Tenho muitos pensamentos para te machucar
Garota, você deveria ter pensado em ir embora
As coisas mudam
Eu sei que é triste, mas é verdade
Porque eu abri meu caminho
Eu sou eu, você é você
Você pode pagar com seu amor se eu te abraçar esta noite
Mas você vai pagar com sua vida se você me deixar
Porque cada pequena coisa que você ouviu sobre mim é verdade
Sim, eu sou o diabo, amor
Não sou bom para a sua saúde
(Paycheck/Jxve)
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Sem esperar que eu dê qualquer resposta, Hunter me livra rapidamente das cordas desfazendo os nós, e segura meu pescoço me puxando com violência em direção ao quarto, numa repetição quase idêntica à da primeira vez em que o vi, quando me levou à suíte da cabana pelos cabelos. Ele fecha a porta e a tranca, retirando a chave e guardando no bolso da calça.
Isso me traz um mau pressentimento. Gosto de provocá-lo, mas não quando está nervoso de verdade; qualquer ser humano que estivesse no meu lugar também ficaria, no mínimo, tremendo de medo.
Nessa hora, de repente, meu cérebro ilumina uma memória aparentemente sem sentido: a do dia em que o orfanato onde eu vivia recebeu como doação os livros de uma pequena biblioteca que tinha fechado. Foi uma novidade e um dos poucos bons momentos que passamos ali. Nos mantivemos por uma tarde inteira, como animais selvagens, vasculhando a montanha de volumes e brigando, claro, até que escolhêssemos nossos preferidos. Acabei vencendo uma disputa e consegui um exemplar com a capa rasgada de "A Bela e A Fera". Fiquei meses obcecada com a história e inconformada com o final, quando a Fera virou príncipe outra vez; eu simplesmente não aceitava. A Bela gostava da Fera, ela nem conhecia aquele príncipe que, coincidência infeliz, se chamava Adam.
Esses pensamentos duram milésimos de segundos e logo compreendo porque surgiram — ver Hunter nesse estado me lembra a única parte em que fiquei com medo durante o livro, quando a Fera, um estranho híbrido de leão e touro, perdeu o controle e brigou com a Bela por ela ter descumprido as regras que estipulou, deixando-a apavorada. É exatamente como me sinto agora.
Tomo coragem para olhar para o seu rosto na intenção de suplicar novamente por água, porque a sede está insuportável. Faz horas que não bebo nada e, juntando isso ao efeito colateral de secura na boca causado pela injeção que Gabriel me deu e à agonia que se instala preguiçosamente em minhas veias, tudo parece uma tortura. Quando o faço, porém, sinto as pernas amolecerem e o coração quase sair pela boca. A expressão de fúria louca, quente e incontrolável em seus olhos, mata as palavras em minha língua e me leva a pensar que existem várias coisas bem piores que a morte e que talvez ele conheça e saiba infligir muitas delas.
Assim, paralisada, apenas observo O Verdugo, meu carrasco pessoal, retirar o cinto da calça.
Outra lembrança de infância toma imediatamente os meus sentidos. Dessa vez é uma imagem muito ruim, das inúmeras surras que levei de cinto por minhas transgressões lá dentro da instituição. Apanhei tanto, que por anos depois de ter saído daquele lugar, não tinha coragem de comprar esse assessório nem para mim mesma. Achei que já tinha superado o trauma, mas quando Hunter o segura na mão, me fitando com tanto ódio, percebo que não estou mais tremendo, e sim chacoalhando em desespero.
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INSANIDADE
Chick-Lit⚠️ DARK ROMANCE 🔞 || LEIA O AVISO DE GATILHOS ⚠️ Evelyn Fox é uma assistente social dedicada, ainda que atormentada por fantasmas de seu passado. Ela se esforça para levar uma vida normal, mas vê o delicado equilíbrio que conseguiu ser completament...