Amores de Elite

CAPÍTULO 36

"Mas é a dor mais doce queimando em minhas veias. O amor é uma tortura, o que me dá mais certeza de que só o amor pode machucar desse jeito." - Paloma Faith

ROBERTO

Eu me sentei no chão, minhas pernas cruzadas como um buda. A entidade em minha frente deu uma tragada firme no charuto, a ponta ficando vermelha pela brasa acesa. A fumaça foi solta perto do meu rosto, enquanto ele e eu nos encaramos.

— O que o senhor quer aqui? — ele me encarou sério

— Entender. — murmuro — Porque foi aqui que me disseram que eu ia perder o que não sabia que tinha.

— Um filho por um filho. — ele murmura a frase que ecoa na minha cabeça — Eu fiquei sabendo.

— Por que?

— Porque precisava ser.

— E por que? — insisto

— Porque ainda não era a hora certa.

— Então por que estava lá? — pergunto irritado — Se não era a hora certa pra nós dois, então por que ela engravidou?

— Porque o senhor se atirou na tempestade e esqueceu do guarda-chuva. — ele responde sério — Quem tá na chuva, se molha. O senhor e ela ainda têm muito o que aprender.

— Aprender sobre o que?

— Sobre a vida. — ele continua — O senhor tá achando que pode decidir tudo por conta própria, moço? Decidiu que era ela e foi pra cima, cercou até conseguir. Depois descobriu que não aguentaria vê-la com mais ninguém, então decidiu que os dois deveriam ficar juntos. Agora decidiu que vão casar e ter menino. É o senhor que decide isso tudo, filho?

— Eu não decidi. — franzo o cenho — Ela sempre teve a opção de negar.

— E o senhor deixou ela saber que tinha essa opção?

Eu me calo. Porra, será que eu estava tão cego de amor e desejo, que me esqueci de levar em conta os sentimentos dela? Não! Eu não podia ser igual aos caras que eu tanto julgava. Ao Cristiano que não sabe ouvir uma resposta negativa. Eu dei a ela a chance de me deixar, caso quisesse, certo? Eu não forcei a barra.

Ou será que forcei?

— Não vou dizer pro senhor que ela não queria, porque ela queria. — ele me conforta — Queria e ainda quer. Mas o senhor não acha que também precisa abrir mão desse controle, não?

— Eu só quero que ela saiba que eu não sou como os outros. — me defendo — Que ela saiba que, comigo, pode descansar tranquila, porque eu sempre vou estar do lado dela. O senhor sabe que ela está sempre no controle.

— Dois controladores juntos. — ele abre um sorriso um tanto quanto medonho — O Pai Maior tem dessas coisas.

Compreendo que ele estava falando de Deus. Deus tem mesmo mania de pregar esse tipo de peças. Eu passei os últimos meses focado em aliviar a barra dela, mas esqueci de aliviar a minha. Eu também tenho muito o que aprender com ela. Sua força de vontade, sua determinação, seu caráter.

— O senhor tem que parar de tentar ser o salvador da vida dela. — ele continua — Ela é a heroína da própria história.

Essas palavras ecoam na minha cabeça e eu não consigo evitar um compilado de vez que vi Elisabetta partir pra ação. Quando me desobedeceu e subiu o morro atrás de mim, quando bateu de frente com o traficante que a reconheceu, quando tirou meu filho do perigo e se colocou lá por ele.