Capítulo 43 || LOSER

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Tentamos ser amigos
Então você me queimou e chamou isso de ajuda
Eu preciso de você
Quase tanto quanto preciso de um buraco na minha cabeça
Por favor desista de mim
Desista de mim
(NEONI)

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— Está reto, Becca? — Pergunto à ela, que se mantém recostada no sofá da minha sala nova.

— Um pouquinho mais pra cima, Eve. — Minha amiga responde e ergo a faixa que diz: "OPEN HOUSE DOS KNIGHT".

Nós poderíamos estar preparando um negócio chique e ter contratado profissionais, mas fiz questão de uma festa caseira e intimista para a inauguração do nosso cantinho dos sonhos. Apesar de usufruir de todo o conforto que a situação financeira do meu marido proporciona, quero manter minhas raízes de uma vida mais simples. Assim, somos nós mesmos que estamos arrumando tudo. Chamamos apenas um bartender para fazer coquetéis especiais e um churrasqueiro, porque afortunadamente todos nessa casa são carnívoros e o namorado vegano de Isla que lute.

— Agora está perfeito. — Rebecca anuncia com um jóia, alisando sua barriga, quando desço da escada para conferir.

***

Duas horas mais tarde, nosso evento rola à todo o vapor com a casa cheia: os irmãos, primos e alguns amigos do meu marido vieram, mas seus pais, que estão viajando, não puderam comparecer. Gabriel me contou que seu pai está praticamente se aposentando e ele e a esposa gostam de usar o tempo livre para turistar por aí. Almoçamos com eles logo que chegamos da lua de mel e meu sogro pareceu levemente surpreso por eu estar ótima. Acho que aos poucos vai perceber que eu vou ficar bem e ele continuará sendo o patriarca de uma família de capa de revista e vida irrepreensível.

Além deles, o pessoal da ONG, com exceção de Patrick, está todo aqui, assim como Isla e Stefano e Becca e Adam, que, infelizmente fui obrigada a convidar. Gabriel e eu tivemos uma pequena discussão sobre isso porque ele não queria de jeito nenhum o namorado de Becca na nossa casa e, para ser sincera, nem eu queria, mas não gostaria de estressar minha amiga com dramas desnecessários agora que ela está prestes a parir, então tive que chamá-lo.

Num determinado momento, estamos conversando com os parentes do meu marido e eles mencionam, enquanto apreciam as maravilhas produzidas pelo churrasqueiro, a ausência de Hank ali. Fico gelada na hora, mas Gabriel ao meu lado é a cara da tranquilidade. Eu ainda continuo me chocando com como ele é bom ator, demonstrando uma preocupação comovente.

— Hank é assim, de tempos em tempos ele some, não há o que fazer. — Comenta Sarah.

— Mas nós não deveríamos tentar procurar por ele? Quer dizer, ele abandonou o emprego e eu vinha o achando um pouco deprimido ultimamente, isso é alarmante... — Gabriel pontua e eu só não acredito que está genuinamente preocupado com o paradeiro do irmão porque o assisti se deleitar o assassinando diante dos meus olhos.

— Você sabe que não adianta. Quando está assim, ele não quer que ninguém vá atrás. Com certeza vai encher a cara de cocaína e whisky barato por meses e voltar arrependido como sempre faz. — David opina.

— E você fica bem com isso? Hank pode sofrer uma overdose numa dessas e quem iria socorrer? — Meu marido insiste, aflição estampada em seus olhos. Tragam um Oscar para este homem, por favor.

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