A Luz que Deixou seus Olhos • MingJoe

25.

Por Joe

Mexia meus dedos nos pauzinhos em quanto encarava o prato imerso em pensamentos. A pessoa do outro lado da mesa mantinha os olhos no computador, com a testa franzida, comendo lentamente em silêncio.

—Tia Rose vai ficar com Lidy hoje então? —Ele perguntou de repente me fazendo voltar a realidade e encarar seu rosto que ainda se mantinha voltado ao computador.

—Uhm Sim...

—Certo... —Ele então desviou o olhar desconfiado para mim. —Phi ainda está nervoso?

Nossos olhos se encontraram e eu senti um leve arrepio.

Eu deveria perguntar, quem são seus pais, de que família ele vem. Sentia que esse assunto iria me assombrar. Mas eu realmente não conseguia dizer nada.

—Está tudo bem...

—Phi, Lidy me disse que você é ator.

O começo do assunto me fez abaixar a cabeça e engolir em seco encarando o prato.

—O que te fez se tornar dublê? Eu não entendo...

—Coisas da vida... —Ri baixinho olhando para o horizonte escuro. —Talvez... tenha sido a certeza de que dentro de uma casa de madeira minhas cinzas iriam assim com o vento.

—O que? —Ele perguntou confuso. A sombra triste que passou em meus olhos, lembrando do começo do contrato que durou cinco anos, passou quando me virei para mim sorrindo docemente.

—Talvez, eu volte a atuar.

—Phi já atuou então?

—Oh sim, alguns personagens secundários em séries.

—Nenhum protagonista? —Sua pergunta confusa me levou a pensar naquela ligação.

Quando eu fui aceito no cast.

Mesmo sem contatos fortes.

—Nenhum.

—Phi nunca passou pra um papel central? —Sua dúvida me fez respirar fundo.

O que ele diria? Se soubesse agora sobre isso? Sobre o papel que eu entreguei para o seu ídolo e cunhado?

Ri baixinho negando. Ming arqueou a sobrancelha e desviou o olhar para o computador.

—Então foi por isso que você virou dublê, fez sentido. —Observei sua expressão tranquila encarando a tela do computador por um instante.

Mas não quis me aprofundar nisso, de qualquer forma a verdade sobre isso era um diálogo que eu não queria ter com ele. Então deixei por isso mesmo.

—Falando sobre isso... —Comecei o pedido timidamente. —Ahn... Essa sexta vai ter uma festa de enceramento do último projeto... Queria saber se... você iria com Phi.

Ming desviou o olhar do computador e sorriu para mim.

—Phi quer que eu vá?

—Sim, muito.

—Então eu vou.

Isso bastou para iluminar meu dia difícil e minhas angústias silenciosas se dissiparem. Aquele sorriso cortês que ele costumava me direcionar sempre era capaz de tirar o meu fôlego, lindo, extraordinário. Mas no fundo, era apenas educado.