Capítulo 41 || Helium

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Eu nunca quis precisar de alguém
Sim, eu quis bancar a durona
Pensei que pudesse fazer tudo sozinha
Mas até mesmo a Super-Mulher
Às vezes precisou da alma do Super-Homem
(Sia)

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Estou nervosa acompanhando a TV local e alguns sites para saber se vai sair alguma notícia sobre o homem que Hunter matou, mas não há nada. Gabriel me disse para ficar tranquila, que ele resolveu tudo, mas ainda tenho medo. Relembro o que aconteceu ontem, quando fiquei esperando escondida no lugar onde transamos, enquanto o assassino desovava o corpo — e a cabeça — no mar.

— Putinha teimosa e desobediente, um trabalho do caralho encher o filho de cachorra de pedras para ele não boiar. Vê se dá próxima vez fica quieta no lugar.

— E o sangue no chão, Hunt?

— O que tem?

— Vão descobrir que alguém morreu ali, fazer DNA, ver quem era, e então vão chegar até nós.

Ele riu. Um som áspero e cruel. Senti meu sexo formigar na hora. Nunca tinha ouvido sua risada, mas minha nossa, que homem gostoso.

— Isso aqui não é filme, e a polícia desse lugar vai estar se fodendo para um pouco de sangue no chão. Essa ilha vive lotada de turistas. Pode ser qualquer coisa. Sem corpo, sem crime.

Hunter me arrastou pela mão de volta para o hotel, que ficava próximo, mas ao invés de entrarmos pela frente, demos toda a volta até encontrar um alçapão. Ele o destrancou e vi que dava para escadas de pedra que desciam. Passamos por algumas galerias escuras até encontrar outras escadas, essas que subiam e por fim saímos num porão. De lá subimos mais escadas e voltamos furtivamente, com Hunter evitando as câmeras que de forma bastante suspeita ele sabia muito bem onde ficavam. Enfim chegamos ao apartamento onde estamos hospedados sem sermos vistos.

A primeira coisa que notei foram as bandejas com comida. Não tinha entendido porque Gabriel havia pedido comida no quarto, sendo que sairíamos justamente para jantar, mas ele disse que depois explicava. Partimos com ele falando para os recepcionistas, com quem logo fez amizade, sempre muito simpático, que só iríamos tirar algumas fotos no jardim, mas que retornaríamos rápido para comer no apartamento e descansar antes de nossa viagem de volta. Temos uma entrada privativa e ali não há câmeras, então provavelmente, o pessoal do hotel deduziu que passaríamos por lá. Mais uma vez não entendi nada, mas de repente tudo se encaixou.

— Gabriel já sabia o que ia acontecer, não é?

— Se eu sabia?

Vi que era Gabriel e não mais Hunter que estava comigo.

Fui até ele e o abracei.

— Nunca mais faça isso, está me ouvindo, Evelyn? O que te deu na cabeça para ir atrás daquele cara? Tudo o que tinha na sua bolsa eu compraria novamente mil vezes para você, não tem nada que justifique o que fez.

— Me desculpa, amor. Agi sem pensar. Prometo que não vou fazer mais. — Falei manhosa e ele amoleceu um pouco.

— Agora, respondendo à sua pergunta... Hunter estava impaciente, "com saudades", mas eu não queria que ele aparecesse durante a nossa viagem causando transtornos, ainda que soubesse que isso poderia acontecer. Então, por precaução, percebendo que ele estava no limite, deixei tudo arranjado para não sermos considerados suspeitos do que quer que ele acabasse fazendo, porque onde tem Hunter, tem morte. Acredite, as pessoas daqui não reparam em turistas, para elas, são todos iguais. Ninguém vai se lembrar de nós naquela rua onde você dançou. Estamos seguros, mas se algo desse errado, sempre haveria o dinheiro para resolver tudo.

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