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Quando ouço o mancar suave de meu pai, Gabriel sai do quarto e escuto ele descer as escadas.

— Verity meu amor, papai está aqui. - ele diz e se senta na poltrona mais próxima ofegante. - Vim rapidamente pois precisamos falar.

Não me movo, não sei o que dizer, o que ele diria se soubesse que temos uma mulher quase morta acima de nós?

— Está me ouvindo?

Olho para ele.

— O que?

Ele pigarreia.

— Não é o que você está pensando, a mulher lá em cima, quero dizer. - ele diz se apoiando na bengala que trouxe consigo.

Arregalo os olhos.

— Sabe sobre isso?

Ele concorda e se reencosta na poltrona.

— Gabriel é um homem de negócios, valioso para uma irmandade que você não precisa conhecer, algo semelhante à aquele abusado que você insiste em gostar. - ele explica devagar, parecendo ter certeza de que estou ouvindo. - A questão é que ...g

— Ele é um serial killer, me disse isso, está mesmo tentando me fazer achar isso um emprego respeitável? Você me casou com um doente. - digo enojada.

Ele nega com a cabeça.

— Verity, Verity, entenda que isso faz parte de um propósito muito maior.

— O que poderia ser maior que vida de 27 mulheres?! Tem uma agora mesmo, em um sótão que eu não sabia que existia na porra da minha casa. - digo tremendo. - Você sabe muito bem tudo o que ele me fez e me obriga a estar aqui e quer que eu ache bonito? EU OS ODEIO!

Andersen passa a mão pelo próprio rosto velho.

— Estamos tentando reaver algo valioso Verity.

— E O QUE SERIA ISSO?!

Ele abre seu paletó e tira seu relógio, ele me joga e acaba caindo no meu colo, pego trêmula.

— Uma merda de um relógio?

— Não seja burra, abra.

Abro o relógio de bolso e vejo uma foto, são duas meninas, uma delas sou eu e a outra perece uma pintura idêntica.

— O que é isso?

— Você tem uma irmã gêmea, uma irmã que foi sequestrada junto da sua mãe em um assalto, aquele acidente que eu disse que sofremos. - a voz dele é amarga. - Mas fizeram de propósito, me entregaram sua mãe em uma caixa aos pedaços e um chumaço de cabelo da sua irmã.

As novas informações giram em minha mente, cada vez com menos sentido.

— Recebo cartas todos os meses, sem endereço, nada. Apenas aparece em algum lugar que estou e não posso descansar até achar Versália. - ele suspira. - Meu trabalho como advogado irritou algumas pessoas, o suficiente para fazerem isso, e é por isso que só pude te casar com Gabriel, entenda que você só estaria segura desses malditos se estivesse com alguém pior que eles.

Nego, não acredito em nada disso.

— Então... Me casou com um serial killer para me proteger de que? Desculpe não estou entendendo, isso não fez sentido, e a maldita menina no meu sótão? Irmã? Você nunca me disse nada disso!

— É esperado que não acredite agora, mas vai ver mais provas em breve, a mulher no seu sótão meu anjo, é a prima de um dos suspeitos, estou há esses tempos todo tentando pegar provas para pega-los na justiça mas Gabriel é bem melhor em fazer justiça com as próprias mãos.

— M-mas a mãe de Gabriel me escolheu... As idas na igreja...

— De fato ela apenas aceitou pelo meu desespero, ela sabe que eu tenho provas suficientes para que ele seja executado na justiça, mas amoleceu o coração dela de alguma forma toda essa tormenta.

— Então ela também sabe de tudo... Tudo o que passei... - murmuro incrédula.

— Não queríamos que você sofresse nada como aconteceu, mas eu prefiro vê-la assim do que picada em uma caixa com laço em cima.

Lágrimas descem pelo meu rosto.

— Ele me machucou tanto...

— Verity ele não é o nosso maior problema, ele até gosta de você.

— ELE QUASE ME MATOU! É UM MONSTRO! - grito enfurecida.

— Minha filha adorada - meu pai levanta e segura-me pelos ombros. - Esse é o jeito que ele achou para que você não sofra se ele for pego, ele precisa do seu  ódio, ele se importa o suficiente para abrir mão do seu amor, para que ninguém tente barganhar você em uma troca caso alguém o mate ou o faça de refém.

Nego tentando afasta-lo, isso seria nobre demais, cruel e nobre demais para que eu aceite.

— Aquele homem, Kay, ele morreria por você, eu sei mas eu preciso de alguém que mate por você e Gabriel é o único que faria algo dessa magnitude.- ele diz firme. - Você é o meu bem mais preciosos Verity, o único que me restou e agora que sabe disso tudo, te imploro que fique com Gabriel.

Sinto os soluços romperem garganta acima e meu corpo é mais uma vez sacudido pelas emoções.

— Não pode, vocês não tem direito de fazer isso comigo... - soluço batendo os punhos no peito de Andersen. - Não faz sentido... Gabriel não tem por que se arriscar por isso... Por favor pare de inventar essas mentiras...

Choro desmoronando e ele me abraça.

— Gostaria que fosse todas as minhas mentiras irreais, mas infelizmente não é, esse homem, Kay, não sabe 1% do que estamos mexendo aqui e sabe que vai coloca-lo em perigo real Verity, por favor enxergue que essa é a única forma!

Nego e me afasto.

— 5 dias, eu vou embora, não quero ouvir mais nenhuma palavra sobre! Quero que essa mulher esteja fora desse sótão!

Papai suspira consternado e se afasta.

— Vou te dar um tempo, estou à disposição para que me ligue se quiser entender algo mais... Mas sugiro que pergunte à Gabriel.

— Tenho nojo dele.

Meu pai sorri tristemente.

— Ele pode ser um anti herói, mas ninguém tem lutado mais para ser seu herói, de alguma forma.

Ele se vai e me viro na cama, não me levanto e fico imersa em um silêncio infinito, muitas perguntas giram em minha mente, mas estou tão cansada que não consigo pensar em mais nada, não sinto que consigo sequer erguer a língua para formular alguma frase, ou chorar qualquer tamanho de lágrima.

Quando fecho os olhos quero desaparecer nessa escuridão.

Meu cavaleiro sombrio (Darkstory +18)Onde histórias criam vida. Descubra agora