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Pareço ter ficado tempo demais pensando por que quando ele sai do banheiro me olha curioso.

— Ainda está acordada?

— Estou. - digo e ele já está vestido, calças quentes e casaco para dormir e percebo que ainda estou com o roupão e me levanto mancando e procuro na mala alguma roupa quente.

— Quer ajuda?

— Não, obrigada. - digo e pego o longo vestido de mangas que ele me deu em nosso primeiro ano de casamento, era um dia em que ele estava agradável e me surpreendeu com uma caixa rosa com laço e um beijo no cabelo.

Aquele dia pensei que ele gostasse de mim e depois aconteceu aquilo tudo... Suspiro e manco até o banheiro onde tiro o roupão e me visto, colocando a calcinha mas não o sutiã e retorno para a cama, ele boceja já deitado e está lendo um livro com o abajur ligado.

Me deito ao lado olhando o teto, o único som no quarto é o virar das páginas de seu livro e me sinto inquieta, sei que hoje alguém morreu por causa dele, ele matou aquele homem que me levou e pude ouvir cada gemido e grasnir e isso ainda me arrepia os cabelos mas agora mesmo ele está tranquilamente lendo um livro e essas mortes não parecem lhe tirar o sono.

— Diga-me... O que tira seu sono? - pergunto o olhando.

— Sua imprudência. - ele murmura virando outra página.

Fecho a cara, claro que ele responderia algo tão óbvio, adora me por a culpa de tudo, não é de hoje.

Viro de costas para ele irritada.

— E o seu? - ele devolve calmamente.

Seu súbito interesse me faz remexer na cama, não poderia dizer tudo a ele, poderia ofende-lo e estou me acostumando a não ser agredida com regularidade.

— Já sabe o que me tira o sono. - digo vagamente.

Ouço ele fechar o livro.

— Sejamos sinceros, você não quer me contar o que é.

— Não é isso... - resmungo me encolhendo, como poderia dizer a ele tudo?

Que o odeio por ter me feito tudo aquilo, abortei um filho dele convicta de que jamais poderia carregar um monstro dentro de mim e mesmo agora depois de o ver mais humanamente me sinto culpada!

Corri dele como o diabo da cruz e agora tenho medo que se afaste de mim demais pois em menos de um mês já tentaram me matar e a cada minuto vejo que papai estava certo, e me sinto péssima em ver que o único lugar que me cabe é ao lado de um assassino...

Quantas matou enquanto estava comigo? Quantas irá continuar a matar daqui para a frente? O medo irracional de ser a próxima espreita meu cérebro e ainda tem Kay...

Fecho os olhos, a paixão que nutri por ele todos esses anos parece um castelo de areia que vai caindo aos poucos, amo-o! Mas como posso ficar com ele diante de tantas coisas e ainda agora estive a gemer por esse maldito homem que a cada faceta gentil que mostra parece desmontar minha convicção.

O jeito que me pede para admitir que sou dele e como se irrita ao cogitar Kay me faz pensar que não deve me odiar tanto assim, e ainda disse que adora-me... Por Deus isso tudo está me deixando louca!

Todo esse sexo tem me distraído demais e não posso negar que fica melhor a cada vez mas eu gostaria de poder dizer a ele um pouco de tudo e tentar entender... Mas alguém que não se perturba com o fim da vida de alguém não poderia entender isso poderia?

— Desculpe por dizer aquelas coisas, pressionei você demais não?

— Pressionar é tudo que me faz! - digo subitamente irritada e me viro para ele o olhando raivosa. - Nunca é direto, sempre com essas respostas vagas e do nada diz que adora-me? Qual é o seu maldito problema?

Meu cavaleiro sombrio (Darkstory +18)Onde histórias criam vida. Descubra agora