capítulo 69

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Essa foi a noite em que mais dormi bem desde que cheguei nesta cidade. Acho que eu estava tão esgotada com tudo que havia acontecido que minha mente simplesmente se desligou quando deitei na cama. Eu sabia que assim que o dia amanhecer, se eu tivesse que me levantar e viver a minha vida, eu tinha que resolver algumas coisas. Mas naquele momento eu só pensei em fechar os olhos e nunca mais acordar. Entretanto, o despertador novamente me fez voltar à realidade e eu não queria ter que levantar da cama. Sente-se a vontade de levá-lo contra a parede, mas eu não queria ter que comprar outro nem reprogramar. Quando vestia minhas roupas e saí do meu quarto, aquela sensação de estranheza e medo fez com que eu sentisse um frio na barriga. Eu não estava enfrentando um novo inimigo, iria enfrentar o meu pai. Desde a noite passada, nós não falamos nada. Na verdade, aposto que ele ficou confuso ao acordar hoje de manhã em sua cama.

Caminhei até a escada e desci os degraus bem devagarzinho, tentando prolongar o meu caminho antes de encarar o meu pai. Internamente ele estava me culpando e me achando uma ridícula. Eu já sou mais do que só uma garota que tem medo de contar a verdade ou de expor os sentimentos para seu pai. Eu não deveria ter medo dele de forma alguma, não deveria temer nada dentro dessa casa. Mas com o fato de que ele é um caçador e que eu sou uma bruxa e que nossos princípios divergem, é impossível não se sentir assim. Engoli em seco. Ao passar pela porta da sala, entrar num ambiente bastante iluminado por causa das grandes janelas de vidro. E logo ouvi sentado em sua cadeira habitual. Ele parecia estar muito distraído lendo um enorme jornal. E eu te enquadro da sua parte, já que hoje em dia os jornais poderiam ser lidos em seu tablet. Mas o meu pai adorava. Essa é a forma mais anquisa de viver. Talvez por isso ele seja tão antiquado. Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei. Talvez por isso ele seja tão antiquado. Por incrível que pareça, ele não se moviu. Nem levantou o olhar. Eu sabia que ele sentia a minha presença. O silêncio era palpável. Minha mãe tomou um gole do seu café. Fomentando a tensão e correr pelo ambiente. Ela depositou a xifra de volta em seu piso. E me iluminou. Sexamente. Eu amava ela. Sabia que era mais forte do que imaginava. O problema era que ela tinha muito medo de meu pai. E eu me questionava. Como alguém pode estar com uma pessoa na qual tem medo de ser quem é? Eu nunca permitiria que algo assim acontecesse comigo. Tenho sorte de ter o Adrian.

Ele não é esse tipo de homem. Tínhamos, sim, um segredo, afinal, até ontem ninguém sabia o que éramos e que estávamos juntos, mas fora isso, não há nada que precisamos impedir que o outro faça.

Sentei-me em meu lugar e respirei fundo, apoiando os braços na mesa. Meu pai, continuou estático, porém, dava para sentir que ele estava nervoso e irritado.

— Vamos ficar com esse clima, até quando? — Resolvi quebrar o silêncio constrangedor. Ouvi sua respiração parar. Seus dedos esmagaram as folhas do jornal. — Sei que fui... Pai, eu não tenho culpa por ser assim.

Finalmente baixou o papel e me encarou.

— Lorenzo — Disse minha mãe, ao pigarrear. — Também guardo segredos sobre mim. — Confessou, fazendo com que ele também a fitasse, surpreso. — Você... — Dava para sentir que ela estava nervosa. Sua expressão era traduzida nas palavras trêmulas.

— Sei que somos diferentes e não queriamos o decepcionar. — Completei.

Novamente, o silêncio tomou conta. Meu pai parou no tempo, olhando para frente, até que:

— Somos uma família — Pareceu decepcionado. — Não deveríamos ter segredos.

