Por Joe
Tarde de uma noite quente de primavera, eu revirava as panelas na cozinha, observando pelo canto de olho as duas pessoas sentadas na mesa de jantar se encarando.
O rapaz estava compenetrado na pequena batalha de olhares com Lidy, que arqueava cada vez mais a sobrancelha.
—Phi é namorado do Tio Joe?
A pergunta súbita de Lidy interrompeu o silêncio nada passifico naquela noite anormal e estranha. Eu sequer me lembrava a última vez que fui louco o suficiente para trazer alguém para casa desde que Lidy chegou.
—Somos... amigos.
—Mas vocês estavam sem camisa no quarto.
—Okay Lidy, já chega. —Interrompi as colocações da criança exageradamente criativa aos seus nove anos. Seus olhos questionadores passaram dele para mim. —Ele é amigo do Tio.
—Amigos tipo... o Tin e o Gun de My School President?
Okay chega de deixá-la assistir séries boys love.
—O que é isso? —Ming questionou me olhando subitamente curioso. Pisquei chocado entreabrindo os lábios.
—É uma série que eu vejo no celular.
—Eu acho que devo diminuir suas horas de telas. —Respondi mordendo a língua irritado.
—Tio! Eu sou quase uma pré adolescente.
—Quase não é ser uma. —O rapaz complementou. Instantaneamente me virei para evitar a gritaria que viria a seguir.
Lidy estava na fase em que os desenhos da TV deixaram de ser interessantes, mas séries adolescentes se tornavam o foco central dela. A esse ponto ela ainda não havia abandonado os desenhos, mas costumava ver escondido.
Era o começo da época rebelde, o ano estava acabando e então ela estaria na quinta série. Logo, fazia um bom tempo que eu evitava recordá-la de que ela ainda era uma criança.
As meninas infelizmente são levadas a madurecer mais rápido, abandonando as bonecas e brincadeiras frequentemente mais cedo que os homens, eu definitivamente não queria que ela seguisse essa pressão social, mas eu não podia estar com ela vinte e quatro horas por dia a escola e os amiguinhos eram os maiores canalizadores de suas mudanças.
Lidy no entanto encarou Ming elevando a sobrancelha, uma expressão levemente petulante em seu rosto infantil.
Assustadoramente parecida com a expressão do rapaz quando eu ofereci uma carona mais cedo, acabei rindo baixinho. Fazendo os dois me encararem.
—O que houve Phi Joe? —Ele perguntou curioso apertando os olhos lindamente. A essa altura ele usava uma camisa bege minha, que o tornava ainda mais resplandecente no meio da minha cozinha.
Estranho como apenas a presença dessa pessoa linda como um anjo caído podia fazer minha casa parecer brilhar ao seu redor. Não pude deixar de franzir os lábios lembrando da sua expressão irritada e confusa mais cedo questionando sobre Lidy ser minha filha.
—Ela é minha sobrinha. —Respondi o rapaz irritadiço, a compreensão rápida o fez respirar fundo e recuar um pouco na sua postura defensiva. —Eu não sou casado, como traria você aqui se fosse?
—Bom... você deve admitir que isso foi estranho.
—Eu não sou o tipo de pessoa que trai. Se eu estou com alguém sou leal até a morte. —Acrescentei rindo baixo, sua expressão mudou para um sorriso leve. —Alias, qual o seu nome?
O homem me olhou no fundo dos olhos, um olhar tão penetrante que fez meu coração pular alto no peito novamente.
—É Ming Phi, meu nome.
—Então Ming, vista isso. —Disse lhe estendendo uma camisa do armário em quanto vestia uma rapidamente. —Vou alimentar você e minha filha. Espero que minha esposa não apareça a noite aqui em casa.
O rapaz arqueou a sobrancelha para minha risada divertida, puxando a camisa pra si.
—Lidy não gosta de ser tratada como criança.
—Mas ela é uma.
—Phi, eu sou quase uma adolescente.
—Repito que quase não é ser.
—E o Phi é adolescente não é?
Parei subitamente de desligar o fogo ao ouvir isso. A essa altura a questão idade dele surgiu a minha mente. Obviamente por ele ter terminado a faculdade recentemente ele era obrigatoriamente maior de idade.
Mas, o fato de que eu tenho vinte e nove me balançou o suficiente para observar seu rosto retorcido colocando a panela na mesa diante dos dois.
Ele estava prestes a perder a paciência e falar algo que iria irritá-la novamente. Mas se conteve me olhando colocar a panela no centro da mesa.
O olhar do rapaz era de dúvida. Como se nunca tivesse visto um miojo na vida.
—Comam.
Lidy puxou o hashi rápido, mas antes que ela pudesse pegar a comida eu a parei.
—Ah espere. —Peguei o ovo e o quebrei em cima do macarrão, observando o olhar atento e curioso de Ming como se estivesse vendo a coisa mais exótica da sua vida. —Pronto meu toque secreto, pode comer sardinha.
—Tio!!! —Ela resmungou fazendo bico. Mas não reclamou apenas puxou um pouco da massa para sua boca.
Ming continuou avaliando a reação da minha sobrinha, como se estivesse esperando uma confirmação de que era comestível.
—Ei, eu cozinho muito bem ouviu? —Falei cutucando-o, ele me avaliou por um momento, antes de finalmente se render e puxar os hashis, trazendo um pouco da massa para a boca.
Sentei na cadeira ao lado de Lidy de frente para ele e avaliei sua expressão.
Ele franziu a sobrancelha parecendo surpreso e sorriu, um sorriso arrebatador.
Se esse fosse um comercial na TV, seria de margarina. Senti meu coração tremer, quando ele desviou o olhar para Lidy.
—Então vamos dividir a sardinha certo?
—Ei Phi, só o tio Joe pode me chamar assim.
—O que?
—De sardinha.
—Eu não estava... espera ele te chama de sardinha? Porque?
—Tio me chama assim desde sempre.
O olhar de Ming desviou para o meu curioso, mas sua expressão mudou para surpresa quando percebeu a minha reação.
O breve diálogo em quanto comiam foi adorável o suficiente para que eu sentisse meu rosto corar.
Na realidade, desde que Lidy veio morar comigo aos 4 anos, eu nunca mais procurei me relacionar com alguém por mais de uma noite, então ela nunca conheceu nenhum ficante meu. Tive medo de como ela reagiria, de a incomodar, ou o pior de ser uma questão que poderia trazer a odiosa senhora que ainda tentava lutar pela guarda dela contra mim de volta as nossas vidas.
Então eu nunca pensei em como seria jantar com ela e mais alguém.
—Eu estava falando sobre a sardinha do miojo. —Ming acrescentou para Lidy, apesar de ter visto minha expressão repleta de carinho, ele escolheu deixar por isso mesmo e voltar ao diálogo anterior.
Me permitindo por um instante, pensar em uma realidade diferente.
Uma realidade que ele mesmo arrancaria de mim um ano depois.
Da pior forma, com a pior ferida.
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A Luz que Deixou seus Olhos • MingJoe
FanfictionNossos olhos se cruzaram no exato momento em que a luz do apartamento iluminou o espaço antes vazio. Eu soube, no momento em que ele fechou os olhos com o semblante cheio de realização, que a pessoa que esperei por dois anos, sempre esteve diante d...