Capítulo 30 || Coraline

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Eu serei o fogo e o frio
Abrigo do inverno
Eu serei o que você respira
Entenderei o que você é por dentro
E eu serei a água para beber
Serei o significado de bom
Eu também serei um soldado
Ou a luz da noite
E em troca não peço nada
Só um sorriso
Cada pequena lágrima sua, é um oceano no meu rosto
E em troca não peço nada
Apenas um pouco de tempo
Serei suporte, escudo
Ou sua espada de prata
Coraline chora
Coraline tem ansiedade
Coraline quer o mar mas tem medo de água
E talvez o mar esteja dentro dela
(Måneskin)

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— Ai, para, isso faz cócegas, Gabriel — Rio, enquanto ele beija a minha barriga nua.

— Mas te faz sorrir. — Observo-o levantar o rosto, ficando rapidamente sério, depois de se deparar com a cicatriz em minha pele.

— Não vai mesmo me contar o que é esse H aqui? — Meu namorado pergunta, passando os dedos sobre as linhas que formam um leve relevo, e eu estremeço. — Parece ter sido feito com algum objeto perfurocortante como um canivete ou uma faca...

— Eu não quero falar sobre isso. Por favor.

— Você tem que me dar alguma coisa, Evelyn. Vive dizendo que é minha, mas só me dá seu corpo. Já falei que te quero inteira.

— Aonde está pretendendo chegar com isso?

— Em você. Quero saber sobre a sua vida, sua família. Você nunca me falou nada sobre ninguém do passado.

— É que esse é um assunto difícil.

— Você ainda não confia em mim?

— Claro que confio, é só que...

— Só que?

— Tá bom.

— Tá bom?

— Vou tentar...

— Tudo bem. No seu tempo.

— Eu... Eu estive num orfanato desde os 8 anos. Fui criada numa instituição para crianças rejeitadas, abandonadas ou que simplesmente não tinham para onde ir.

As sobrancelhas de Gabriel se levantam, mas ele não fala nada, esperando que eu prossiga.

— Antes vivíamos só eu e minha mãe. Lembro vagamente de ela comentar que meu pai havia morrido num acidente de moto quando eu era pequena. Pelo que sabia, ela não possuía família, ao menos eu jamais conheci nenhum outro parente. Então um dia ela apareceu com um cara. Ela já tinha levado "amigos" para casa, mas nenhum que ficasse tanto tempo quanto esse.

— Era um namorado ou um amante?

— Não tenho certeza, mas acho que o cara era casado ou tinha um relacionamento; provavelmente ela era a outra. De qualquer maneira, ele mal falava comigo, e a relação deles era conturbada, havia muitos gritos, palavrões, choro. Minha mãe era bonita, mas foi definhando dia após dia a olhos vistos, até que tudo aconteceu. — Respiro fundo. Gabriel, agora deitado de lado de frente para mim, acaricia as minhas costas para me encorajar. Abro a boca para começar a falar, mas as palavras não saem.

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