Capítulo 5 || Ghost In My Mind

173 21 31
                                    

Você a quer, vá em frente
Espero que ela seja tudo o que você deseja
Você foi avisado, sem arrependimentos
Espero que esteja frio no túmulo que você está
cavando
(REBENN, Ellae)

*************************

Estou me sentindo gelada de repente e a bebida doce ficou amarga em minha boca. Chego no caixa me esforçando para não olhar para trás.

— Moça? Moça? — Percebo que a atendente está me chamando.

— Oi.

— Dinheiro ou cartão? Você está bem? Perguntei três vezes já.

— S-sim. Estou bem, desculpa. É cartão.

Assim que saio com as sacolas na mão vejo que não vou aguentar. Preciso olhar. Respiro fundo e reúno toda a minha coragem. Olho para trás.

Nada.

"Vai acabar enlouquecendo se deixar isso te afetar. Você foi atacada por algum maníaco. Ok. Devem ter muitos nessa cidade violenta. Mesmo assim, recebeu a dádiva de sair viva e praticamente ilesa e tudo o que faz é se torturar com medos infundados. Se o tal homem quisesse fazer algo com você já teria feito, não iria ficar te perseguindo depois."

Eu sei, cacete, mas então por que eu tenho essa sensação o tempo todo?

"É coisa da sua cabeça..."

Você está na minha cabeça, droga, resolve essa merda.

"Até parece."

Filha da puta.

— Aaaai! — Dou um berro quando alguém esbarra em mim. — Ei, olha por onde anda!

— Que é isso garota, mal encostei em você.

— Vai se ferrar.

— Louca, mal-criada. — A mulher de meia-idade vocifera e passa por mim resmungando.

Saio andando meio desnorteada sem saber bem o que fazer, até que avisto um táxi e faço sinal para ele parar. Que alívio, está vazio.

Sento com as compras no banco traseiro procurando me acalmar. Estou tremendo. O motorista tenta puxar assunto, mas me encontro sem condições no momento e apenas o ignoro. Ele deve imaginar que sou uma esnobe insuportável agora.

"Que bela conduta. Digna de uma assistente social. Parabéns."

Me faz um favor? Vai se foder.

O taxista me cobrou bandeira dois e eu nem reclamei. É o mínimo que uma péssima passageira como eu merece.

Entro na casa e me lembro que estarei sozinha por um tempo. Rebecca ainda está na pós-graduação e Isla vai fotografar um ensaio noturno. Elas vão chegar mortas de fome.

Como um robô, descasco e pico os legumes, mas minha cabeça está longe. Tempero o peixe e os acompanhamentos, faço o embrulho com papel alumínio e coloco tudo no forno. Enquanto a comida assa, tenho tempo para tomar banho direito e lavar o cabelo sujo depois dos exercícios de hoje mais cedo.

Debaixo do chuveiro deixo a água correr por meu corpo evitando de propósito olhar a área da marca. E então eu o ouço.

"Me deixa vir, Lylyn, eu sei que está com saudades..."

INSANIDADE Onde histórias criam vida. Descubra agora