84 fim

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Luna

Meus olhos ardiam de tanto chorar. Minhas mãos estavam dormentes, sentindo o peso que carregava. Mesmo tentando dizer a mim mesma que foi o acaso, que era uma luta contra alguém maléfica e que queria causar dor em tudo que rodeava, dentro do meu peito, eu sabia que era a minha culpa.

Não sei se, eu tivesse dado ouvidos ao que minha eu de outro universo disse, teria mudado as coisas. A bruxa teria feito um acordo? Bem… isso eu nunca saberei. O que está feito, está feito, e devo aceitar a derrota. Sim, derrota. Era assim que eu me sentia. Não tinha uma vitória sobre as minhas costas. Ela foi derrotada, e eu também.

Meu pai e eu nunca fomos melhores amigos, como uma família perfeita, mas havia amor, cuidado. Lembro-me do dia em que ele me ensinou a dirigir, de quando escondia as minhas falhas, para que minha mãe não me desse uma bronca. Lembro de quando estávamos reunidos na sala, assistindo a um filme. Ele, encostado ao sofá, minha mãe em suas broças, e eu, um pouco distante.

Em momento assim, eu parava e agradecia por ter uma família como essa. Eramos feliz na capital. Devo confessar que, nesse momento, vendo as pessoas se despedirem dele, nesse cemitério, que desejava nunca ter vindo para essa cidade.

Toda vez que fecho os olhos, ouço a voz dela em meus ouvidos. "Valeu a pena?" "Sempre há um preço"

— Para! — Falo, irritada, em voz alta. Nem percebi que fiz isso. Olho para os cantos e vejo que ninguém me ouviu. Bem, uma pessoa ouviu.

— Luna — Adrian apareceu, pegando em minha mão e a apertando, transmitindo conforto. Contudo, conforto era o que eu menos sentia. — Sei que não está bem — Falou, ficando em minha frente. Estava de cabeça baixa, mas me dei ao trabalho de olhar em seu rosto. Ele estava lindo, como sempre. Terno preto, no tema do velório, uma gravata bem feita, seus cabelos escuros e escorridos, estavam caídos em seu rosto. Eu gostava de olhar no fundo dos seus olhos e ser engolida pela escuridão dele. Naquele momento, achei bem mais confortável. — Sinto muito.

— Não diga isso. — O repreendi. Devo confessar que, fiquei com um pouco de raiva. Foi inevitável. Sei que não é culpa dele. Fiz a escolha. Escolhi salvar Nathan, sem saber que eu perderia o meu pai. Por isso me corrigi. — Consequências. Devo lidar com isso.

— Não me odeie. — Quase implorou. Franzi o cenho, então, lembrei que ele sentia o que se passava dentro de mim. — Juro que, se eu tivesse previsto isso, teria o salvado.

Soltei sua mão, me perdendo em meus pensamentos. Adria não tinha como adivinhar. Se tivesse tentado, seria ele o morto e eu estaria do mesmo jeito. Ele é a única pessoa que sabe como me sinto. Literalmente.

— Não odeio você. — Acariciei seu rosto. — Mas devo confessar que me sinto um pouco mal. Inveja.

— Inveja de quê? — Achou estralho.

Mordi meus lábios, tão forte que quase sangraram. As palavras seriam bobas, mas eram verdades.

— Seu pai está vivo e em casa. — Me retrai, baixando a cabeça, envergonhada. — Sou tola. Eu sei. — As palavras estavam todas misturadas na minha mente. Quase não formava uma frase certa. — Eu só queria ter o meu aqui. Vivo.

— Não é tola — Ele me abraçou, e naquele momento, me permite desabar, mais uma vez, só que as lagrimas ardiam em meus olhos, pois já estavam no limite. Todos ali, sofriam pela perca do filho, irmão, tio, marido, mas eu sofria em dobro por saber que fui eu quem escolheu esse fim para ele. Eu odiava o livro. Odiava a mim mesmo. — Se eu pudesse, o traria de volta. — Adrian me apertava em seu peito, que era quente e confortável.

