Capítulo 14 || Me, My Crazy and I

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É assustador na hora mais escura da noite
É tarde demais para gritar, tente não piorar
É melhor se você não lutar
Todos os meus amigos tentaram me avisar
Só eu, minha loucura e eu
(Ganyos)

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Gabriel Knight é um filho da puta.

Toda essa sessão de preliminares por telefone me deixou pegando fogo e é claro que eu não consigo dormir. Vou ter que fazer o que ele queria desde o começo: me tocar e gozar pensando nele.

Depois de uns dois orgasmos que só me deixam com mais vontade de ter ele me preenchendo toda dizendo safadezas no meu ouvido, finalmente caio no sono.

Logo um sonho muito nítido começa a ser exibido em minha mente como um filme. Nele, observo com a idade que estou hoje, a Evelyn de 17 anos naquele dia e naquela hora. O momento em que tudo deu errado.

Sam está atrás de mim, arfando, com sua calça abaixada até os tornozelos enquanto estou praticamente nua, com a roupa de dormir branca toda embolada na cintura. Minhas mãos estão espalmadas na parede e as dele em meus quadris. Posso ver a trilha de sangue na parte interna da minha perna direita, já que elas ainda estão ligeiramente separadas. Tenho a testa pressionada contra o concreto e a dele descansa em meu ombro. E aí, como num longa metragem que assisti tantas vezes que já decorei as falas, meus lábios de Evelyn adulta murmuram sem som o que dizemos a seguir:

— Eu te amo. — Ouço-o falar. O alívio expresso em seu tom, como se ele tivesse segurado essas palavras por tanto tempo que finalmente declará-las fosse outro tipo de liberação.

Imediatamente abro as pálpebras e levanto a cabeça. Meu corpo está trêmulo pelo que fizemos e pelo que acabo de ouvir. Nunca ninguém havia dito essa frase dirigida à mim, nem mesmo quando eu tinha "família", mas foi ela que escutei minha mãe pronunciar, desesperada, de joelhos, diante do homem que explodiu seu cérebro com uma bala à queima roupa na frente de uma garotinha de 8 anos. O assisti dar mais dois tiros em seu peito por pura diversão e depois chutar o corpo sem vida. "Vadia", foi o que eu o ouvi sussurrar como resposta ao "eu te amo", antes de me deixar sozinha chacoalhando o cadáver ainda quente, debruçada na poça de sangue, como se pudesse fazê-lo despertar.

Meus olhos de adolescente se arregalam ainda mais com o dé jàvu. Isso não podia ter acontecido. Eu não podia ter me deixado levar. Corro o risco de ficar grávida e todos sabemos o que houve com a Brenda, nossa colega, quando descobriu estar esperando um filho: foi expulsa sem direito a nada como um cão sarnento e, carente de qualquer apoio, passou a se prostituir nas ruas, exposta a todo tipo de riscos, violências e humilhações. Sua filha recém-nascida foi acolhida pelo mesmo orfanato onde foi criada e tudo o que ela pôde fazer foi torcer para que fosse adotada para não perpetuar toda a desgraça. Não. Isso não pode acontecer comigo. Eu não vou deixar.

Me afasto rapidamente de Sam, que me olha com a expressão ainda enevoada pelo orgasmo.

— Vem cá. O que foi? — Ele pergunta, enquanto ajeito a minha roupa, usando a parte de dentro da camisola para limpar o sangue escorrido e o sêmen dele de mim.

— Você não devia ter feito isso! Que droga, Sam! Eu posso ter ficado grávida. Você sabe tudo o que vai acontecer se, se... — Tento continuar falando, mas o ar parece excessivo em meus pulmões atrapalhando tudo.

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