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Por Joe

Minhas mãos tremiam tanto que a lata de cerveja se agitava ao ponto de criar espuma, eu já não conseguia respirar automaticamente, eu tinha que obrigar meu corpo a tragar cada sofrida e tortuosa lufada de ar, que tão contra minha vontade, manteria meu corpo vivo.

Meus olhos ardiam de tanto chorar a esse ponto, o celular no meu bolso continuava a vibrar como se sua vida dependesse disso.

Diante do rio, sentado na beirada da ponte, eu ainda tentava inutilmente secar as lágrimas, minha mão finalmente soltou a latinha de cerveja que caiu do alto da ponte, chocando-se na água do rio. Avaliei todo o seu trajeto a deriva no ar, até que a corrente a levasse para longe.

Puxei o telefone do bolso, atendendo a ligação sem ver o nome do chamador.

Eu não precisava ver, sabia quem era.

—Phi Joe?! —Sua voz antes angelical agora era um grito irritado. —Como pode fugir assim? Eu disse que te tornaria protagonista de um filme e...

Eu ri, ri alto o suficiente para fazer o homem se calar por um instante, o som do restaurante ao fundo mostrava que ele ainda estava onde o deixei.

Contra tudo o que eu conhecia sobre Ming, ele esperou minha crise de riso se findar, como se aceitasse o alto do meu deboche de forma humilde.

Não parecia o mesmo homem que me manteve acorrentado pelas últimas doze horas a essa altura.

—Phi... Eu estou indo até você.

—Você sabe onde estou? —Perguntei com a voz arrastada pelo álcool.

—Sim... Eu tenho o rastreio do seu celular...

É claro que ele tem, o brinquedo favorito sempre a sua disposição.

—É claro... Assim fica mais fácil para você ter o controle sobre mim não é?

Por um instante o tumulto do seu lado da linha parou, sequer ouvi sua respiração.

—Achei que você ainda estava no banheiro. —Ele murmurou de repente mudando de assunto, observei a forma como a lua cheia desenhava no céu, ouvindo o som dos carros vindo de seu lado da linha.

Ele não demoraria para chegar, afinal... Eu não fui tão longe.

Assenti para mim mesmo, me levantando do chão da ponte, minha mão livre apertou a estrutura de metal em quanto eu desliguei a ligação, deixando o aparelho no parapeito da ponte.

Olhei para mim mesmo por um instante, arrumando brevemente o terno no lugar, penteei o cabelo com os dedos lentamente. Então, eu pulei no parapeito da ponte, com agilidade o suficiente para me apoiar na curta estrutura de metal do lado de fora dela.

As pessoas que passavam, de repente gritaram assustadas, pude ouvir ao fundo alguns carros passando.

Mas tudo o que eu podia ver era o brilho prateado da lua cheia, que ora se escondia atrás das nuvens, ora parecia em toda sua glória com limpidez.

—Rapaz! Não faz isso!

—Moço??

—Pessoal chamem os bombeiros!

Mas a lua, agora parecia cada vez mais próxima, como se eu pudesse toca-la.

Sorri.

—Phi! Phi Joe! —O grito assustado me fez voltar a realidade, me levando a virar minimamente a cabeça, para ver a figura que descia do porsche preto, parando uma via toda.

Os olhos arregalados castanhos me encararam cheios de pavor.

—Ei rapaz você conhece ele?

—Moço desce daí!

A Luz que Deixou seus Olhos • MingJoeOnde histórias criam vida. Descubra agora