55.

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Por Joe

Isso era quem eu era, fazia parte do meu corpo e alma.

Eu sabia, que essa magia fluía pelo meu corpo o suficiente para que eu não focasse nada além da cena.

Quando eu finalmente saltei, depois de derrubar os outros cinco dublês, sentando na cadeira, com os pulsos ainda perfeitamente amarrados, eu levantei o rosto para o diretor tranquilo.

—Então? —Eu esperava uma reação, já que o homem que eu finalmente reconheci frente a frente assim me encarava com a boca aberta.

Ele era o diretor que me selecionou como protagonista, quando meu irmão sofreu o acidente, o mesmo que brigou diversas vezes comigo por se opor a situação em que eu tive que me tornar o dublê de Tong.

Eu pisquei confuso por um instante, tentando conter o choque que transpareceria pelo meu rosto.

—Khun Ming. —O diretor chamou baixo o CEO da empresa, que eu assumo ter esquecido da presença ali. —Vejo que você escolheu certo, como sempre.

Mantive meu olhar no chão tentando controlar minha respiração, senti os dedos de um dos dublês desamarrando meu pulso da cadeira, então apenas pude olhar o rosto dele e agradecer baixo.

—Não. —A voz de Ming soou trêmula, o que me fez, finalmente erguer o rosto para vê-lo, o CEO encarava o diretor com a expressão congelada. —Na verdade eu escolhi errado.

—Do que está falando? Olha esses movimentos, ele é perfeito. Como se tivesse trabalhado com isso a vida toda... Além da notável semelhança...

—Não, ele não será dublê de Phi Tong. —A frase me surpreendeu por fim, quando me ergui da cadeira encarando a discussão dos dois. —Isso está fora de cogitação, se Phi Tong quer fazer cenas de ação, dessa vez ele vai precisar aprender a gravá-las, da minha empresa ele não terá um dublê.

—Khun Ming, ele não sabe fazer...

—Sim, descobri recentemente que Phi Tong é incapaz de fazer o próprio trabalho. —A voz se tornou mais fria, o que me fez finalmente me aproximar da discussão. —Aliás Khun, sei o quanto o senhor foi conivente com isso.

—Ao que se refere Khun Ming?

—Khun Ming. —Chamei baixo, tentando conter novamente mais uma de suas reações explosivas.

—Me refiro ao primeiro filme de ação dele. —Ele pareceu cuspir essas palavras encarando o homem mais velho com uma sobrancelha arqueada, como se o desafiasse a discutir com ele.

Anos atrás, eu defenderia Ming do que quer que fosse, de qualquer discussão onde ele se enfiasse, ao descobrir que o poder dele era irrestrito, por ser o filho dos Akhrayothar. Mas mesmo assim, eu tenho ainda receio do que seus ataques de estrelismo podem fazer com o seu nome, ainda mais estando trabalhando na indústria do entretenimento ativamente.

Sim eu me meteria e diria algo, até para impedi-lo de comprar uma briga desnecessária. Afinal, ele estava criando minha sobrinha, sua imagem perante a sociedade seria importante para defender Lidy.

Porém, no momento que aquela frase saiu de sua boca eu automaticamente congelei, meus olhos se arregalaram, assim como os do diretor.

—O que disse?

—Eu disse, Khun, que você deixou Tong usar um dublê na estreia dele, esse dublê fez as cenas que deram fama pro Tong e o nome dele nem estava nos créditos e em lugar algum, você o deixou apagar o trabalho de alguém! Por dinheiro.

Eu não podia ficar mais chocado, sentia em meu interior que esse era o máximo de choque que meu corpo podia aguentar, mas assim que ele começou a dizer algo que me envolvia e que pouquíssimas pessoas sabiam, meu coração pareceu perder o ritmo e bater acelerado e descompassado.

—Você não sabe de nada Khun Ming!

—Eu sei muito bem! Sei que você foi conivente.

