Capítulo 2 || Bad Things

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Está vindo para você
Haverá coisas ruins
Haverá coisas ruins,
Vindo para você
Haverá dias ruins
Haverá dias ruins
Vindo para você
(burnboy, Brooke Williams)

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Tento gritar, mas no primeiro gemido que solto, a faca enorme é empurrada com mais pressão em minha garganta, deixando claro que se eu fizer qualquer som, morrerei em segundos.

Não imagino quem está me agarrando por trás e me arrastando meio de lado, mas, pela visão periférica consigo ver para onde — há um beco escuro à minha esquerda.

Minhas pernas amolecem, ainda que algum processo instintivo do meu corpo me faça me manter em movimento. A lógica aponta três caminhos: lutar, fugir ou me fingir de morta. Infelizmente nenhum deles parece viável ou capaz de me livrar de um destino terrível.

Quando entro no tal beco, mesmo com o terror que se apodera dos meus pensamentos, consigo me incomodar com o cheiro de lixo. Tem uma lixeira coletiva entre os dois prédios semi abandonados, que parece estar transbordando pelo odor e pelo pouco que posso ver com a parca iluminação que chega da rua.

O homem continua me puxando mais para o fundo, mais perto do fedor e longe da luz. Sim, óbvio que é um homem, enorme e muito forte, embora os sons de sua respiração pareçam mais com os de um animal. É aterrorizante.

Estou num breu quase total quando ele me encosta contra a parede fria de um dos prédios e fica na minha frente. Parece que se torna tudo ainda mais escuro, como se isso fosse possível, porque a figura diante de mim tampa qualquer claridade que reste.

O sangue martela meus ouvidos desesperadamente, mas estamos tão perto que isso não me impede de ouvir o som de sua respiração feroz.

O homem pressiona a faca com mais força em meu pescoço e agora se eu sonhar em me mexer já era. Os pensamentos giram depressa por minha cabeça como numa roleta que nunca para. Dizem que quando estamos prestes a morrer nossa vida passa como um filme. No meu caso deve ter algum imbecil com o controle na mão apertando o botão de acelerar. O suor gelado escorre por minha coluna quando o cara começa a me tocar. Sinto sua mão descer e subir pela minha cintura, levantando a blusa e, mesmo sem ver nada, fecho os olhos, desconsolada. É claro que esse filho da puta vai me estuprar antes de me matar...

Mas, pensando bem, isso pode me dar uma chance. Talvez se ele estiver distraído eu consiga a oportunidade de fugir e gritar por ajuda. É minha única esperança. Não passei por tanta coisa na vida para desistir fácil assim. Eu não sou uma vítima. Não mesmo.

Agora ele está arrastando seus dedos na carne abaixo do meu umbigo, e tento manter o sangue frio e continuar alerta, sabendo que vou precisar disso para poder escapar, mas percebo que é um toque estranho. Não parece que ele está tentando me acariciar ou me experimentar, é mais como se estivesse procurando me acalmar e isso não passa despercebido ao meu cérebro, mesmo estando perturbado pelo medo.

Não sei se ele consegue o efeito desejado, acho que não, mas, de qualquer forma, a coisa toda piora rapidamente. Ele volta com os movimentos bruscos puxando meu cabelo, me forçando para baixo, para me deitar naquele chão sujo, a faca sem se mover do lugar.

Isso é ruim demais. Não que tudo já não esteja sendo péssimo, mas estar deitada com esse infeliz em cima de mim muito provavelmente vai tornar minha fuga ainda mais difícil. Mesmo assim me forço a ter foco.

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