Até que Melanie chegasse, abracei a pasta e o cartão como se minha vida dependesse disso e não tive palavras para explicar a Versália o porquê disso tudo.
Mas estava certa de que Melanie poderia me entender, ela poderia realmente me ajudar como sempre fez com seus conselhos sensatos...
Entretanto Versália ficava mais ansiosa a cada momento, andando para lá é cá tecendo muitas perguntas ao mesmo tempo e eu apenas balançava a cabeça sem dizer nada.
Quando o sino dos clientes balançou na porta da entrada do estabelecimento lá estava ela, com botas para a proteger do frio e um sobretudo que a fazia parecer uma agente secreta, mas ela não tinha o sorriso no rosto e definitivamente estava brava.
— Que isto Verity? Como pode sair assim no meio da noite? Não sabe o esforço infernal que foi sair sem aquele maníaco me ver. - ela reclama e aponta para Versália. - Você eu nem vou dizer nada, depois conversamos a sós.
— Precisamos ir a um lugar vazio. - digo.
Melanie não diz nada e só faz sinal para que eu a siga, saímos para o ar frio que agora já amanhecia e entramos em um carro no estacionamento, depois de travar as portas Melanie se vira para nós do banco do motorista.
— Digam-me, o que foi esse surto?
Versália mantém a cabeça baixa e explico tudo a ela e Melanie ouve em silêncio.
— Porra. - ela diz simplesmente e ficamos as três em silêncio. - E essa pasta?
Respiro fundo e conto também sobre a visita de Missy e o que ele me disse, entrego o cartão com endereço a Melanie e ainda seguro a pasta contando a ela o que supostamente teria nela de acordo com a tia de Kay.
— Está mentindo, ela não poderia ter dito isso!- Versália altera a voz visivelmente magoada com a negativa explícita que contei.
— O que eu ganharia com isso? - olho para ela. - Quer ser estuprada? Vá em frente então!
Digo irritada.
— Ninguém vai ser abusada ok?!- Melanie fala mais alto e olha para Versália. - Se controle sim? Esse amor por ele é sem cabimento mas acho que isso é de família pelo visto. Já que não temos escolha vamos jogar com as peças que temos, Verity não ter sido sequestrada já é um passo enorme.
— Então abra esse maldito dossiê! Vamos ver porque Kay é tão pior que Gabriel. - Diz Versália nervosa e aperto a pasta contra mim.
— Essa é uma escolha da Verity pois o marido ainda é dela. - Melanie diz duramente. - Contar a nós também é uma escolha dela, não tem que fazer isso Verity.
— Mas ...
— ELA ESTÁ GRÁVIDA VERSÁLIA, ELA ESTÁ AQUI POR VOCÊ, ISSO NÃO BASTA?- grita Melanie. - PARE, APENAS PARE DE SER TÃO MESQUINHA UM POUCO!
Isso a faz se calar e ela abre a porta e sai do carro ficando do lado de fora, ela anda até o meio fio e se senta do ouro lado do estacionamento.
Eu não tinha percebido mas as lágrimas já corriam pelo meu rosto e Melanie me sorriu.
— Não tem que fazer isso se não quiser. - ela toca minha mão.- Pode perguntar à ele.
— Acha que ele vai me dizer?- olho Melanie.
Ela suspira apenas.
— Talvez... Seja algo que ele tenha tanta vergonha que não quis dizer.- ela arrisca.
— Talvez ele não confie em mim.
— Ou talvez ele não queira assusta-la. - ela aperta minha mão. - Se não fez diferença até agora, talvez não faça mais.
A pasta parece queimar em meus braços.
— Preciso saber, estou cansada de meias verdades. - decido e abro a pasta e Melanie fica em silêncio.
De início contém o nome, foto e história de Gabriel.
Criado pela mãe e avó ele foi alistado um ano mais jovem do que foi preciso depois de um caso de assassinato a uma garotinha de sua classe, o texto sugere que ele possa tê-la matado por enforcamento.
Durante sua estadia no exército ele participou de inúmeras operações que destacavam sua eficiência, uma palavra me saltou a visão.
"Finalista"
Em seguida o texto disserta sobre uma peculiaridade de suas missões, sempre havia pelo menos 6 mortos ou apenas ele voltava, até mesmo seus companheiros de missão acabavam não regressando e com o passar dos anos ele foi apelidado de Solitário pois ninguém mais queria ir a missões com ele, foi afastado de toda interação feminina pois perto de sua despensa se iniciou uma onda de assassinatos de mulheres, meninas e crianças.
O serial killer foi apelidado de Ventríloquo (um controlador de marionetes) pela forma bizarra que aprontava suas vítimas.
Fotos, malditas fotos de mulheres com seus membros cerrados, unidos por correntes, vestidos rasgados e um sorriso cortado no rosto como um boneco, sempre encontrada em posições de bonecas.
Depois variavam, espancamentos, desmembramentos, afogamentos... Como se estivesse experimentando.
Crianças foram apenas 3 contando com a que ele matou primeiro, isso dificultou o trabalho da polícia em prever um padrão para os assassinatos e o caso teve de ser arquivado.
O texto diz ainda que após sua despensa o assassino voltou a ativa caçando apenas mulheres solteiras, de cabelos longos e olhos claros, magras e de boa família.
— Caralho, parecem com você. - Melanie pega uma foto, depois outra, pelo menos 5 delas com o rosto parecido comigo. - Você... É o tipo dele.
Sinto que vou vomitar e abro a porta do carro e faço isso, todo o conteúdo que esteve em meu estômago se foi e ficou trêmula, Versália corre do outro lado da rua para mim.
— Verity, o que aconteceu?!
— Calma Verity... Deve ter uma explicação, ele não poderia simplesmente ter casado com você de propósito. - diz Melanie tentando me acudir.
— Foi um casamento político Melanie... Ele estava fugindo da polícia. - digo limpando a boca. - Já me disse isso...
Ela franze o cenho.
— Será... Será esse um dos motivos de ter feito tudo aquilo contigo no início? - ela arregala os olhos.
Sinto meu estômago embrulhar novamente, sim...
Faz todo o sentido, eu não era nada, era apenas um novo padrão vivo para ele brincar, alguém que ele poderia cortar e colocar como mais um brinquedo para a sua coleção.
Mais uma de suas malditas vítimas...
Eu sempre tive medo de ser a próxima e cá está, a confirmação de que sou seu desejo e obsessão, sou o que ele tem raiva por motivos ocultos, o padrão que ele mata sempre que pode.
Me apaixonei pelo meu assassino.
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Meu cavaleiro sombrio (Darkstory +18)
RomanceDepois de ser casada contra sua vontade, abandonando um antigo amor, Verity se vê em um casamento difícil e anseia por libertar-se. Até que tudo muda com segredos nunca antes ditos, e o coração dela passa a estar em constante escolha. Bem? Mal? Fid...