capítulo 79

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Não sei se tomei a melhor decisão do mundo, mas... eu tinha que tentar de tudo para trazer Nathan de volta. Eu devia isso a Adrien. Seu pai estava preso no inferno, sendo torturado por um dos demônios mais perigosos e cruéis. Por minha causa. Bem, por causa de tudo. Das bruxas, da bruxa primordial. Isso realmente iria nos levar à destruição. Eu não sabia o que aconteceria depois que eu quebrasse aquela maldição. Bem, não completamente.

Eles preferiram ficar como lobos, uma escolha de toda a Alcateia. Poderiam ter se libertado. Poderiam ser homens novamente. Mas acredito que, se isso tivesse acontecido, Nathan estaria completamente morto a essa altura e não parcialmente. Mas tudo isso é minha culpa. Culpa da minha linhagem. Culpa de uma mulher que se sentiu traída e cometeu o erro de simplesmente condenar todas as gerações de homens que ela achava que amava a serem lobos e estarem presos em uma cidade, sem saber o que acontece além da fronteira.

Eu estou com medo. Não faz nem vinte minutos que estou andando por esse corredor, e já sinto como se fosse inútil em meio a um mundo enorme de sombras que me assusta a cada passo. Mesmo que eu seja uma feiticeira muito poderosa, segundo os próprios bruxos que basicamente me criaram, aqui parecia que eu era apenas um ponto no meio de um poder sobrenatural que eu não fazia ideia de como controlar.

As árvores pareciam ter rostos, braços e almas. A cada passo que eu dava, parecia que elas me observavam. O chão estava repleto de raízes que pareciam afundar meus pés, me prender e me puxar para o mundo lá embaixo. Havia gritos; o vento sussurrava e soava como pedidos de socorro. E eu estava dando um passo de cada vez, um na frente do outro, com as mãos presas aos braços, rodeando minha cintura, rente ao corpo, enquanto caminhava.

Então, olhei para frente e foquei naquela casa que parecia estar cada vez mais distante.

As sombras se alongavam e se contorciam, criando formas ameaçadoras. Cada passo era uma luta contra as raízes vivas que pareciam ansiosas para me arrastar para as profundezas da terra. O desespero crescia dentro de mim à medida que eu sentia aquelas garras naturais apertarem meus tornozelos, tentando me deter.

Precisava chegar à cabana, onde o Livro das Sombras estava guardado. Era minha única esperança de libertar Nathan. O medo me consumia, mas eu não podia desistir. Comecei a correr, tentando escapar das raízes que agora pareciam ainda mais agressivas, puxando-me com força renovada. Enquanto eu corria, criaturas feitas de sombra surgiam das árvores, monstros gigantescos e ameaçadores.

Meu coração disparou e, no ápice do medo, senti meus poderes despertarem. Sempre faziam isso quando eu estava em perigo. O poder escarlate emanou de dentro de mim, uma força caótica que lançava as bestas contra as árvores com uma violência imensa. Meu corpo se ergueu do chão, flutuando, libertando-se das raízes vivas que me prendiam.

Foi então que tudo parou. As bestas recuaram, o vento se acalmou, e a floresta, antes hostil, agora parecia quase pacífica. Até as próprias árvores, que não eram vivas no sentido comum, reconheceram o poder do caos que emanava de mim. Eu não entendia completamente o que estava acontecendo, mas percebi que algo havia mudado. As criaturas se afastaram, como se temessem minha presença.

Voltei a pisar no chão coberto de folhas secas, notando como todos ao meu redor estavam calmos, quase reverentes. Sem perder mais tempo, corri em direção à cabana. Em poucos minutos, cheguei ao meu destino. A porta se abriu sozinha, revelando um altar com o livro fechado em cima dele.

Dentro da cabana, a atmosfera era carregada de energia antiga e poderosa.

Dei passos para mais perto, mas fui puxada por alguma coisa, e em segundo, eu estava em uma casa. Era dia, conseguia ouvir crianças brincando do lado de fora. Olhei em volta e percebi que era uma casa familiar.

— O que está fazendo? — Minha versão mais velha apareceu, com os braços cruzados, me olhando como se eu estivesse fazendo alguma travessura. — Não pode confiar no livro.

— Eu preciso, e você está me atrapalhando. — Me irritei. Quanto mais a alma de Nathan estivesse no inferno, mais difícil seria o trazer.

— Não pode usar o livro. Ele vai corromper você.

— Eu… — Apertei os punhos, com força, sentindo as mãos suarem, meu coração acelerar e tudo girar. — A culpa dele ter sido levado para o inferno é minha.

— Consequências.

— É assim que vê as coisas? — Fiquei chocada.

— Não é fácil explicar. — Descruzou os braços, olhando para o chão. — Adrian sempre diz que: nossas ações sempre trazem consequências. As bruxas sabiam que iria despertar a fúria da ancestral.

— Elas só pensam em si mesmas. — Reclamei. — Isso não significa que sou assim. O homem está sofrendo.

— Você vai despertar um mal maior do que imagina.

— Preciso trazê-lo de volta.

— Faça um acordo com a bruxa. — Aconselhou. — Se pegar o livro das sombras, se tornará pior que ela.

Eu tinha que acreditar na minha versão? Afinal, como ela consegue saber o que faço? Como pode me puxar com tanta facilidade?

Da última vez, eu fui até ela, mas não sabia o que estava fazendo.

— O que faço, então?

Fiquei desanimada. Eu estava em um beco sem saída.

— Faça um acordo com a bruxa. Ela tem poder sobre os demônios.

— Ela nunca vai aceitar. Veio para se vingar. — Apontei. Isso era obvio. Se eu tentasse dialogar com a bruxa, certamente ela me mataria.

— Você tem poder superior a ela.

— Mas não sei usar.

— Vai aprender.

— Não há tempo.

— Não seja tola, não pode usar o livro.

Meu estresse estava me deixando furiosa.

— Eu não preciso dos seus conselhos. — Virei o rosto. Eu já tinha decidido. — Vou trazer Nathan de volta e derrotar, de uma vez por todas, a bruxa

Sendo assim, voltei a cabana. Andei até o altar, vi o livro, os detalhes. Ele era quase igual ao meu livro. Só que mais poderoso. Tinha uma figura escupida na capa. Uma silhueta que já vi. "A feiticeira".

Não posso mais perder tempo. Peguei o livro, e meu corpo todo pareceu se dissolver. Um enorme arrepio passou pela minha espinha, e em poucos segundo senti uma força fora do comum, me possuir. O medo havia desaparecido. Aquela sensação era tão boa que mal podia explicar.

— Está na hora de consertar as coisas.

Legacy: O filho do alfa e a feiticeira Completo Até 15/10Onde histórias criam vida. Descubra agora