A Luz que Deixou seus Olhos • MingJoe

38.

Por Joe

—E... porque você se importou em ouvir o meu lado? —Ela questionou de repente baixinho, me trazendo de volta a realidade. —Geralmente Phi Jim só tenta resolver as coisas e fica em silêncio, ele não se preocupa em me perguntar o que aconteceu.

—Porque... Você não teria feito aquilo sem razão. 

—Da onde você tirou tanta certeza? Sequer nos conhecemos.

Assenti calmamente.

—Talvez fosse só uma sensação, então. Mas estava certo.

Lidy acabou por aceitar calada, aquela foi nossa primeira conversa depois de dois anos.

Não posso negar que senti uma angústia enorme em apenas dizer tudo a ela, mas como eu poderia provar? Como poderia continuar ao lado dela e protegê-la? Se eu dissesse essa loucura, ela negaria qualquer possibilidade e então fatalmente isso chegaria a Ming e por fim, eu não teria mais a menor chance de ficar ao lado dela.

Então eu precisei, contra toda minha vontade de apenas abraçá-la apertado, sufocar esse sentimento.

Quando o porshe preto brilhante finalmente chegou, saímos da cafeteria em um silêncio agradável.

Então o vidro do motorista abaixou o suficiente para que meu coração errasse uma batida.

Talvez, passariam-se séculos entre nós, vidas, mundos.

Mas a forma como apenas seu rosto perfeito podia fazer minhas pernas tremerem, isso não mudou.

Ming tirou o óculos escuro prada e se virou para nós dois na calçada.

—Tio? Cadê Phi Jim? —Eu que segurava a mão de Lidy, sequer percebi que a apertei ansiosamente. —Phi Joe, minha mão. —Ela sinalizou me trazendo para a realidade.

Minha mente viajou sem minha permissão, mas a pessoa dentro do carro ainda mantinha a expressão fria que em nada diminuía sua beleza estonteante, porém não podia negar que me fazia viajar para as vezes em que me perdi em seus sorrisos com um toque travesso e inocente, aquele olhar que parecia carregar uma ambição doce em conhecer tudo o que o mundo tinha a oferecer.

E principalmente, a risada alta aconchegante, que podia fazer você se sentir sempre em casa, mesmo que estivessem no meio de um mercado.

Ele foi um dia o meu lar.

—Desculpe. —Falei em quanto soltei sua mão. —Bom, segundo a agenda que eu tenho, vocês não tem mais compromissos hoje, então acredito que podemos nos separar aqui! Bom fim de tarde e até...

—Espere. —Ming me interrompeu. —Lidy entre no carro. —O comando suave fez a garota assentir e entrar no banco traseiro rapidamente. Quando a porta se fechou, meu olhar voltou para o homem abrindo a porta do carro.

Precisei desviar o olhar para o chão quando sua figura alta estava em pé na minha frente.

A camisa de seda escura de tecido reluzente estava aberta até metade de seu peito, o brilho dourado de seu colar me tentava a encarar o seu peitoral forte que estava um pouco a mostra.

—O endereço está no GPS do carro. —Ele falou de repente. —Vamos. —Assim que o homem foi para o banco de trás, me vi obrigado a entrar no banco do motorista e aceitar seu comando silencioso.

Bati os olhos no GPS que apenas mostrava o caminho, me obrigando a dirigir o carro.

Meu plano era ser um fantasma dentro do veículo, mas não pude evitar, depois de um silêncio temporário, levantar os olhos para o retrovisor.