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                    Júlia.

(...)

Ele está encostado na cabeceira da cama, vejo logo que sair do banheiro, tento segurar as laterais do roupão pois não conseguir amarrar como deveria.

Vestindo apenas uma calça cinza de tecido leve, seu abdômen está totalmente exposto, suas pernas cruzadas, e um computador apoiado sobre elas.

Mas ele não tirou sua atenção do que está fazendo.

Estes três dias presa aqui começam a fazer efeito em minha cabeça,  desde que acordei naquele hospital o seu rosto tem sido praticamente o único que tenho visto com tanta frequência e mesmo assim nada nele me parece familiar.

Para resguardo da minha  sanidade não olhei por muito tempo em sua direção, parece que estou meio sensível a isso agora, não deveria ter permitido  que fizesse aquilo, afinal de contas sou sim um ser humano.

Fui então para onde tem as suas roupas, até achei que talvez iria me oferecer alguma ajuda, mas ele não fez, então agarro  aquilo que seria mais simples de vestir, uma camisola de cetim quase no mesmo tom de sua calça.

Depois que conseguir por aquela roupa em mim, fui rumo à cama, vejo que há sobre ela uma barreira de travesseiros semelhante à que fiz na noite anterior, eu deveria agradecer, mas...

É ofensivo, afinal ele acha que vou lhe atacar? Olho para ele pelo conto dos olhos, e balanço a cabeça negando aquele absurdo.

Contrariando algo que fez bastante ultimamente, agora ele não olha para mim, toda a sua atenção está em seu computador, mal pisca enquanto digita em suas teclas.

Não que isso me incomode, é só que soa meio superficial de sua parte, a algum tempo se comportava de maneira totalmente diferente... Solicito, que dirá até preocupado.

Agora parece a quilômetros de distância, mesmo estando a menos de dois metros de onde estou.

Os dois comprimidos junto ao um copo de leite sobre a mesa de cabeceira sei que são para mim, então os engolir sem nem o questionar, ele pode permanecer da maneira que está agora, não me importo, não me importo mesmo.

Deito do meu lado da trincheira, e o sono já começa a surgir apesar de ainda ser bem cedo, não demora o efeitos dos remédios que tomei, mas por alguma razão não consigo dormir.

Estou inquieta e não tenho posição que me agrade, forço a memória para ver se ela espreme ao menos uma imagem, mas não adianta não me vem nada, isso é tão frustrante, maldita cabeça vazia.

Em alguns momentos as memórias que não tenho do agora parece me manter ocupada demais em buscá-las, e aquelas que tenho do passado, não ocupam o espaço que deveriam, não pareço está lhes dando a devida importância.

Minha única amiga, dizem que está morta, não tenho lembranças disso, nem sinto em meu coração que seja verdade, acho que é o que disseram, devo estar em negação.

Ele ainda continua no mais absoluto silêncio, apenas com sua tela, enquanto eu olho para o teto no mais absoluto tédio.

Então quando finalmente fecha aquele computador se levanta, achei que iria falar alguma coisa, mas não, apenas caminha em direção ao banheiro.

Foi inevitável não olhar, teria que ser no mínimo cega para não notar os seus ombros largos e bem definidos, aquela sua envergadura máscula, não é algo que der para fingir não ser impressionante, sinceramente alguns pensamentos vindos de mim mesmo, começam a me surpreender.

Não confiar em tudo que sai de sua boca até parece uma reação natural vinda de mim, afinal não o conheço pelo menos não agora, mas isso não significa que não veja a quão bonito ele é, e negar isso seria só mais uma mentira.

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