Capítulo 19 || Uninvited

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Você não foi convidado,
Uma infeliz surpresa.
Deve ser estranhamente excitante
Assistir o estóico se contorcer
De alguma forma deve ser animador
Observar ovelha encontrar ovelha
Mas você, você não tem permissão,
Você não foi convidado
(Alanis Morissette)

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Estou deitada sobre um dos braços de Gabriel com a cabeça em seu ombro. Minha mente se mantém deliciosamente vazia enquanto ele acaricia, distraído, o meu quadril. Ele não pergunta mais sobre a letra estampada ali e isso me traz calma. Gabriel não me pressiona, não me deixa desconfortável, se preocupa comigo e isso me faz me sentir tão bem, tão à vontade com ele.

De repente se vira de lado, começa a fazer carinho em meu rosto me olhando como se estivesse enfeitiçado e me dá um beijo suave, que me causa a imediata impressão de estar sob o efeito de algum entorpecente. Seu cheiro me deixa maluca. Gabriel se afasta um pouco e continua prestando atenção em mim.

— Céu de tempestade...

— O quê? — Pergunto.

— Seus olhos são da cor do céu que antecede uma tempestade. Eu gosto. Muito.

— De tempestades?

— E de você.

Meu coração bate disparado dentro do peito. Não era para ser assim, não era para eu estar sentindo tudo o que estou depois do que aconteceu entre nós e com suas palavras. Isso está bom demais para ser verdade e ainda temo acordar do sonho a qualquer momento. Tento disfarçar meus sentimentos.

— Também gosto dos seus. Eles são lindos, parecem o céu azul e sem nuvens do meio-dia no verão.

— Muito comum.

— Não tem nada de comum em você, Gabriel. Agora eu tenho certeza.

Ele ri.

— Ainda não acredito que você está aqui comigo, Evelyn.

— Nem eu. — Respondo e dou uma mordidinha em seu lábio. Gabriel sorri e me beija outra vez, agora de uma forma bem lenta e íntima, aquele tipo de beijo que não se dá na frente dos outros. Percebo sua mão descer e apertar a minha bunda, nos aproximando mais. Quando nossos lábios se separam, sinto-o dar mais alguns beijos no meu queixo, na mandíbula, no pescoço. Noto que ele inspira fundo, meio me cheirando, meio suspirando e então volta a olhar para o meu rosto.

— Me lembra por que precisamos esconder de todos que estamos juntos, se ambos somos solteiros, livres e desimpedidos, por favor.

— Porque meu emprego é muito importante para mim e como você trabalha comigo e existe uma regra muito clara acerca da proibição de relacionamentos entre funcionários, temos que manter tudo isso em sigilo.

— Humm, verdade.

Bem nessa hora me recordo do que descobri, que ele é voluntário ali e que não ganha um centavo com isso.

— Por que não contou que seu trabalho na Amparo Urbano é pro bono?

— Eu só não queria que ninguém pensasse que por ser voluntário eu não me dedicaria àquilo como um emprego normal, que eu faria meu trabalho como um passatempo, o que não é. Conversei com a Margareth e ela concordou em deixar esse detalhe de lado, pelo menos no início, até que todos vissem que eu realmente estou comprometido com a ONG. Ela quase acabou contando quando aconteceu tudo aquilo com Jerry, porque estava muito preocupada com o financeiro e fiz uma doação que pudesse manter as contas por alguns meses para que se planejasse caso as coisas se complicassem. Não tive como fazer muito mais porque, pela lei, se mantida majoritariamente por mais que 3 meses por uma receita proveniente de um único doador, a Amparo Urbano perderia o status de ONG e a isenção de impostos, que são bem altos.

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