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Por Joe

Para ser honesto, os poucos que se passaram após aquela manhã confusa, pareceram na época correr com uma normalidade tão tediosa que me levava a suspirar muito frequentemente.

Eu estava realmente preso em algo inexistente.

Algumas pessoas persistiam em me perguntar o que andava me distraindo tanto, mas eu não tinha como responder, era tão bobo.

Eu era um tolo de proporções continentais.

Ele não apareceria no set novamente. Eu sabia mas esperava.

Ele não apareceria na porta da minha casa tarde da noite. Eu sabia também mas esperava.

Ele não subitamente entraria em algum restaurante em que eu estivesse, não haveria troca de olhares, não haveria outra oportunidade em que eu.

Sentisse o calor a maciez e a jovialidade daquela boca angustiada e faminta.

Minha chance vazou pela janela. Mas chance de que? De ter uma única noite?

Mesmo que tivéssemos ido para cama, o final seria fatalmente o mesmo, ele sairia na manhã seguinte e eu não o veria nunca mais.

Então comecei a me convencer de que talvez ele não fosse bom nisso, a ponto de que eu me arrependeria de tê-lo levado para casa e tudo aquilo não passaria de um assunto engraçado para rir algum dia.

Nesse final de tarde, eu estava sentado no bar bebericando minha água em quanto comia mais uma tábua de churrasco coreano.

—Phi Joe, porque não vai beber?

Franzi o cenho rindo.

—Eu já respondi isso dezenas de vezes só hoje.

—Então recobre minha memória. —Ele questionou franzindo o cenho em quanto fechava os olhos embriagado.

—Eu tenho uma cena importante amanhã cedo e a tarde eu tenho que levar Lidy no médico.

—Uhm sim Lidy... —Yim murmurou o nome dela virando mais um grande gole de cerveja na boca, então seus olhos se arregalaram e ele virou para mim prestes a dizer algo. —Phi e você acredita que...

Meu celular tocando alto nos interrompeu, levantei para atender sem prestar atenção no número do chamador, que de qualquer forma não estava salvo na memória do meu celular.

—Uhm Alô?

—Phi Joe? —A voz rouca e arrastada soou do outro lado.

Mesmo que o barulho das conversas e a música do bar estivesse num volume que estava além do confortável e a voz que soou do outro lado do aparelho estivesse baixa e calma.

Eu ainda podia ouvi-lo em alto e bom tom. Tudo ao meu redor pareceu desaparecer.

Era uma voz tão bela quanto o seu dono.

—Sim? —Minha pergunta pareceu tola e eu me amaldiçoei assim que ela saiu de minha boca. A esse ponto eu fechava a porta do pequeno bar, parando na calçada do lado de fora.

—É o Ming. —Ele confirmou o que eu já sabia a essa altura. —Esta ocupado?

Olhei para Yim pela parede de vidro transparente franzindo o cenho. Estava tarde, eu realmente tenho que acordar cedo e eu já estava de saída.

—Não, estou livre por que?

—Bom... venha até mim então? Vamos jantar.

Meu coração acelerou, aquela sensação gelada de adrenalina consumiu meu interior. Era gostoso, perigosamente gostoso.

A Luz que Deixou seus Olhos • MingJoeOnde histórias criam vida. Descubra agora