Ele não me deixou sair da cama depois de ter me banhado, me mantém em seus braços em silêncio e não consigo adormecer, por mais que pareça ser aconchegante e calmo, no fundo sei que está cumprindo ordens de alguém, meu pai talvez... Para não me quebrar como tem feito há anos.- Tenho fome, quer pedir comida? - ele murmura no meu cabelo.
- Parece bom. - murmuro de volta mas ele não se mexe, respira fundo e ficamos ali por mais algum tempo.
Que jogo é esse afinal? O que estamos jogando aqui? Sabemos que ao final disso eu não vou ficar e Gabriel é inteligente o suficiente para saber que nada disso pode apagar o que me fez todo esse tempo.
Desde que cheguei não tivemos nenhum tipo de conversa séria, apenas conversa fiada, meios sorrisos e sexo não solicitado.
Quando ele finalmente tira os braços ao meu redor e levanta parece um pouco estressado passando a mão pelos cabelos pegando o telefone do quarto e ligando para alguém, não me atrevo a me mexer e ele pede um jantar delivery e me olha de canto.
Ao terminar ele se apoia nas grades da cama e me olha como aquele leão faminto, querendo me arrancar um pedaço.
- Você parece ter muitas perguntas. - ele diz.
- Sabe que tenho. - digo devagar.
Ele concorda e gesticula para mim.
- Diga.
Fico em silêncio por um momento, o que eu poderia perguntar sem o ofender o suficiente para que me agrida? Como posso dizer o que sinto sem querer gritar e jogar coisas nele? E ele continua parado me olhando, esperando minha escolha minuciosa de palavras para pular em mim, tenho certeza.
- Ainda está bravo? - arrisco.
Ele solta o ar que nem percebi que segurava.
- Estou.
Me encolho ainda mais, ele está realmente se segurando, fingindo uma cordialidade que não existe, meu instinto é pedir, suplicar que não ceda e me mantenha viva mas meu orgulho não me permite, tenho que jogar o jogo dele até isso acabar.
- Acho que... Nunca fui o que você gostaria de verdade e nunca pude falar assim... - começo devagar me sentando na cama - Mas estou aqui agora e gostaria de entender...
- O que você acha que eu gostaria? - ele diz cinicamente. - Você é bonita, elegante e me satisfaz.
Fico envergonhada e abaixo o olhar para minhas mãos, eram poucos os elogios que Gabriel se dava ao trabalho de me dar, mas não sei se isso seria realmente um elogio.
- Você é a minha esposa e tudo o que aconteceu não é porque você não é bonita ou gostosa o suficiente. - ele diz se aproximando e para na minha frente, erguendo meu rosto com a mão em meu queixo, me fazendo olha-lo.
Ele me olha com deleite, inclinando a cabeça para o lado como um predador preguiçoso.
- Então? - sussurro o olhando.
A mão dele desce até meu pescoço e o segura, minhas veias gelam mas ele não aperta, apenas mantém a mão ali enquanto não me permite abaixar a cabeça ou desviar o olhar dele.
- Não posso te dizer o porquê... Mas preciso de você. - ele diz para mim acariciando meu pescoço. - Gostaria que não ocupasse essa linda cabeçinha com perguntas desnecessárias, isso aborrece à todo mundo, não acha?
Um aviso.
Concordo devagar e quando ele tira a mão do meu pescoço passando pelo meu rosto me sinto congelada.
- Você me ama? - ele pergunta firme enquanto me acaricia as bochechas.
Fico em silêncio, subitamente assustada, o que poderia responder?!
Ele se inclina para mim, me olhando no fundo dos olhos, procurando algo.
- Eu perguntei se você me ama Verity. - ele repete.
- E-eu...
Ele sorri de lado.
- Não vou te bater, me responda agora. - ele diz subitamente sério. - antes que eu mude de ideia.
Sinto as lágrimas se formarem rapidamente em meus olhos e descerem ardendo pela minha face e nego com a cabeça.
- Não! Eu tentei tanto! - digo esperada e me viro para ele o olhando tão profundamente em seus olhos quanto ele me olha. - Tentei te amar por todos os lados, mas você só me fez odia-lo mais.
Dá para ver o maxilar dele trincando mas ele vai relaxando aos poucos e sua mão afaga meus cabelos.
- Gosto da sua sinceridade, iria realmente surrar você se mentisse para mim. - ele confessa e se senta ao meu lado pegando a minha mãos trêmula. - É por isso que acredito quando me disse que não transou com aquele cara, seus olhos entregam o que você sente.
- Mas que porra..? - digo subitamente brava me virando para ele e ele sorri, como o vi sorrir poucas vezes neste casamento.
- Você não entende, mas te amo de alguma forma... - ele diz e se levanta me largando e pegando seu casaco e vestindo. - talvez nem mesmo eu entenda.
A campainha toca.
- Acho que o nosso jantar chegou. - ele continua e sai do quarto.
Sinto as emoções me possuírem em ondas e logo estou soluçando e chorando como nos piores dias, meus braços ao meu redor me apertam e choro pela dor que me assola, a solidão e a confusão de não entender porque tenho que passar por esses jogos mentais.
Estou exausta, exausta de esperar alguma coerência de uma situação que só quero fugir, quero estar longe dessas pessoas, desses sentimentos!
Gostaria de realmente morrer.
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Meu cavaleiro sombrio (Darkstory +18)
RomanceDepois de ser casada contra sua vontade, abandonando um antigo amor, Verity se vê em um casamento difícil e anseia por libertar-se. Até que tudo muda com segredos nunca antes ditos, e o coração dela passa a estar em constante escolha. Bem? Mal? Fid...