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Por Joe

A frustração congelante que assolava minha alma, me levou a estacionar o carro em um restaurante conhecido e caminhar até a estrutura de ferro pesada sobre o rio.

Eu me sentei ali na passarela já vazia, onde eu estive uma vez, encarando as águas correntes do rio.

Eu queria poder apagar, aquele primeiro contato, a forma como meu tolo coração desaparecido acelerou diante daquele rapaz arrogante e soberbo. A sensação excruciante de que mesmo que eu pudesse apagar tudo aquilo, ainda assim se de forma aleatoria pelas ruas de Bangkok em uma tarde meus olhos encontrassem aquele rosto.

Ainda assim, meu coração despertaria.

A raiva parecia ser um combustível tão intenso e perigoso, prestes a me consumir por inteiro da forma mais trágica possível, me fazendo recordar na pele, como se ainda estivesse rasgando o ressentimento daquela humilhação.

Por alguns momentos, as imagens fracas do beijo que trocamos hoje, tentavam lutar sem poder algum, contra todos aqueles momentos frustrantes desde o instante em que ele me chamou de Tong.

Quando me deitei na minha cama horas depois, tentando parecer calmo pra a senhora Hong, eu ainda estava pensando sem intenção alguma.

No beijo, aquele beijo.

Fazia tempo que eu não sentia esse beijo.

Claro, embora o corpo de Wen tenha ficado dois anos em coma, para mim não passou de um dia, onde eu dormi e depois acordei com dois anos de diferença.

Droga, a minha raiva misturada no sabor da boca macia deslizando pela minha.

Essa sensação tomou meus sonhos.

Os lábios que costumavam se manter nas minhas costas, beijando com cuidado, dessa vez estavam na minha barriga, subindo pouco a pouco, meus gemidos baixos tão conhecidos preenchiam aquele lugar desconhecido, os olhos que eu secretamente ansiava ver estavam nos meus em quanto deslizavam com cuidado pelo meu corpo.

—Ming... —Eu suspirei profundamente extasiado com aquela expressão rendida e focada em mim.

Meus lábios tremeram, quando ele sorriu finalmente ficando com o rosto páreo ao meu.

—Phi Joe... —Seu sussurro baixo, dito de forma tão sôfrega, fez milhares de borboletas voarem no meu estômago. —Sinto tanto sua falta...

Minha voz sumiu na minha garganta, diante da intensidade daquele olhar brilhante. Eu não teria palavras para responder, afinal eu sequer teria uma resposta, era claro, estava preso e rendido no olhar daquele homem.

O brilho naquelas duas orbes redondas e escuras fazia meu corpo tremer como se estivesse dentro em meio a uma nevasca, céus por que parecia que ele ansiava por isso, me ter ali diante de si?

Pulei da cama suando em bicas, minha respiração estava toda enrolada em arquejos sufocados.

Quando cheguei ao banheiro, eu tive que encarar minha ereção que se recusou a desaparecer.

—Não acredito que terei que fazer isso. —Sim eu estava me julgando a essa altura. De baixo da água quente do chuveiro, eu ainda tentava negar a mim mesmo.

Aquela necessidade maluca.

—Eu o odeio, o odeio.

Claro que eu odiava, afinal tudo isso era culpa dele! Eu perder o convívio de Lidy quando ela mais precisou, eu estar preso numa vida que não é minha, Tong ter saído invicto no final.

Eu perdi tudo.

Mas por que diabos aquela boca macia percorrendo meu corpo continuava gritando em minha cabeça.

Massageei meu membro, mordendo o lábio com força ao fechar os olhos. Sim eu tentei manter a atenção em qualquer homem existente, qualquer idol antigo, droga qualquer ex namorado meu.

Mas nada nesse mundo, podia competir com aquele som angelical.

Ah Phi Joe... —Ele resmungava se afundando dentro de mim, droga se eu era a pessoa sendo devorada com força naquela posição, por que era ele quem choramingava tão bonito? —Phi... É tão bom Phi... Tão gostoso.

Cheguei ao fundo do poço, realmente a forma como Ming comandava meu prazer com maestria, não poderia se comparar a nenhuma das minhas outras experiências, meu desejo sempre pendia pra ele.

Tentei encarar isso como o fato de que ele foi minha primeira experiência como passivo, mas ainda assim, o desejo profundo que eu sentia parecia encher meu corpo de fogo, tanto essa fogueira intensa do desejo, despertado novamente pelo beijo que ele não se recordaria, quanto pelo ódio que ardia em meu interior.

Deslizei o gloss em minha boca, antes de descer do carro, tomando cuidado de arrumar a camisa de seda escura, aberta até metade do meu peito.

De alguma forma o fato de eu ter gozado entre meus dedos plenamente irritado com o fato de que aquele desejo que me levou a acordar assustado e angustiado, era todo voltado para a razão da minha morte.

Quando Lidy saiu correndo de casa de manhã, antes do seu tio, ela me cumprimentou um pouco amuada, minha expressão se fechou para o homem que caminhava atrás dela.

Terno armani, mexendo no iPhone com o rosto sério ele entrou no carro sem ao menos me dar bom dia.

E de fato seria péssimo apenas por eu ter que encara-lo sabendo que ele estava nos meus pensamentos mais torturantes mais cedo.

—Você está chateada então. —Ele assinalou o que era evidente na expressão da garota, que folheava um livro quando dei partida no carro. —Sério não fique assim.

Revirei os olhos. Como ele podia pedir para ela não se chatear? Que autoridade ele tinha para isso?

—Eu não gosto quando você bebe daquele jeito tio.

—Desculpe, você entende que eu estava confuso não entende?

—Qual seria a confusão? Eu já tinha te contado isso.

—E você sabe que eu queria que fosse mentira.

—Mas não era.

Lidy enfim fechou o livro, eu desviei o olhar do retrovisor novamente depois dessa luta assídua entre levantar os olhos e abaixá-los.

O que estava acontecendo entre eles?

—Desculpe ter sido imaturo. —Ele pediu como se estivesse falando com a esposa dele.

Mordi meu lábio, Ming nunca me deu a menor satisfação de nada que ele fez durante o ano que passamos juntos, mas por fim ele dava explicações a minha sobrinha. Realmente o mundo não gira ele capota.

—Meu tio teve razão para isso, mas Phi Sol nunca me contou. —Meus dedos apertaram o volante e então o som do rádio começou a tocar alto. Freei o carro subitamente, fazendo os dois passageiros me encararem chocados.

Primeiro que o botão no volante não queria pausar a música. Mas finalmente abaixei o volume.

Segundo que meu coração estava na minha boca.

Então a razão da discussão deles era eu?

—O que houve Joe? Pelo amor de Deus, tome cuidado. —A voz cheia de censura de Ming para mim fez minhas bochechas ficarem ardidas.

Pior ainda pelo fato de Lidy, que Ming fez questão de segurar no solavanco que o carro deu, com o seu braço, me encarava assombrada.

Mas eu sabia bem, podia ver aquela fagulha decidida no olhar da garota que eu criei.

Ela estava claramente enxergando algo em meu rosto.

A Luz que Deixou seus Olhos • MingJoeOnde histórias criam vida. Descubra agora