Capítulo 37 || AMERICAN HORROR SHOW

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Monstro
Sou um monstro frio como pedra
Eu poderia ser sua monstrinha
Sou um monstro frio como pedra
Eu poderia ser sua pequena
Beijo doidos que me tratam como um animal
Fodem comigo e me devoram como um canibal
(Snow Wife)

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— Gabriel! Me solta! Tá machucando de verdade! — Grito, enquanto ele continua a me arrastar para um quarto e me joga na cama que tem lá.

Viro de barriga para cima e o observo lamber meu corpo todo com seu olhar de fogo. Sua respiração está pesada e ele parece impressionante, como se de repente seus músculos se tornassem ainda maiores. Não tem praticamente nada do meu marido ali. A postura, a voz, as expressões do rosto são de um desconhecido, uma figura completamente assustadora.

Olho para a porta por alguns segundos, sondando se ainda teria condições de fugir, mas ele me flagra e, antecipando minha intenção, sorri para mim e faz um movimento de cabeça como quem diz: "vai, tenta a sorte".

Fico tão sem fôlego que acho que nem se não tivesse nada me impedindo eu conseguiria dar os poucos passos para chegar lá agora. Porra, parece que estou numa bad trip de ácido e não faço a menor ideia de como sair dessa merda.

Depois de tomar seu tempo me olhando, ele abre o armário embutido do quarto e desenrola um pano que pega ali, de onde tira duas facas menores que a que foi usada para decapitar Hank. Ele as analisa, sentindo seu peso nas mãos, e então se volta para mim. Seu semblante de loucura total me aterroriza. A cada passo que dá para perto, percebo o corpo amolecer e o coração acelerar. Acho que meu cérebro já se deu conta que é inútil enviar sangue para as pernas; eu não vou mesmo correr.

As memórias do dia em que fui atacada retornam de uma vez como uma enxurrada e reconheço todos os trejeitos do homem que me marcou. Eu nem imaginava como os tinha gravado tão perfeitamente. A lembrança desperta meu corpo todo e sinto raiva de mim mesma por estar com medo dele, assim, postado à minha frente como um maldito maníaco de filme de terror, empunhando uma faca em cada mão —  e ao mesmo tempo com tanto tesão.

"Será que ele acha que você tinha um caso com Hawthorne e vai te matar também?"

Essa possibilidade não havia me ocorrido antes. Será que Gabriel me mataria? Talvez não, mas esse outro... Hunter... Parece ser capaz de tudo. É como se fosse alguém absolutamente diferente no mesmo corpo, uma transformação chocante que ainda estou tendo bastante dificuldade em assimilar.

Ele chega bem próximo e penso em me afastar, mas quem diz que tenho forças? Dessa forma, só fico assistindo e tentando fingir que não é comigo, quando ele deixa uma das facas sobre a cama e usa a outra para cortar as laterais da minha calcinha e a cinta liga. Faço um último esforço para trazer meu marido de volta, como se ao dizer seu nome, pudesse invocá-lo.

— Gabriel...

— Me chame pelo meu nome, puta.

Sua voz de trovão rasgado faz todo o meu corpo se arrepiar, eriçando até os pêlos que não tenho. Ainda assim continuo com muita raiva e não só de mim, mas dele também; por não ser Gabriel, por estar me assustando, por me chamar de puta. Quem esse desgraçado está pensando que é?

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