse aqui. Ouço as pessoas conversando no andar de baixo. Praticamente toda a família do meu pai estava nesta casa, que, apesar de enorme, parecia pequena. Não queria mais pessoas ao meu redor descobrindo meu segredo. Já basta esconder dos meus pais; agora tenho que me esconder dos tios, primos.

Estou exausta. Tudo o que mais quero é silêncio absoluto com Adrian, olhando as estrelas. Sinto o vento entrando pela janela aberta, fazendo as cortinas voarem. Abro os olhos e me sento na cama. Vejo a imagem do garoto em quem estava pensando. Achei que era uma ilusão, até que ele se aproximou mais. Percebi que era real. Levantei da cama, surpresa.

- O que está fazendo aqui? - perguntei.

Adrian estava lindo, com uma jaqueta preta, camiseta branca e jeans. Ele nunca deixaria o celular de lado. Sorri ao pensar nisso. Antes eu odiava o garoto, agora não me vejo longe dele. Ele se aproximou devagar, pegou minhas mãos e olhou nos meus olhos.

- Você me chamou. Não se lembra?

Achei estranho. Não me lembro de ter chamado Adrian, não mandei mensagem alguma.

- Como você sabe que eu chamei você, se não mandei mensagem? - perguntei.

Ele sorriu, desviou o olhar por alguns segundos e depois voltou a me olhar. Me puxou para mais perto e me abraçou. Senti o calor de seu corpo e me senti feliz e em paz. Parecia que os problemas tinham sumido.

- Eu senti isso. Não é estranho? Você não precisa dizer algo para eu saber que precisa de mim, que está com medo ou em perigo. Isso me confunde, mas é bom. Pelo menos, sei quando proteger você.

A antiga eu diria que não precisava de ninguém me protegendo, mas agora, tudo o que mais desejo é proteção. Sorri, envergonhada. Nunca me senti assim, nunca acreditei que poderia confiar tanto em alguém.

- Eu não chamei você. Só pensei em você. Queria que estivesse aqui. Tem tanta coisa acontecendo que me deixa confusa. Meus parentes estão lá embaixo...

- É, eu estou ouvindo. Eles fazem muito barulho - disse ele.

- São pessoas que gostam de festa, falar alto e brincar. Sou diferente dessa família. Assim como minha mãe. Ela não se enturma na família do meu pai. Eles não têm ideia de que ela faz parte de uma família de bruxas.

Adrian parecia lembrar de algo. Mordeu a mandíbula e desviou o olhar.

- A sua mensagem. Os caçadores. Eles estão perto. Vimos equipamentos novos chegando. Armadilhas na floresta. Meu pai está preocupado. Tive que fugir para vir até aqui. Ele não quer que eu saia de casa, a não ser para a escola.

Pensar em Adrian sendo ferido por caçadores me corroía por dentro.

- Nada vai acontecer com você. Assim como me protege, vou proteger você. Prometo achar esses caçadores e mandá-los embora.

Adrian se assustou. Afastou-se um pouco e olhou fundo nos meus olhos, preocupado.

- Nem pense nisso. Caçadores também vão atrás de bruxas. Ficou doida?

Sorri, revirei os olhos e respondi.

- Eu não sou uma bruxa qualquer, Adrian. Sei me defender.

- Luna, não faça nada. Se você correr perigo, vou atrás de você. Então nós dois estaremos em perigo. Deixe meu pai resolver isso.

Ele tinha razão. Se caçadores profissionais estão vindo até North Weland, algo os chamou. Penso na morte de Kate. Não só lobos estão em perigo. Bruxas também. Mas essa batalha não terminará sem perdas. Preciso encontrar uma solução sem envolver Adrian.

Dou um sorriso morno e proponho.

- Que tal irmos para o telhado? - levanto uma sobrancelha. - Lá é mais longe do barulho.

Ele sorri, concordando.

- Você sabe que ainda vou ouvi-los, não é?

- Sei, mas eu não. E não corremos o risco de sermos pegos por alguém.

Legacy: O filho do alfa e a feiticeira Completo Até 15/10Onde histórias criam vida. Descubra agora