18.

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Por Joe

Minhas mãos tremiam, eu não sabia se conseguiria assinar meu nome, parecia que subitamente eu havia esquecido como escrever.

O celular no meu bolso vibrou capturando minha atenção.

—Sim? —Murmurei com o meu último fio de voz, a voz conhecida soou do outro lado.

—Nong Joe?

—Sou eu.

—Estou te ligando para dizer que você passou no cast para o filme! Parabéns!

O barulho alto do respirador concorreu com altura da voz animada que soava do outro lado da linha. Eu não respondi, não consegui, desliguei o celular, deixando ele escorregar entre meus dedos e cair na cadeira em que eu estava sentado.

—Khun Joe... —Minha atenção foi novamente puxada pra outro lugar, dessa vez a enfermeira me avaliava, meus olhos ainda estavam turvos pelas lágrimas. —Ja assinou?

Neguei com a cabeça lentamente, eu não confiava mais na minha própria voz, sinceramente eu não confiava mais em nada. Meus olhos correram pela janela, a chuva ainda se fazia presente, meu coração ainda doía. Deus deve ter me abandonado, meu anjo da guarda me abandonou.

—O senhor precisa assinar...

Eu encarei seu rosto, a expressão que eu nunca esqueceria nem nessa vida, nem na próxima. A pena pintada e cravada em meu coração.

—Existe uma possibilidade ? —O murmúrio sequer parecia minha voz, era baixa, quase que vítima do silêncio. Mas ela conseguiu me ouvir. Para em seguida negar lentamente com a cabeça.

—Não senhor, mesmo que eles acordem... O corpo de ambos já sofreu muitos traumas... Eles fatalmente agonizariam até o final. —As lágrimas quentes corriam pelo meu rosto livremente. —A morte cerebral deles, já foi atestada Khun Joe.

—Eu só... não consigo entender...

Porque Deus me deixou? Por que eu estava sozinho? Porque...

Será que isso era o meu retorno por ter ido embora daquele jeito?  O universo podia ser cruel, ele sabia ser cruel comigo.

Minha mão se fechou ao redor da mão quente de Phi.

—Ele está quente ainda... —Falei brevemente. Ela assentiu lentamente.

—A máquina respira por ele Khun... Por isso ele ainda está quente, quando ela for desligada naturalmente o coração vai parar.

Abaixei a cabeça até encostar em sua mão, com cuidado para não esbarrar nos inúmeros acessos. Meu choro aos poucos se tornou uma cachoeira.

Eu tinha sete anos, quando Phi segurou minha mão com força dentro dos corredores de um hospital.

Phi... vai cuidar de você Joe... Phi vai tentar ser o melhor para você Joe... —Ele murmurou com o rosto choroso.

Phi tinha apenas dezesseis anos.

Ele terminou o ensino médio com um sufoco, trabalhando em todos os sub empregos que ele encontrou.

Minha dor transcendia meu corpo com tanta força, que apenas o abraço apertado de Tia Rose me fez respirar fundo, eu estava sufocado.

Meu pescoço era apertado pela angústia de todos os anos que perdi sua companhia.

—Tia Rose... —Gemi baixinho em meio aos soluços altos. —Eu não posso... assinar isso... não posso...

—Khun Joe... —A enfermeira começou novamente, mas Tia Rose levantou a cabeça.

A Luz que Deixou seus Olhos • MingJoeOnde histórias criam vida. Descubra agora