Capítulo 24 || Liar

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Você é tão mentirosa, querida
Você é a competição e eu sou o fogo, amor
Você sempre me diz que eu sou tão louco
Por que você continua agindo como se eu fosse burro, idiota, idiota, idiota
(Jake Daniels)

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Para que consigamos manter tudo em sigilo, combinamos que durante o resto da semana dormirei em minha própria casa e na sexta-feira irei de mala e cuia para o apartamento de Gabriel até que ele me devolva na segunda de manhã. Esse arranjo parece ideal para mim: me dá alguma segurança de não sermos descobertos, me permite ficar com minhas amigas e não me perder completamente nele como eu sinto que pode acontecer a qualquer momento, e também cria uma expectativa deliciosa para o tempo que passaremos juntos. Não vou morrer de saudades porque o vejo todos os dias, e os beijos, apertões e passadas de mão roubados ao longo do expediente me lembram de como o que estamos fazendo é proibido e me deixam muito excitada. À noite ficamos conversando sobre tudo por telefone, inclusive aquele monte de sacanagens que eu adoro. Vamos dizer que agora que nos conhecemos intimamente, nosso repertório ficou bem mais vasto.

É como se ele fosse o meu novo melhor amigo, misturado com o cara mais delicioso e safado que já tive e com algum familiar mais velho que cuida e se preocupa comigo. É perfeito.

***

Na quarta-feira, Margareth me chama em sua sala logo cedo. Desde o incidente terrível com Jerry, ela tem vindo por meio período às quartas também para organizar as coisas.

Assim que entro, meu estômago congela. Gabriel está lá, de pé, com as mãos nos bolsos, parecendo apreensivo. Tento não olhar para ele para não demonstrar alguma coisa que nos denuncie e, principalmente, porque sinto que se o fizer não vou resistir a abraçá-lo para que ele diga em meu ouvido que vai ficar tudo bem. Só no meio dessa situação é que percebo como me tornei completamente dependente dele em momentos de crise. Rápido demais.

Tudo o que consigo pensar é que Margareth descobriu sobre nós e que vai nos demitir. Minhas mãos estão suadas e tento enxugá-las discretamente na calça, já me preparando para implorar. Ela não pode me mandar embora, não imagino a minha vida sem esse trabalho, faço qualquer coisa para permanecer aqui.

Estou tão nervosa que quando ela começa a falar, tenho um sobressalto de susto e consigo perceber um micro movimento vindo de Gabriel, como se ele fosse me amparar. Quando me dou conta disso, meu coração se derrete. Nossos corpos já respondem um ao outro automaticamente, antes mesmo que o cérebro perceba que é errado. Mesmo com a perspectiva de ir para o olho da rua, não consigo me arrepender nem um pouco de ter ficado com ele. Gabriel é, junto com meu trabalho, a melhor coisa que já me aconteceu na vida.

— Bom, fiz questão de chamar os dois juntos porque diante do que vou dizer não faz sentido algum falar separadamente.

Começo a tremer. Ela vai mesmo nos mandar embora. Não consigo acreditar. Espio furtivamente o homem ao meu lado e percebo sua mandíbula travada. Ele também está preocupado. Merda. Sei que esse trabalho é importante para ele como sempre fez questão de frisar, mas também sei que sua apreensão não é por ele e sim por mim. Porque ele não quer me prejudicar. Já estou me conformando que vou passar o dia todo chorando nos braços dele, quando ela continua.

— Quero parabenizá-los.

Sem conseguir evitar, nos entreolhamos e Gabriel parece estar tão confuso quanto eu.

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