Capítulo 45 || Bad Romance

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Eu quero o seu drama, o toque da sua mão
Eu quero o seu beijo agressivo e delicado
Eu quero o seu amor
Amor, amor, amor, eu quero o seu amor
Você sabe que eu quero você
E você sabe que preciso de você
Eu quero tanto
Seu romance ruim
Eu quero o seu amor e eu quero sua vingança
Você e eu poderíamos escrever um romance ruim
(Lady Gaga)

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Abro os olhos notando estar, mais uma vez, amarrada por cordas, no chão da cabana, nossa casinha de campo assombrada, lar de dores e delícias e imagino que o que está reservado para mim hoje envolva muito mais das primeiras e bem menos das segundas. Parece um déjà vu, porque as partes do meu corpo que foram imobilizadas são exatamente as mesmas que da última vez em que estive aqui. Gabriel se encontra sentado numa cadeira bem na minha frente com uma das pernas dobradas, o tornozelo sobre o joelho, os cotovelos sobre essa perna e as mãos unidas na boca, olhando para mim no que parece ser uma posição pensativa. Sem qualquer preâmbulo, ele expõe o que se passa em sua cabeça.

— Você me ama, Evelyn? Quero dizer, você me ama de verdade? A mim e a tudo o que sou?

— Sim. — Minha voz sai fraca por causa da tensão e da garganta que está ressecada, provavelmente resultado do medo e do calmante que foi injetado para me apagar. Estou preocupada por ele estar desse jeito, mantendo uma impetuosidade alucinada borbulhando sob a pele, mesmo com a aparente calmaria na superfície, e não aprovo nem de longe o que fez nas últimas 24 horas, mas isso não altera em nada o fato de que ele é o meu amor, o verdadeiro e único.

— Então por que, razão da minha vida, você tentou escapar de mim? — Ao fazer a pergunta, ele aproxima o rosto do meu e percebo que suas pupilas estão dilatadas e seus olhos agitados, se mexendo erraticamente como se ele estivesse sofrendo os efeitos de alguma substância estimulante, mas eu sei que não é isso. Essa reação é resultado da minha ausência. Ele estava sem mim, o seu vício, a sua heroína, e agora a pegou de volta.

— P-porque eu queria que você visse que não aprovei a sua atitude; disse que não mataria Adam e, dias depois, ele foi encontrado com um cinto no pescoço.

— E você está triste por isso a ponto de fazer o que fez? É por que não gosta de cintos ou por acaso está sentindo falta do seu amiguinho?

Mexo a cabeça de um lado ao outro, demonstrando que não. Ele está entendendo tudo errado.

— Eu tive muita paciência com aquele infeliz... Permiti que estivesse em nosso noivado, em nosso casamento, na primeira recepção na nossa residência, tudo porque você insistia em agradar à sua amiga que não queria enxergar a realidade. Mas... Paciência é uma coisa que uma hora acaba e, no meu caso, acabou no mesmo momento em que tive que ouvir outro homem dizer, dentro da nossa casa, que queria a minha mulher sentada no pau dele. Meu único arrependimento nessa situação foi ter decidido simular um suicídio e assim não ter podido torturar aquele desgraçado tanto quanto gostaria.

— Você o torturou?

— Está aflita se perguntando se ele sofreu? — Um brilho de raiva incandescente ilumina seus olhos. — Não precisa ter dúvidas a respeito disso. Pode ter certeza. Ele sofreu. Bastante, mas muito menos do que merecia. Depois de pendurá-lo, encontrei uma cadeira com a altura ideal. Ficava o observando, vendo o terror e o desespero tomarem sua expressão e então dizia que ia ajudá-lo e colocava a cadeira sob seus pés. Assim que ele se firmava e tinha esperanças, eu a retirava novamente. De novo e de novo, repetidas vezes, fazendo promessas que nunca ia cumprir, analisando seus sinais vitais para esperar o momento certo de colocar a cadeira, nunca antes de que estivesse a um triz do fim. Até quando, enfim, a coloquei e suas pernas permaneceram moles; ele não tentou mais se salvar, porque estava morto. Eu sabia é óbvio, mas queria ver a cena.

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