Capítulo 21 || Did It Hurt?

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Doeu quando você caiu do céu, só pra mim?
Pare em seu caminho pro inferno e me dê o que eu preciso
Porque você é o diabo que eu desejo
O que é o amor sem um pouco de ódio?
O que é o prazer sem dor?
Doeu quando você caiu do céu, só pra mim?
(Ellise)

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— Certo. Eu contei para você que meu pai tem muito dinheiro, lembra? E vamos dizer que para conseguir a fortuna que foi herdada pelos filhos, meu avô esteve envolvido, no início, em algumas atividades ilícitas. É claro que isso lhe gerou inimigos e ele precisava andar rodeado por seguranças para salvaguardar a própria vida. Depois de uma certa idade, ele se tornou cada vez mais recluso, o que dificultava os planos dos caras que queriam matá-lo. Assim, eles se voltaram para seus filhos, que tiveram que reforçar a própria segurança.

— Meus pais eram casados havia pouco tempo e minha mãe já estava grávida de mim quando eles foram atacados. Durante uma viagem, um carro os encurralou e aos funcionários que faziam sua escolta e se iniciou uma intensa troca de tiros. Minha mãe conseguiu sair do carro com a ajuda de um dos guarda-costas, mas deu de cara com um atirador que descarregou a arma sem pensar duas vezes, só que ao invés de atingi-la, alvejou o segurança que estava com ela, que se colocou à sua frente. Ele conseguiu matar o atirador antes de cair sem vida no chão.

— A polícia chegou rápido e os bandidos que não foram mortos, foram presos em flagrante, mas minha mãe nunca se esqueceu do homem que deu sua vida para salvar a ela e a mim. Tom Hawthorne era recém-contratado, o mais jovem dos seguranças, casado e pai de um menino de pouco mais de um ano. Após o ocorrido, como forma de gratidão, meus pais ampararam a viúva e se ofereceram para pagar os estudos de Hank até a faculdade. O garoto passou a viver mais na minha casa do que na sua própria, éramos melhores amigos desde o berço, mas ao contrário do pai, ele sempre teve uma personalidade arredia e difícil de lidar. Para mim isso não importava, estava acostumado com seu jeito de ser, mas para a escola sim. Quando adolescente acabou expulso de várias até finalmente abandonar os estudos de vez.

— Hank era o típico garoto-problema: fugia de casa, sumia, arrumava confusão em todos os lugares e enlouquecia sua mãe e aos meus pais de preocupação; lembro de diversas vezes ser chamado para participar de "intervenções" para ajudar em alguma situação específica, porque na adolescência eu era um dos únicos a quem ele ainda ouvia, mas o fato é que eu também não sabia muito o que fazer e já naquela época achava que por melhores que fossem as intenções, isso nunca resolvia nada.

— Ele teve um golpe de sorte depois de começar uma briga num bar, porque um pugilista que, por coincidência, estava lá, achou que havia potencial ali e o convidou para treinar boxe em sua academia. Imagino que Hank ficou impressionado com a confiança do cara e por isso acabou indo. Em pouco tempo se tornou um fenômeno, uma grande promessa para o futuro e alguns especialistas já previam que ele seria o mais jovem ganhador do cinturão dos pesos pesados. Ele pareceu ter encontrado algo que realmente gostava de fazer e seu gênio intratável foi melhorando à medida que descontava seus problemas de raiva no esporte.

— Hawthorne era bom, Evelyn, mas acabou sofrendo uma lesão séria nos ligamentos do pulso e precisou passar por cirurgia. A operação teve complicações e, para não te cansar com termos médicos, vou dizer que ele quase perdeu a mão. Apesar de isso não ter acontecido, como resultado, nunca mais pôde lutar profissionalmente, uma vez que a força de sua mão dominante jamais seria mesma. A recuperação dele foi considerada milagrosa e minha família tentou fazê-lo ver o presente que tinha recebido procurando incentivá-lo a praticar outros esportes, ainda que ele só pudesse fazer isso de forma amadora, mas não foi suficiente.

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