— Ah não? — Levantei uma das sobrancelhas. — E quanto a nossa família, ou melhor dizendo, o senhor e seus tios, sobrancelhas e etc, serem caçadores?

— Luna! — Me repreendeu, mas não liguei.

— Já era difícil ter que admitir que sou diferente, que tenho poderes estranhos no qual não tenho total controle, e descobrir que: se eu falasse, poderia ser morta.

— Isso não ia acontecer — Olhou-me como se eu tivesse dito um absurdo. — São a minha família.

— Eles ligariam? — Questionou, a minha mãe. — Já ouvi muitas histórias. Sei de muita coisa, Lorenzo, não acho que isso os impediria.

— Elisabete, não diga isso. — Pegou em sua mão, olhando nos seus olhos.

— Nunca disse ao seu pai, o que sou, e a minha descendência.

— Não achei que fosse relevante. — Respondeu.

— Não?

Isso a chateou.

— Bem, devemos falar toda a verdade. — Interferi. — Mamãe, escondeu seus poderes, por anos, pois tinha medo dos meus tios.

— O que? — Ele arregalou os olhos, a olhando, mas minha mãe estava chateada demais para o encarar. — Achei que não tinha desenvolvido...

— Se eu disse a verdade, você, jamais, aceitaria. — Retrucou.

— Elisa!

— Voltando — Quero ser breve e enfática. — Eu sou uma feiticeira. Abandonei o meu direito de bruxa, pois sou uma profecia que tinha como trabalho a ser feito, e fiz noite passada.

— Espera, o que está falando?

Acho que é muita coisa para raciocinar.

— Pai, vamos focar. — pedi.

— Quer saber? — Olhou-me furioso. — Preciso de um tempo.

— Não vai contar para toda a família, vai? — O questionei.

— Não! — Se preocupou. — Ninguém pode saber.

— Ou eles nos mataria? — Dei um sorriso sarcástico.

— Luna, vamos ter que conversar sobre os riscos de...

— Acredite, eu sei. — Interrompi. — Ou posso ser chamada de louca, ou morrer na fogueira.

— Acha que isso é uma piada? — Se levantou. — Não faz ideia do perigo que corre.

— Sabemos bem, Lorenzo. — Minha mãe se pronunciou. — Passei anos, com medo de que algum deles descobrissem sobre mim. Com medo de que você me rejeitasse, se soubesse sobre meus poderes e com medo de que minha filha fosse exatamente como eu. — Ela deu uma pausa dramática, se levantou e finalmente o encarou. — Não somos demônios, como sua família diz. Não temos como controlar o que aconteceu. Eu sempre esperei que você me entendesse, que soubesse dos meus medos, porém, sempre senti que, ao contar, você me rejeitaria.

— Isso não é verdade. — Franziu o cenho, triste. — Eu amo você, Elisa.

— Ama a mulher simples, não a bruxa. — rebateu.

— Como pode saber, se nunca me deixou mostrar? — Foi até onde ela estava, enquanto eu, assistia. — De todas as mulheres do mundo, escolhi você, sabendo da sua origem, e sim, me choca saber que despertou isso, mas o que mais me deixa magoado, e nunca ter me contado.

— O que diria?

— Que não importa o que seja, eu a amo e ninguém vai machucar a minha família. — Pegou em suas mãos. — Estou chateado por saber que as duas — me olhou e eu sorri. — Escondem coisas de mim.

— Como eu ia saber que seria compreensivo? — Brinquei, porém, ele não achou graça. — Certo, desculpa.

Eu poderia contar a parte em que namoro um lobo, entretanto, acho que por hora, é bom que ele não saiba.

Acredito que meus pais têm muita coisa para conversar, e como a hora das aulas se aproxima, tenho que sair.

Legacy: O filho do alfa e a feiticeira Completo Até 15/10Onde histórias criam vida. Descubra agora