Capítulo 15 || Wicked Game

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Que jogo cruel de se jogar
Fazer eu me sentir assim
Que coisa cruel de se fazer
Me deixar sonhar com você
Que coisa cruel de se dizer
Que você nunca se sentiu assim
Que coisa cruel de se fazer
(Ursine Vulpine, Annaca)

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Na segunda-feira, assim que vejo o médico que atormenta meus pensamentos, sossegado, batendo papo com Margareth na copa, tenho que usar toda a minha força de vontade para me controlar. Meu corpo implora por ele. Agora que estou de novo na sua frente, vendo sua boca se mover enquanto ele fala, me lembro dele no telefone pedindo para beijar meus seios. Inconscientemente meu tronco se empina, ignorando completamente o fato de que deveríamos nos tratar como amigos como eu tanto insisti que queria.

"Tudo bem, Evelyn, assim que desistir ninguém vai poder dizer que você não tentou".

É, estou tentando.

Logo Margareth nota a minha presença. É lógico que Gabriel já tinha percebido que eu estava ali, mas me ignora de propósito, claramente para não demonstrar intimidade comigo.

— Bom dia, Evelyn, como foi o seu fim de semana? — Ela pergunta.

— Foi bom, obrigada, e o seu?

— De muito trabalho. Tenho levado afazeres para casa e nem aos domingos consigo descansar.

Margareth não para. Além de ser diretora da nossa ONG, também coordena uma casa de recuperação para usuários de entorpecentes, essa pertencente à prefeitura.

— É uma pena que não possa aproveitar sequer uma folga, Margareth.

— Não tem problema. Como sabe, não tenho marido nem filhos, então trabalhar acaba sendo uma ocupação interessante, mesmo aos fins de semana.

Deus me livre, penso, chegar aos cinquenta preferindo trabalhar a curtir o fim de semana com a família ou amigos.

Para forjar uma naturalidade, cumprimento Gabriel, fingindo que só o vi agora.

— Bom dia, doutor Gabriel.

Ele me olha com cara de quem vai aprontar, e sinto a barriga gelar de preocupação, mas também com uma pontinha de curiosidade.

— Bom dia, Evelyn. Ouvi você dizer que seu fim de semana foi bom. O que você fez? — Ele questiona, sem conseguir disfarçar um tom muito sutil de diversão na voz.

Fico nervosa na hora.

— Ah, eu, eu saí para almoçar no sábado e para correr no domingo... — Resumo, esperando que ele pare por aí.

— Nada no sábado à noite?

Pronto. Ele conseguiu o que queria. Meu rosto está queimando.

"Talvez se você parasse de pensar nele falando que iria apertar a sua bunda e te esfregar no pau dele ajudaria".

Sim, claro que sim — se eu conseguisse fazer isso.

— E então? — Ele insiste.

Como não confio em mim mesma para responder nada, ele se volta para Margareth.

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