12.

41 6 14
                                    

Por Joe

Sentei no carro fechando a porta, observei a outra pessoa com a cabeça levemente encostada no vidro, os olhos fechados em quanto massageava as têmporas.

Mordi o lábio sentindo meu estômago gelar ansioso.

—Uhm Ming o que houve? O que queria falar?

—Phi você é bi?

Franzi o cenho confuso, ele ainda mantinha os olhos fechados, o rosto liso e a respiração compassada. Mas sua expressão não me dava nenhuma dica do que ele queria dizer com essa pergunta.

—Eu? Eu sou gay Ming. —Respondi rindo alto com o pensamento de a menor possibilidade em que eu estivesse com uma mulher desse jeito. O rapaz abriu os olhos e se virou para me avaliar, sua sobrancelha arqueou me olhando em desafio.

—Então, por isso você é tão próximo daquele maquiador?

Seu olhar angelical estava de uma birra quase adolescente, o que me fez rir mais ainda e negar.

—Não, nós somos colegas de faculdade apenas... O que foi? Você está bravo comigo?

Ming continuou me avaliando sério, como se buscasse um único sinal de mentira nas minhas palavras. O que me levou a comentar sobre algo que ainda me cutucava levemente por dentro.

—E você? —Ele ficou confuso rapidamente, tombando a cabeça pro lado minimamente. —Você gosta do Phi Tong?

—Nunca mais diga isso! —Ele resmungou irritado. —Ele é o namorado da minha irmã.

O alívio tomou meu corpo como uma onda, me levou a respirar fundo e encostar no banco do carro.

—Ah ele está namorando? Que bom espero que sejam felizes... —A expressão de Ming ainda era irritada. —O que foi... eu estou feliz por eles...

—Então... eu vou para casa. —Ele anunciou saindo do carro quase que correndo.

O segui com os olhos confuso, subitamente aquele garoto que parecia ser sempre tão contido demonstrou uma montanha russa na minha frente.

Os dias que se passaram, novamente em uma torrente tediosa, voltei a uma rotina que me era tão comum, mas desde aquela entrada espetacular na minha vida me fez ver o quanto eu sentia falta disso.

Beijar, tocar, sentir.

—Tio! —O grito irritado me trouxe a realidade, pisquei algumas vezes vendo a menina com o joystick na mão. —Você tá me ouvindo?

A essa altura era fim de semana e eu estava sentado na sala de estar, diante da televisão onde Lidy jogava o seu jogo compenetrada.

Desde que cuido de Lidy, ela nunca foi uma criança comum. Não gostava de brincadeiras ao ar livre, não costumava sair e poucas vezes me pediu para brincarmos na pracinha. Tive medo de tudo isso ser fruto do trauma que ela sofreu jovem. Mas depois de muitos laudos de neuropsicólogos e neuropediatras eu pude me tranquilizar e entender que era apenas a personalidade dela.

Ela era muito inteligente, observadora, criativa e expansiva. Gostava de discussões longas, ver filmes e séries dos mais diversos e claro jogar muito vídeo game.

Rose costumava dizer que Lidy era como eu quando criança. Minha reação sempre foi rir e negar. Embora Rose tenha ajudado Phi a me criar depois da morte dos meus pais e depois cuidou de Lidy. Eu ainda achava engraçado as colocações dela de que Lidy era como minha filha.

A Luz que Deixou seus Olhos • MingJoeOnde histórias criam vida. Descubra agora