capítulo 53

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Jane estava sentada em sua poltrona de veludo escarlate, no centro de sua sala moderna, porém desprovida de calor humano. Ela nunca se acostumara com a frieza minimalista da decoração contemporânea; as linhas retas e superfícies brilhantes pareciam refletir a desordem em sua mente. Seus dedos pálidos e alongados tamborilavam no braço da poltrona, enquanto ela observava os móveis flutuarem e se rearranjarem ao seu redor, movidos pela magia que emanava de suas mãos como uma extensão de sua própria vontade.

A sala, embora moderna, tinha um ar de passado, preenchida com artefatos antigos e livros empoeirados que destoavam da mobília atual. Um candelabro de cristal pendia do teto, balançando levemente sem vento, iluminando o espaço com uma luz trêmula.

Jane sempre foi uma criatura de reclusão e mistério, preferindo a companhia de seus pensamentos e encantamentos à presença de outros. Ela havia vivido mais de um século, navegando pelas eras com uma habilidade astuta de adaptação, mas sempre mantendo um pé firmemente plantado em 1860, onde sua vida de bruxa tinha sido, paradoxalmente, mais simples, apesar da perseguição constante.

Era mais fácil ser uma bruxa naquela época, pensou ela, enquanto seus olhos verdes cintilavam com uma frieza calculada. Havia menos distrações, menos complicações modernas. Agora, no século XXI, mesmo em uma cidade pacata, a magia estava mais diluída, escondida sob camadas de tecnologia e ceticismo.

Jane sentiu uma pontada de frustração. Ela havia manipulado tudo e todos ao seu redor, mas ainda não tinha Luna sob seu domínio. A energia de Luna, mesmo fraca inicialmente, crescera exponencialmente. O caos estava enraizado naquela jovem, e para Jane, uma feiticeira que dominava o caos não era apenas uma lenda, era um desafio irresistível. Um conto de fadas transformado em realidade diante de seus olhos.

Ela precisaria de uma nova estratégia. O alfa, que deveria ter colocado Luna contra a parede, falhara em sua tarefa. Jane cerrou os dentes ao pensar na incompetência alheia. O alfa era uma ferramenta útil, mas parecia que Jane teria que afiar essa lâmina pessoalmente.

Seus olhos se fecharam momentaneamente enquanto ela visualizava seu próximo movimento. A seriedade e a maldade contidas dentro dela eram palpáveis, uma sombra que se infiltrava na sala.

A magia fluiu de suas mãos novamente, movendo os móveis como peças de um xadrez macabro. Jane não apenas rearranjava o espaço físico; ela estava formulando um plano, uma teia intricada que levaria Luna diretamente para suas garras.

- Preciso que o alfa entenda a gravidade da situação, -murmurou Jane para si mesma, enquanto um sorriso frio se formava em seus lábios. - Se ele não pode ser um caçador eficiente, então será apenas mais uma peça sacrificável no meu tabuleiro.

Ela levantou-se graciosamente, caminhando até a janela e olhando para a noite lá fora. O caos estava em todos os lugares, uma força primordial que ela desejava controlar. E Luna, com seu poder crescente, era a chave. Jane estava determinada a possuir esse poder, a qualquer custo. E se isso significava dobrar a vontade do alfa ou até mesmo destruí-lo, ela o faria sem hesitação. A caçada recomeçava, e Jane estava pronta para enfrentar qualquer obstáculo que surgisse em seu caminho.

Jane ficou no centro de sua sala, cercada pela aura mágica que pulsava como um coração sombrio. Fechou os olhos e começou a murmurar palavras antigas, proibidas, que se dissiparam no ar como uma névoa encantada. O vento que atravessava a noite levou seu sussurro até o ouvido de Nathan, o alfa mais forte dos lobos.

Nathan estava em seu território, patrulhando sob a luz da lua, quando de repente parou, seus olhos escurecidos se fixaram em um ponto distante. A voz de Jane penetrou sua mente, hipnotizando-o.

Ele não teve reação contrária, apesar de sua força e resistência naturais. Jane era bem mais velha, seu poder acumulado ao longo dos séculos lhe dava uma vantagem indomável.

Inconscientemente, Nathan começou a caminhar em direção à casa de Jane. A cada passo, ele estava mais envolto no feitiço, seu corpo respondendo à vontade da bruxa. Jane estava pronta, aguardando com um sorriso malévolo nos lábios. Sem tocar na porta, ela a abriu com um simples gesto da mão, sua magia fluindo como o vento.

Nathan entrou cegamente, guiado pelas instruções não ditas. Seus olhos, normalmente tão cheios de vida, agora estavam vazios, como os de um boneco. Jane aproximou-se dele com uma graça sensual, mas suas intenções eram de pura manipulação. Ela queria Nathan como aliado, e se ele não cooperasse voluntariamente, ela o usaria como sua peça-chave.

Ela parou bem na frente dele, avaliando-o. Ele era realmente lindo, com cabelos negros de sol e olhos castanhos escuros, que naquele momento pareciam apenas duas esferas inertes. Jane sussurrou em seu ouvido, sua voz suave e hipnótica:

- Traga a garota até mim e destrua qualquer coisa que estiver em seu caminho.

Nathan virou-se lentamente para olhar diretamente nos olhos de Jane, seus lábios a poucos centímetros dos dela. Com um leve aceno de cabeça, ele confirmou sua obediência. Jane recuou, satisfeita, e liberou-o de seu transe momentaneamente. O alfa saiu, ainda sob o encanto, caminhando de volta para sua casa.

Mas Nathan não era o mesmo. Ele não percebeu, mas Jane havia tirado outra coisa dele. O colar escarlate que ele usava, um amuleto antigo, passou para as mãos de Jane. Segundo a avó de Luna, aquele colar era a chave para prender o caos que Jane tanto desejava controlar. Com um sorriso de triunfo, Jane segurou o colar, sentindo a energia pulsante que emanava dele. Agora, ela estava mais perto do que nunca de alcançar seu objetivo.

Legacy: O filho do alfa e a feiticeira Completo Até 15/10Onde histórias criam vida. Descubra agora