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Gabriel anda até mim devagar e se senta do lado da maca, ele tem o braço enfaixado e anda mancando.

— Vamos para casa. - ele diz simplesmente.

Casa.

Onde é casa? Penso no que Melanie disse, eu não posso simplesmente voltar para lá, ainda mais ferido dessa forma, tenho certeza de que iria descontar em mim novamente, e apesar de te um braço machucado, Gabriel é bem mais forte.

— Ainda não me sinto bem. - murmuro olhando-o.

Ele não diz nada, pega a minha mão e suspira.

— Só quero ir para casa Verity, estou cansado.

Carinhoso, há tempos eu não o via assim.

— E-eu...

— Vou levá-la para casa, acho que todos já tivemos muito por hoje, não? - Melanie aparece e põe a mão no ombro de Gabriel. - Mas antes ela precisa tomar mais alguns remédios.

Ele a olha quieto.

— Quero levar ela. - ele diz.

— Eu vou levá-la. - Mel diz o olhando nos olhos e eles ficam assim, se encarando por um tempo até que ele solta minha mão e suspira.

— Volte hoje mesmo. - ele diz por cima do ombro e sai mancando.

— Obrigada. - digo para ele, mas ele não se vira, apenas vai embora.

Meu coração aperta, ele parece solitário, mas se for pensar no motivo, só sinto raiva, enjôo e dor.

Afinal o que fiz para ele me odiar tanto?

Melanie sorri para mim.

— Para onde te levo? - ela murmura.

Quase pergunto do que ela está falando até lembrar novamente da proposta dela, acho que realmente, gostaria de fugir.

— Mel...

Ela tira um envelope da bolsa e me mostra, muitas notas em dinheiro.

— Não é muito, mas vai te ajudar a se segurar até achar Kay.

Arregalo os olhos.

— Não pode me dar isso.

— É meu, e dou para você. Não precisa me devolver, só precisa me ligar ocasionalmente.

— Gabriel vai atrás de você quando souber...

— E Teddy vai dar-lhe mais alguns tiros, será que assim você não fica viúva mais fácil? - ela sorri. - Vou ficar bem, Teddy cuidará de mim.

Meus olhos se enchem de lágrimas, Melanie é mais do que eu poderia pedir como amiga.

Perto da noite o médico me libera e entramos no carro de Melanie,  e ela me leva para fora da cidade.

No telefone, Teddy está preocupado.

— Mel, você não conhece bem a cidade vizinha. - ele reclama.

— É só um passeio de 1h meu bem, e você me dará cobertura com Gabriel, pois não?

—Que escolha eu tenho?

Ela ri.

— Te amo Teddy.

— Se demorar, mando caçarem seu rastro.

— Obrigada, me sinto segura assim. - ela diz e desliga.

Sorrio para ela.

— Gostaria de ter esse tipo de casamento. - murmuro.

— Espero que agora as coisas dêem certo para você minha querida, eu e Teddy estamos torcendo.

— Teddy não liga muito para mim. Tenho sorte de ter você Mel.

Ela balança a cabeça .

— Ele é um grandalhão difícil de mostrar sentimentos, mas ficou aliviado que você está indo embora menina.

Suspiro, e pela primeira vez um pouco menos de peso no peito, já estamos no carro à 45 minutos e já posso ver as nuances da cidadela.

Embora não seja lá uma cidade grande, em algum lugar com alguma sorte, Kay pode estar por lá, lembro que ele viva há algumas quadras da minha antiga casa com meus pais.

Talvez eu consiga vê-lo.

Quando chegamos Melanie me deixa hospedada em uma hotelaria humilde para poupar as finanças e somente quando vê o quarto em que vou ficar e tem certeza de que tudo está como deve ser, me abraça fortemente antes de ir.

— Se precisar, estou sempre ao teu dispor. Espero que encontre a felicidade Vel, mesmo que não seja com Kay. - ela diz emocionada. - Nunca mais aquele monstro vai te por as mãos, e não esqueça de tomar o chá de canela que deixei na bolsa para você.

Concordo e ela se vai, fechou a porta logo em seguida.

E pela primeira vez estou tranquila, não tenho telefone então Gabriel não pode me contatar, a bolsa que Melanie me fez com roupas compradas ao longo da cidade é pequena mas já me serve e quando tomo outro banho me sinto acolhida, me lembro de tomar o chá que ela me deixou, pois é assim que sobrevivi a tantos anos.

Sempre cuidando de que a semente de Gabriel nunca me desse nenhum filho, não queria que fosse mais uma coisa que ele pudesse usar contra mim, ou tirar de mim em algum momento.

Quando o cansaço finalmente me abraça, estou acabada, deitada sozinha na cama macia e silenciosa, ainda apreensiva como se ele fosse aparecer a qualquer momento, mas feliz.

Que finalmente posso escolher o que fazer.

Meu cavaleiro sombrio (Darkstory +18)Onde histórias criam vida. Descubra agora