—Aquele rapaz precisava de ajuda do Tong, eu não pude intervir por que o próprio Joe pediu pra eu não o fazer.

Meus olhos se fecharam, quando essa segunda parte foi posta em evidência. Sim, eu não sabia até onde o Ming estava ciente da situação, mas eu tinha certeza que ele não sabia a razão que me fez abrir mão daquele papel na época.

—Ele... Phi Joe pediu?

—Ele era minha escolha para protagonista, ele abriu mão no papel, ele implorou para que eu não tirasse satisfação com Tong, tudo foi uma escolha dele.

Abri os olhos para avaliar o rosto lívido de Ming, em quanto o diretor apenas suspirava balançando a cabeça.

—Por que está trazendo Joe a tona depois de tantos anos? Você por acaso o conheceu?

O rosto lívido de Ming, foi tomado por uma expressão dolorosa imediatamente.

—Porque, eu sou o homem dele. —Por um instante eu pensei ter ouvido uma ilusão auditiva, mas a expressão do diretor me fez ter certeza que ele havia dito isso mesmo.

—Joe não esta morto a dois anos? —A pergunta confusa do homem, me fez despertar imediatamente, para segurar o pulso de Ming que se ergueu para puxar o diretor pelo colarinho.

Por fim, as duas pessoas pareceram se lembrar de minha presença, já que eles desviaram o olhar para mim.

—Ah, você é... Wen certo? —O diretor questionou, ainda me olhando confuso.

—Agora o nome dele é Joe. —Ming resmungou fazendo o outro me olhar confuso, mas finalmente a atenção de Ming estava em mim. —Isso me lembra que temos algo a conversar certo Joe?

—Khun Ming. —Comecei tentando me perguntar, o que fazer para controlar a raiva que parecia explodir em seus olhos. Mas antes que eu pudesse controlar ele me interrompeu. 

—Então, como eu disse não cederei um dublê para Tong, muito menos esse aqui. Tenha uma boa tarde senhor. Vamos Joe.

O diretor não tentou discutir, o assunto estava mais do que encerrado, além das toneladas de acusações de Ming para o homem, ter a raiva dele voltada para si nunca seria uma boa coisa para qualquer tailandês meramente inteligente.

Caminhei atrás do meu chefe, ignorando os olhares curiosos sobre nós, até o seu escritório, onde ele abriu a porta e me deu passagem para entrar.

Meu coração tremia quando entramos e ele fechou a porta atrás de si.

Eu tinha milhares de perguntas para fazer, principalmente sobre o fato dele ter pesquisado sobre meu trabalho com o Tong no passado. Mas isso só me fazia ter mais certeza que ele estava buscando uma razão para me fazer parecer mais patético sob seu olhar.

—Onde aprendeu tudo aquilo? —A pergunta seria dele, por fim, fez com que eu me voltasse para o homem que estava parado em pé ao lado da porta, me avaliando.

Era evidente, ele estava se informando sobre o meu contrato de trabalho com Tong apenas para saber o quão patético eu fui. O quanto eu não tive controle sobre minha própria vida, o quanto ele sempre foi plenamente capaz de pisotear sobre mim.

Afinal, minhas cinzas voavam ao nosso redor desde o começo, já que eu estive preso em uma casa de madeira que queimou sob o fogo ardente derrotada pelo seu verdadeiro amado.

Tong me tirou os meus sonhos e ambições em troca da saúde de Lidy, e Ming me tirou meu coração em troca de me fazer lembrar eternamente que eu nunca deixaria de ser apenas a sombra de seu cunhado.

Eu sempre fui tão inferior assim para aquele homem? Sem sequer durante um ano ter valido mais do que uma poeira no chão?

Quando pra mim, ele foi naquela época o melhor dos meus presentes.

A Luz que Deixou seus Olhos • MingJoeOnde histórias criam vida. Descubra agora