"Um preço alto demais." Sussurrava em meu ouvido. "Sua culpa."

Estava sentindo que iria explodir. Afastei Adrian, o deixando surpreso. Olhei para todos, que estavam destruídos, acolhendo a minha mãe, então, decidi correr dali, antes que o pior acontecesse.

Dava para sentir isso se expandir dentro de mim. Adentrei o corredor de arbustos e grandes árvores, levitando meu copo, acreditando que, daquela distância, eles não iriam me ver, pretendendo ir para bem longe.

Minha visão estava embaçada, e naquele momento eu não sabia se eram as lagrimas ou a minha raiva. Quando achei que estava a uma boa distância, desci, espalhando as folhas secas, em uma onda que batia contra o troco das árvores.

Soltei um grito de furia, que se seguiu de uma onde de poder que saiu de dentro de mim, derrubando algumas árvores, e tombando outras. Senti como se estivesse sufocada, quente como fogo. O livro apareceu em minha mão, e ao embaralhou, o amaldiçoei. Tinha que me livrar disso.

— Maldito — Rosnei — Você nunca mais vai me cobrar alguma dividida. Nem a ninguém.

Eu sabia, mesmo no momento de raiva, que aquilo era muito poderoso para o deixar assim, dando sopa. Existiam milhares de bruxas, espalhadas por todos os cantos em busca de um poder como esse. E essa coisa pode transformar qualquer um, em um mostro.

Por isso, tinha que o colocar em um lugar que eu pudesse saber que estava seguro, longe de mim, mas sob a minha supervisão.

Me concentrei o bastante para ir ao plano espiritual, onde eu costumava me reunir com as minhas ancestrais, só que, desde que abdiquei dessa habilidade, aquele lugar estava vazio. Lá estava a cabana onde já tive momentos de aconselhamento. Andei até a varanda, abri a porta de madeira, e adentrei o lugar.

Ao olhar para o chão, vi a tabua solta, de onde tirei o meu primeiro livro. Fui até lá e coloquei o livro das sombras. Ao colocá-lo lá, dei uma última olhada, antes de tapar e me levantar. Aquele era um lugar só meu. Um plano feito para mim e que, não há necessidade de ser acessado.

Abri os olhos e encontrei Adrian, me encarando. Ele parecia confuso e assustado.

— Você está bem? — Perguntou, vindo em minha direção.

— Me livrei dele. — Confessei. — Quero ser normal.

— Normal? — Ele veio até bem perto, pegando em minhas mãos, que estavam frias.

— Sem poderes, se concentrando nos estudos, faculdade. — Expliquei. — Já chega de sobrenatural.

— Está terminando comigo? — Ficou serio e chocado.

— Não — Foi o primeiro sorriso, desde o que aconteceu. — Falo de mim. Eu não posso seguir sem você, Adrian. — Fiquei de ponta de pé, para dar um beijo em seus lábios. — Não vou perder mais ninguém. Então, nem tenta se livrar de mim.

Adrian passou seus braços, fortes, sobre minha cintura, apertando-me a ele, carinhosamente, olhou em meus olhos e disse.

— Eu nunca vou me livrar de você. — Encostou sua testa na minha. — Amo você, novata.

Eu sabia que havia muitas coisas que podia nos separa, porém, essa ligação era forte demais e isso me dava um conforto. Ele era a minha metade e não posso negar o amor que sinto.

A morte do meu pai ainda dói em meu peito. A culpa e o resto, que devo lidar, porém, se eu tiver Adrian como minha rocha, acredito que passarei por isso inteira.

— Eu também amo você.

Fim.

Legacy: O filho do alfa e a feiticeira Completo Até 15/10Onde histórias criam vida. Descubra agora