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Por Joe

Minha distração, em quanto o cabeleireiro passeava pelo meu cabelo me levou a rolar o feed do Instagram de meu atual chefe, até o final, chegando nas primeiras fotos publicadas.

Precisei segurar o longo suspiro de saudade que me tomou ao chegar em uma foto tirada por outra pessoa em um fundo verde na Inglaterra, ele sorria abertamente em quanto seus olhos brilhavam para alguém ao seu lado.

Era aquela expressão, capaz de balançar todos os pilares do meu mundo. Suas roupas coloridas lhe faziam jus a juventude, dei um zoom pequeno na foto, podendo ver no reflexo de um vidro do carro no fundo o rosto de quem ele presenteava aquele olhar cheio de admiração.

Franzi o cenho, observando o reflexo nítido de Tong, só pude bufar e bloquear a tela do celular desviando o olhar, não queria nem pensar nisso.

Ergui os olhos para o espelho, quando o cabeleireiro desligava o secador.

Meu rosto foi tomado pelo choque, o cabeleireiro sorriu para mim.

—Está pronto! Gostou? —Sua pergunta era retórica, óbvio que eu não precisava gostar, aquilo não foi feito para mim.

O rosto do antigo Joe, aquele que teria vinte e nove anos a essa altura, o tio de Lidy, o dublê de Tong.

Me encarava fixamente.

Eu precisei de um momento para voltar a respirar e finalmente conseguir desviar os olhos do meu próprio rosto. Que desde que eu despertei como Wen eu não havia voltado a ver.

Afinal, mesmo nos filmes em que estive, só minhas costas apareciam.

—Obrigado. —Respondi brevemente, fazendo menção de me levantar. —Se já terminou eu estou de saída.

—Você... Não parece ter gostado. —O homem me avaliou por um momento, em quanto eu puxava meu casaco e o tablet para sair.

—Eu preciso gostar?

—Bom...

—Você fez o seu trabalho, eu farei o meu. Obrigado. —Respondi passando os dedos na franja agora preta do meu cabelo. —Tenha uma boa tarde.

A essa altura eu precisava pegar Lidy na escola e levá-la até a aula de ballet, abri o carro importado que eu peguei naquela manhã e dirigi até a escola da minha sobrinha, tentando ignorar a forma como meu coração se apertava toda a vez que meus olhos batiam no retrovisor.

Secretário Jim me passou várias informações essa manhã e pediu que eu fosse o mais responsável possível pela menina. Como se eu não fosse cuidar dela com a minha vida, mas ele não sabia disso de qualquer forma, aliás nenhum deles deveria saber.

A essa altura, depois da minha noite em claro encarando o teto, minha mente parecia um turbilhão. Estar próximo ao Ming me causava uma angústia silenciosa, aquele sentimento sufocado pela raiva que ajnda gritava no fundo de mim, mas eu estava disposto a enfrentar meu maior pesadelo em prol de cuidar de Lidy e conseguir cuidar das dívidas da senhora Hong.

Minha mente estava em uma luta, quando saí do carro e me encostei em sua porta fechada, passando os dedos na camisa social branca até a calça social preta, ergui a cabeça quando o som das conversas se aproximaram.

A garota que saia do grande portão preto da escola me encarou lívida por um momento, seu caminhar parando subitamente.

—Ei Lidy? —Uma garota a chamou de repente, já que elas estavam com os braços dados e sua súbita parada fez a outra quase cair.

Lidy soltou o braço da menina, piscou um pouco os olhos como se quisesse despertar de um sonho e caminhou até mim, sua expressão se esvaziou daquele choque inicial.

A Luz que Deixou seus Olhos • MingJoeOnde histórias criam vida. Descubra agora