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Por Joe

Quando estacionei o carro na frente de casa, eu encostei a testa no volante com cuidado, sentindo o cansaço absurdo me abater.

Estava tão imerso naquela confusão. Que desde que Sol me deu todo aquele relatório da investigação, eu sequer havia me permitido chorar.

Uma chuva forte caia, desde que despertei do coma essa era a primeira vez que eu via uma chuva como essa.

Sai do carro o fechando, permitindo que meu corpo escorregasse pela porta até que eu sentasse no chão, chorando baixinho em meio ao barro que se formava no quintal da casa simples.

Fiquei um bom tempo ali, me permitindo chorar escondendo meu rosto em meus joelhos, tentando esfregar minha testa ali, até que meus pensamentos se limpassem.

A dor da traição parecia percorrer meus músculos como eu nunca havia sentido antes.

De uma forma tão idiota, eu havia me deixado levar pelo encantamento, por alguém que estava envolvido na morte do meu irmão, por alguém que decidiu proteger uns dos assassinos do meu irmão a cima de mim.

A culpa de permitir que uma pessoa assim estivesse próximo a Lidy, como ele estava a essa altura, também me atingia com força.

—Joe? Filho? —eu não notei quando a Senhora Hong saiu da casa e correu até mim, suas mãos apertaram meu braço em quanto a chuva começava a molha-la, a essa altura eu não tinha força para levantar a cabeça e pedir que ela se abrigasse.

Eu já não tinha força nenhuma a essa altura.

Tudo o que minha mente repassava era o sabor da morte daqueles lábios doces que eu tão enganado tomei para mim três anos atrás.

—Filho? —Mamãe chamou quando sai do banho, ela havia se trocado e se secado da chuva, colocando um prato de caldo na mesa. —Coma algo sim?

Caminhei até a mesa, depois do meu banho, eu ainda agia no automático, sentei encarando o prato por um momento.

—Querido? O que houve?

Balancei a cabeça negando em silêncio.

—Saiba, que mesmo que o mundo esteja contra você, eu estarei sempre ao seu lado.

Meus olhos se ergueram para o rosto da senhora que sorria docemente para mim, antes de alisar meu cabelo e então minha bochecha.

—Você ficou bonito com esse corte, parece outra pessoa. —Ela murmurou rindo baixinho. —Alguém mais sério e confiável... Você amadureceu Joe.

Percorri seu rosto carinhoso por um instante com meu olhar, o afeto natural que eu sentia por essa senhora se intensificando.

—Obrigado mãe... —Respondi, me impedindo de voltar a chorar. —Você... Sabe o que aconteceu comigo na Coréia?

A expressão temerosa dela me fez franzir o cenho, notei que por um instante ela não queria dizer.

—Você... O motivo da nossa briga, honestamente foi pela sua orientação sexual. —Ela respondeu suspirando profundamente. —Foi um escândalo que afetou muito sua carreira, quando saiu... Que você gostava de garotos.

Então, nós éramos mais parecidos do que apenas a aparência.

—Eu sinto muito amor... —Ela disse baixinho erguendo meu rosto pelo queixo com carinho. —Mamãe não te apoiou antes, mas... Não importa quem você amar, eu vou  sempre desejar que você seja feliz e seguro. Vou cuidar melhor de você querido.

—Desculpa mãe. —Isso era um pedido de desculpa por eu não ser a pessoa para a qual ela queria dizer isso. E esse fato era algo que me doeria sempre em silêncio.

A Luz que Deixou seus Olhos • MingJoeOnde histórias criam vida. Descubra agora